O País precisa de uma mudança a sério!

Paulo Raimundo (Membro da Comissão Política do PCP)
Os resultados eleitorais do passado domingo traduzem uma clara resposta de condenação do povo português ao governo PSD/CDS-PP e às suas políticas de direita.
De resto, este clamoroso «não» à política de direita já tinha sido dado várias e justas vezes pelos trabalhadores e outros sectores da população, que saíram à rua em grandiosas acções de combate às intenções do governo.
Não é de mais recordar o papel decisivo que o Partido Comunista Português assumiu no combate ao governo, tendo sido o único que colocou a necessidade de este ser posto na rua tão cedo quanto possível, a bem do País e dos trabalhadores. Os resultados de dia 20 mostram a justeza da nossa reivindicação, ainda que, diga-se, tardiamente concretizada.
Esta recusa do povo às políticas de direita obriga a que haja uma mudança profunda nas orientações do próximo governo, pois a situação social do País não permite estados de graça e os trabalhadores e as populações não permitirão que mais uma vez se frustrem as suas expectativas. Não vale a pena, pois, procurar manter a mesma política com outras roupagens.
O novo governo do PS não poderá, como tem sido prática governativa sua em anteriores governos, voltar a «piscar à esquerda e governar à direita». E engana-se redondamente se pensa que o povo lhe deu a maioria absoluta para ficar de mão livres. A verdade é que quem hoje lhe deu a maioria absoluta de votos e mandatos, se vir amanhã frustradas as suas expectativas, voltará a dar-lhe a lição que já lhe deu em mandatos anteriores.
Afinal, as mudanças que o povo e os trabalhadores exigiram não têm a ver com «défices» ou trapalhadas de ministros. Quiseram mudar porque estão no desemprego; têm salários de miséria e baixas reformas; não têm médicos de família; não têm condições económicas para manter os seus filhos a estudar; são sempre eles a pagar os impostos, enquanto outros sistematicamente lhes fogem; porque já perceberam que os sacrifícios pedidos pelos sucessivos governos recaem sempre sobre quem trabalha.

Uma vontade claramente expressa

Este sentimento, extensível a todo País, foi, por exemplo, bastante expressivo em Braga, região tão fustigada pelo desemprego, em particular no sector têxtil, e pela miséria. Os trabalhadores disseram «basta!»: basta aos 50 mil desempregados; aos 10 mil licenciados sem emprego; aos 8 mil trabalhadores sem salários que esperam por decisões de tribunais; aos 6 mil com salários em atraso; aos 80 mil utentes sem médico de família; aos milhares de reformados (e não só!) que não adquirem os medicamentos necessários por falta de dinheiro; aos 60% de jovens que abandonam a escola após o 9.º ano; às mais de 1000 empresas industriais que faliram ou encerraram. Os resultados obtidos no distrito traduzem, pois, uma afirmação clara das suas populações relativamente à necessidade de interromper com urgência o rumo das políticas económicas e sociais que têm sido seguidas no País e que tão nefastas consequências têm sido.
Os magníficos resultados alcançados pela CDU nestas eleições são também um garante de que a situação social não só não será esquecida como será alvo de constante debate e acção, sendo que, da nossa parte, tudo será feito para impedir que, mais uma vez, o PS do governo tenha uma prática diferente do PS da oposição. De facto, algumas propostas afirmadas pelo PS durante a campanha eleitoral - e outras estrategicamente não afirmadas - são desde já motivo de algumas preocupações.
Não se trata de dar ou não benefícios de dúvida, trata-se de dar a resposta política necessária aos problemas dos trabalhadores e das populações.
Afirmamos, e este continuará a ser o nosso compromisso com o povo, que o País precisa de uma mudança a sério. Mas alertamos, também, que não basta uma mudança de siglas, pois isso não impedirá que a luta dos trabalhadores e de outros sectores acabe por impor as urgentes e profundas alterações de rumo às políticas seguidas até aqui. E, para tanto, os trabalhadores e as populações sabem que, a seu lado, nas justas reivindicações e aspirações por uma vida melhor - tão expressivamente traduzidas nos resultados eleitorais - contarão sempre com o PCP, com um PCP hoje claramente mais reforçado e motivado.


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