A «volta»
Em apenas quatro meses, a vida do engenheiro José Sócrates deu uma «volta de 180 graus», das tais que revolucionam tudo, no que a uma pessoa diz respeito.
A primeira grande mudança, obviamente, foi a sua eleição como secretário-geral do PS, cargo onde decerto ninguém o imaginaria há apenas três anos (a não ser, quiçá, o próprio em sonhos), quando o engenheiro procurava aplicadamente transformar o obscuro cargo de ministro do Ambiente (consabidamente, área mais folclórica que substantiva, na tradição da governança lusa) em rutilante acesso ao glamour das primeiras páginas.
Foi o tempo da incineração nas cimenteiras, das guerrilhas internas no PS disputando «os interesses das populações» e da primeira exposição pública da qualidade mais perceptível do engenheiro: a teimosia.
Investido nas suas novas funções de secretário-geral e delas já espreitando, guloso, uma segunda lotaria em tempo recorde - a possibilidade de, a médio-prazo, ascender a Primeiro-Ministro -, o engenheiro desatou, sempre aplicadamente, a espancar actos de governação praticados pela maioria de direita no poder.
Em geral, fê-lo em discurso redondo, o tal que dá imensas voltas até parar sempre no mesmo sítio, expondo a sua segunda qualidade publicamente conhecida: a prudência de nunca se comprometer.
Todavia, apesar dos seus cuidados e resguardos, acabou por ficar famosa uma sua tirada, em plena Assembleia da República, condenando inflamadamente a intenção do Governo PSD/CDS de acabar com os benefícios fiscais em sede de IRS de diversas operações de poupança e aforro, louvaminhando o «esforço» e as «expectativas» dos cidadãos ao realizarem estas poupanças e declarando, estentóreo e de olho no que julga ser a «chave» da sua futura eleição, que o fim de tais benefícios fiscais era «um ataque à classe média».
Isto também foi, mais ou menos, há quatro meses.
No entretanto, o Presidente Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia da República e convocou eleições antecipadas, colocando ao engenheiro uma urgência inesperada.
A que o colocava, muito mais cedo do que o previsto, na provável eminência de ascender ao cargo de Primeiro-Ministro.
Perante isto, o inacreditável aconteceu.
O engenheiro Sócrates abjurou o que dissera e afirmou-se decidido a fazer, em breve, o que criticara violentamente há quatro meses.
Sem mais aquelas, declarou que vai manter o fim dos benefícios fiscais, decidido pelo Governo de Santana Lopes, e explicou porquê: «por causa da estabilidade fiscal».
Ou seja: o que, há quatro meses, era «um ataque à classe média» passou, repentinamente, a factor de «estabilidade fiscal», pelo que das duas, uma.
Ou o engenheiro Sócrates, há quatro meses, enganou descaradamente os portugueses em geral e a «classe média» em particular ao afirmar que o fim dos benefícios fiscais era um «ataque», porque julgava que não ia de imediato para o poder.
Ou o engenheiro Sócrates diz agora a verdade, que é oposta à que afirmara há quatro meses, porque agora acha que pode estar na eminência de ascender ao poder.
Em qualquer dos casos, em apenas quatro meses o engenheiro Sócrates deu uma «volta de 180 graus» na sua vida e conseguiu duas coisas.
Mostrar que, afinal, não só está de acordo com a política do Governo da direita, como também não lhe fica atrás, no engenho maior dessa direita: o de mentir aos portugueses.
A primeira grande mudança, obviamente, foi a sua eleição como secretário-geral do PS, cargo onde decerto ninguém o imaginaria há apenas três anos (a não ser, quiçá, o próprio em sonhos), quando o engenheiro procurava aplicadamente transformar o obscuro cargo de ministro do Ambiente (consabidamente, área mais folclórica que substantiva, na tradição da governança lusa) em rutilante acesso ao glamour das primeiras páginas.
Foi o tempo da incineração nas cimenteiras, das guerrilhas internas no PS disputando «os interesses das populações» e da primeira exposição pública da qualidade mais perceptível do engenheiro: a teimosia.
Investido nas suas novas funções de secretário-geral e delas já espreitando, guloso, uma segunda lotaria em tempo recorde - a possibilidade de, a médio-prazo, ascender a Primeiro-Ministro -, o engenheiro desatou, sempre aplicadamente, a espancar actos de governação praticados pela maioria de direita no poder.
Em geral, fê-lo em discurso redondo, o tal que dá imensas voltas até parar sempre no mesmo sítio, expondo a sua segunda qualidade publicamente conhecida: a prudência de nunca se comprometer.
Todavia, apesar dos seus cuidados e resguardos, acabou por ficar famosa uma sua tirada, em plena Assembleia da República, condenando inflamadamente a intenção do Governo PSD/CDS de acabar com os benefícios fiscais em sede de IRS de diversas operações de poupança e aforro, louvaminhando o «esforço» e as «expectativas» dos cidadãos ao realizarem estas poupanças e declarando, estentóreo e de olho no que julga ser a «chave» da sua futura eleição, que o fim de tais benefícios fiscais era «um ataque à classe média».
Isto também foi, mais ou menos, há quatro meses.
No entretanto, o Presidente Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia da República e convocou eleições antecipadas, colocando ao engenheiro uma urgência inesperada.
A que o colocava, muito mais cedo do que o previsto, na provável eminência de ascender ao cargo de Primeiro-Ministro.
Perante isto, o inacreditável aconteceu.
O engenheiro Sócrates abjurou o que dissera e afirmou-se decidido a fazer, em breve, o que criticara violentamente há quatro meses.
Sem mais aquelas, declarou que vai manter o fim dos benefícios fiscais, decidido pelo Governo de Santana Lopes, e explicou porquê: «por causa da estabilidade fiscal».
Ou seja: o que, há quatro meses, era «um ataque à classe média» passou, repentinamente, a factor de «estabilidade fiscal», pelo que das duas, uma.
Ou o engenheiro Sócrates, há quatro meses, enganou descaradamente os portugueses em geral e a «classe média» em particular ao afirmar que o fim dos benefícios fiscais era um «ataque», porque julgava que não ia de imediato para o poder.
Ou o engenheiro Sócrates diz agora a verdade, que é oposta à que afirmara há quatro meses, porque agora acha que pode estar na eminência de ascender ao poder.
Em qualquer dos casos, em apenas quatro meses o engenheiro Sócrates deu uma «volta de 180 graus» na sua vida e conseguiu duas coisas.
Mostrar que, afinal, não só está de acordo com a política do Governo da direita, como também não lhe fica atrás, no engenho maior dessa direita: o de mentir aos portugueses.