Que fará com estes votos?
«Parabéns pelos resultados da CDU!» foram muitos os telefonemas assim que recebi desde domingo à noite, de camaradas e amigos. Entre os últimos, dois deles, a rir lá confessaram que tinham hesitado: pensavam votar PS, acabaram por votar BE, e estavam arrependidos de não ter votado CDU. Mas a expressão em todos era de um clima político de esperança e alegria que se instalou com a viragem eleitoral desse dia.
Satisfação justificada, pelo que se refere ao PCP.
E quanto ao país, haverá razões de regozijo?
Há, sim. Uma razão de peso: foi varrida do poder a direita mais reaccionária e interrompida uma ofensiva brutal de liquidação de elementos fundamentais da democracia portuguesa.
Mas quanto ao PS? Que fará com os votos que lhe deram maioria absoluta?
Mal julgaria quem visse nesses votos uma submissão a tudo aquilo que o PS quiser fazer. Muitos desses votos foram iludidos pela miragem do falado «voto útil». Mas o mais intenso significado das votações de domingo é o peso dos que querem uma mudança no rumo do país. O que introduz um factor novo no quadro político. O PS terá que esclarecer agora qual o sentido da mudança que prometeu. E de concretizar as medidas que deixou no ar. Vai ser posto à prova. Os votos não são (nem dão) cheque em branco ao novo governo. A tão referida «sociedade civil» tem a sua palavra a dizer. Estará certamente atenta às medidas que o novo governo PS tomar. Ou não tomar...
Os sectores económicos e financeiros que têm exercido o poder real em Portugal já têm o seu caderno de encargos a apresentar ao novo governo. ‘Não toquem no Código laboral!» exigiu terminante o presidente da associação patronal, Vanzeller, logo no dia seguinte às eleições.
E nos debates promovidos na sequência do novo quadro político, os porta-vozes do PSD recordam com voz meiga as «reformas» do governo derrotado para reclamar em nome da estabilidade a sua manutenção.
É facto que as classes dominantes têm exercido o poder político através da clandestinidade de um bloco central, aplicado eventualmente em aliança ou, mais geralmente, em alternâmcia, pelo PSD e o PS. E ao PS tem cabido muitas vezes dar a cara (em perfil de esquerda, como amortecedor) para algumas das mais gravosas medidas desse bloco central.
Mesmo quando precedidas de «diálogos» gentilmente embrulhados em celofane cor-de-rosa.
Haverá quem diga: lá estão eles já a dizer mal do PS...
Não.
São apenas advertências, na base de uma experiência infelizmente já longa, sobre a continuidade das políticas de direita, de exploração e espoliação de direitos, sempre com a invocação do interesse nacional no início e na cauda da procissão.
Há que pensar: os problemas de Portugal não se resolvem agravando os problemas dos portugueses.
Satisfação justificada, pelo que se refere ao PCP.
E quanto ao país, haverá razões de regozijo?
Há, sim. Uma razão de peso: foi varrida do poder a direita mais reaccionária e interrompida uma ofensiva brutal de liquidação de elementos fundamentais da democracia portuguesa.
Mas quanto ao PS? Que fará com os votos que lhe deram maioria absoluta?
Mal julgaria quem visse nesses votos uma submissão a tudo aquilo que o PS quiser fazer. Muitos desses votos foram iludidos pela miragem do falado «voto útil». Mas o mais intenso significado das votações de domingo é o peso dos que querem uma mudança no rumo do país. O que introduz um factor novo no quadro político. O PS terá que esclarecer agora qual o sentido da mudança que prometeu. E de concretizar as medidas que deixou no ar. Vai ser posto à prova. Os votos não são (nem dão) cheque em branco ao novo governo. A tão referida «sociedade civil» tem a sua palavra a dizer. Estará certamente atenta às medidas que o novo governo PS tomar. Ou não tomar...
Os sectores económicos e financeiros que têm exercido o poder real em Portugal já têm o seu caderno de encargos a apresentar ao novo governo. ‘Não toquem no Código laboral!» exigiu terminante o presidente da associação patronal, Vanzeller, logo no dia seguinte às eleições.
E nos debates promovidos na sequência do novo quadro político, os porta-vozes do PSD recordam com voz meiga as «reformas» do governo derrotado para reclamar em nome da estabilidade a sua manutenção.
É facto que as classes dominantes têm exercido o poder político através da clandestinidade de um bloco central, aplicado eventualmente em aliança ou, mais geralmente, em alternâmcia, pelo PSD e o PS. E ao PS tem cabido muitas vezes dar a cara (em perfil de esquerda, como amortecedor) para algumas das mais gravosas medidas desse bloco central.
Mesmo quando precedidas de «diálogos» gentilmente embrulhados em celofane cor-de-rosa.
Haverá quem diga: lá estão eles já a dizer mal do PS...
Não.
São apenas advertências, na base de uma experiência infelizmente já longa, sobre a continuidade das políticas de direita, de exploração e espoliação de direitos, sempre com a invocação do interesse nacional no início e na cauda da procissão.
Há que pensar: os problemas de Portugal não se resolvem agravando os problemas dos portugueses.