Com Cuba, sempre

José Casanova
Há cerca de quatro meses, mais precisamente a 28 de Janeiro passado, Bush produziu uma curiosa afirmação. Disse ele, referindo-se à actividade desenvolvida pelos EUA, no decorrer do ano 2002: «Mais de 3000 suspeitos de terrorismo foram detidos em muitos países. Muitos outros tiveram um destino diferente». E, receando que a assistência não percebesse a que «destino diferente» se referia, explicou: «Digamos de outro jeito: eles (os tais que «tiveram um destino diferente») já não são um problema para os EUA». Os aplausos da assistência hão-de tê-lo tranquilizado: toda a gente percebera que os «muitos outros» haviam sido, pura e simplesmente, assassinados.
Esta confissão do criminoso, feita assim – publicamente e com sorrisos de orgulho - correu mundo. Os jornais, rádios e têvês do grande capital divulgaram-na como se de um feito heróico se tratasse; os comentadores especializados em traduzir, assinar e publicar as notas dos serviços de informação do Império, proclamaram que o terrorismo sofrera um rude golpe e que podíamos dormir tranquilos; as carpideiras de serviço aos direitos humanos assobiaram para o ar...
Dois meses depois, o chefe do Império ordenou a invasão do Iraque e, em simultâneo, a intensificação das provocações contra Cuba. E assim foi feito: o Iraque foi invadido, destroçado, milhares de iraquianos foram mortos, o Império ocupou o país e lá se instalou (julga ele que para sempre); em Cuba, umas dezenas de cubanos, democratas made in USA, agindo ao serviço do Império e contra o seu país, tentaram concretizar as provocações ordenadas pelo Bush, puseram em perigo a vida de dezenas de cidadãos e foram presos, julgados e condenados de acordo com as leis cubanas.
Entretanto, o Império não pára: como já foi amplamente divulgado, os EUA têm o pressentimento de que a Síria possui armas de destruição maciça...; sabem, certeza certa, que a Coreia do Norte comprou, aqui há tempos, dois reactores nucleares... (por acaso, a uma empresa norte-americana da qual, por acaso, Donald Rumsfeld era director); e já avisaram que Cuba só será livre e democrática quando integrar o rebanho do Império...
Assim sendo, a solidariedade com todos os povos alvos da ofensiva do Império é uma necessidade imperiosa. E nas circunstâncias actuais, a solidariedade com Cuba impõe-se a todos os comunistas como uma questão central do nosso tempo. Por isso digo: com Cuba, sempre.


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