Um livro para a estante
O «Público» deu à estampa uma versão revista e ampliada do chamado «Livro de Estilo». Pela módica quantia de nove euros o país pode compartilhar daquilo que o próprio jornal pela voz do seu director apresenta como um contributo «para elevar os padrões da comunicação social portuguesa.»
Louva-se a intenção mas regista-se a incoerência. Entre os objectivos proclamados no prefácio e a prática do jornal abre-se um abismo. Poder-se-á sempre, é certo, alimentar a esperança de esperar que agora, com edição revista do primeiro livro lá da casa, os princípios e critérios enunciados por aquele conheçam, quinze anos depois, alguma aplicação que se aproxime do que ele versa.
Acreditar nisso é como acreditar em milagres. Por mais sistematização de princípios que regulem a actividade dos profissionais de informação, e por mais sério que seja o trabalho de alguns deles, resta sempre a omnipresente autoridade editorial para pôr na boa ordem dos interesses dominantes o que se escreve, titula ou apresenta. E a pouca esperança que se alimentasse, caso déssemos de barato a relação incontornável entre os detentores do poder económico que suportam o Jornal e os condicionamentos a uma informação isenta e plural, rapidamente se esvairia olhando para o que a casa gasta.
Pelo que em matéria de uso de fontes anónimas, por mais que sejam as profissões de fé presentes no livro o que todos os dias se vê naquele jornal é o inverso do que proclama. Para não usar exemplos que podem ser lidos como defesa de interesses em casa própria, registe-se o recente e exuberante caso de manipulação com a atribuição a Cavaco Silva da intenção de apoiar o PS e a sua maioria absoluta. Sem dúvida que é comovente a disposição no sentido da recusa, pelos jornalistas, de ofertas superiores a sessenta Euros em nome da salvaguarda plena de independência, embora mais tranquilos ficássemos se o Livro passasse a ser condição bastante para pôr fim a actos de censura, de que foi exemplo o corte, por determinação do director do jornal, de uma noticia que punha em causa a ministra das Finanças e que motivou a demissão do conselho de redacção.
Ainda que enternecidos pela reiterada boa intenção, presente no Livro, de «contribuir para uma elevação dos padrões de referência de todo o pequeno mundo da comunicação», não vislumbramos aí qualquer réstia de possibilidade de passarmos a ver o PCP tratado com isenção e verdade, sem manipulações e falsificações. Não é má vontade, mas sim uma avaliação de classe.
Fique pelo menos o consolo de que o Livro contribua, pelos anexos que o integram, para um melhor uso da gramática, para uma mais rigorosa conversão métrica ou para uma mais precisa medição de distâncias entre cidades. Pelo menos por isso haverá razões para, de vez em quando, alguém lá do Jornal o retirar da estante.
Louva-se a intenção mas regista-se a incoerência. Entre os objectivos proclamados no prefácio e a prática do jornal abre-se um abismo. Poder-se-á sempre, é certo, alimentar a esperança de esperar que agora, com edição revista do primeiro livro lá da casa, os princípios e critérios enunciados por aquele conheçam, quinze anos depois, alguma aplicação que se aproxime do que ele versa.
Acreditar nisso é como acreditar em milagres. Por mais sistematização de princípios que regulem a actividade dos profissionais de informação, e por mais sério que seja o trabalho de alguns deles, resta sempre a omnipresente autoridade editorial para pôr na boa ordem dos interesses dominantes o que se escreve, titula ou apresenta. E a pouca esperança que se alimentasse, caso déssemos de barato a relação incontornável entre os detentores do poder económico que suportam o Jornal e os condicionamentos a uma informação isenta e plural, rapidamente se esvairia olhando para o que a casa gasta.
Pelo que em matéria de uso de fontes anónimas, por mais que sejam as profissões de fé presentes no livro o que todos os dias se vê naquele jornal é o inverso do que proclama. Para não usar exemplos que podem ser lidos como defesa de interesses em casa própria, registe-se o recente e exuberante caso de manipulação com a atribuição a Cavaco Silva da intenção de apoiar o PS e a sua maioria absoluta. Sem dúvida que é comovente a disposição no sentido da recusa, pelos jornalistas, de ofertas superiores a sessenta Euros em nome da salvaguarda plena de independência, embora mais tranquilos ficássemos se o Livro passasse a ser condição bastante para pôr fim a actos de censura, de que foi exemplo o corte, por determinação do director do jornal, de uma noticia que punha em causa a ministra das Finanças e que motivou a demissão do conselho de redacção.
Ainda que enternecidos pela reiterada boa intenção, presente no Livro, de «contribuir para uma elevação dos padrões de referência de todo o pequeno mundo da comunicação», não vislumbramos aí qualquer réstia de possibilidade de passarmos a ver o PCP tratado com isenção e verdade, sem manipulações e falsificações. Não é má vontade, mas sim uma avaliação de classe.
Fique pelo menos o consolo de que o Livro contribua, pelos anexos que o integram, para um melhor uso da gramática, para uma mais rigorosa conversão métrica ou para uma mais precisa medição de distâncias entre cidades. Pelo menos por isso haverá razões para, de vez em quando, alguém lá do Jornal o retirar da estante.