Levar a luta ao voto na CDU

Vasco Cardoso (Membro da Comissão Política)
A democracia parlamentar burguesa – sistema político dominante que o capitalismo pretende impor aos povos – através de poderosos meios financeiros e institucionais de que dispõe, procura silenciar, deturpar e menorizar o papel que a luta dos trabalhadores, da juventude e dos povos têm na vida e na sociedade.

As lutas da juventude foram determinantes para a derrota do Governo

A comunicação social, propriedade de quem sabemos e ao serviço dos seus donos, procura apresentar a realidade e o desenvolvimento da situação política, ignorando na maioria das situações as verdadeiras causas. Assistir a um telejornal é olhar para um conjunto de episódios isolados, sem história ou antecedentes, sem causas. Isto é, consequências que não tiveram causas, problemas a quem faltam responsáveis. É assim quando nos falam do encerramento desta ou daquela empresa, dos incêndios, do insucesso e do abandono escolar, do desemprego, da SIDA, da toxicodependência, da desertificação, da fome, da guerra… ou da queda do Governo.
A forma em como procuraram circunscrever, a decisão de Jorge Sampaio de dissolução da Assembleia da República e a convocação de Eleições antecipadas, a uma «trapalhada entre os membros do Governo» (como o BE afirma), ignorando as muitas lutas travadas no nosso país contra a política de direita e o grande caudal de descontentamento para com o Governo PSD-CDS/PP, é ilustrativa da sistemática tentativa de apagar o papel da luta (luta de classes) no desenvolvimento da sociedade.
O PCP e a JCP não só confiam na luta, como fazem dela um instrumento ao serviço dos trabalhadores e da juventude na defesa das suas aspirações, sonhos e direitos. Foi desta forma, que nunca nos resignámos, ao contrário de outros (PS e BE), com o Governo de Santana e Portas e colocámos bem cedo a necessidade imperiosa de lutar pelo seu fim.
Foi assim na luta dos jovens trabalhadores contra o pacote laboral, pela defesa dos postos de trabalho, contra o encerramento de empresas, pelo aumento de salários, na defesa da contratação colectiva, contra as alterações no subsídio de desemprego, contra a precariedade.
Foi assim com os estudantes que ao longo destes anos, desenvolveram uma persistente luta contra a revisão curricular do ensino secundário, pela implementação da educação sexual nas escolas, por melhores condições materiais e humanas, contra os exames nacionais e pela a abolição dos numerus clausus. E no ensino superior contra o brutal aumento das propinas (que o PS diz não alterar após as eleições), a privatização e elitização do ensino, na exigência de mais e melhor acção social escolar e na resistência contra as orientações neo-liberais do processo de Bolonha.
Foi assim com as jovens raparigas pelo direito à interrupção voluntária da gravidez e a uma sexualidade assumida e feliz.
Foi assim nas grandes movimentações de massas contra a ocupação e guerra imperialista no Iraque, que contaram com uma importante participação da juventude que não se conformou com a postura subserviente e colaboracista do Governo Português e exigiu o regresso imediato das forças da GNR.
Foi assim na defesa da independência do movimento juvenil português e do direito à participação da Juventude. Contra os muitos cortes financeiros que se verificaram nesta área e as tentativas legislativas de transformar o movimento associativo juvenil em extensões do estado.
Foi assim em torno de muitos problemas concretos – nas empresas, escolas e associações, nas cidades e nas vilas, nos meios urbanos e no interior do país – que os jovens se mobilizaram, organizaram e partiram para a luta.
Foi assim durante os mais de 900 dias em que este Governo desenvolveu e aprofundou a política de direita (praticada anteriormente pelo PS) e que contou com a oposição, a resistência, a generosidade e a combatividade da luta da juventude.

Uma vitória da juventude

A demissão do Governo foi por isso também uma vitória da juventude. Juventude que tem todas as razões para confiar no próximo dia 20 de Fevereiro naqueles que em todos os momentos estiveram ao seu lado, na JCP, no PCP e na CDU.
Levar a luta ao voto – mais do que um lema, é o apelo que a Juventude CDU faz nesta campanha. Campanha ancorada em milhares de contactos de Norte a Sul do País, na presença regular nas empresas, escolas e locais de grande concentração juvenil, nas muitas acções de propaganda e iniciativas que os jovens da CDU desenvolvem nas ruas, na participação e intervenção militante de todos, no trabalho colectivo e nas muitas propostas que apresentamos. Propostas estas que não só correspondem aos mais genuínos anseios da juventude, como a serem concretizadas (no quadro de uma verdadeira política de esquerda) possibilitariam um aumento da qualidade de vida e a superação de muitos dos actuais e gritantes problemas.
Nesta campanha eleitoral é possível ampliar e diversificar o apoio e o voto da juventude na CDU. Não é seguramente uma tarefa fácil. Ultrapassar as barreiras e o silenciamento que nos procuram impor, ou a demagogia e o populismo tantas vezes utilizado pelos outras forças partidárias, ou até, o profundo descrédito no funcionamento da nossa democracia que leva ao abstencionismo e ao desânimo (também na juventude). No entanto, é para este combate que a JCP mobilizará todas as energias e disponibilidades seguros de que só assim será possível uma mudança a sério.


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