Teoria da «tanga» (2) – apontamentos

Carlos Gonçalves
Teoria da «Tanga» (1), formalizada por D.Barroso em 18.04.2002 no primeiro discurso na AR como P.Ministro – «vivemos uma gravíssima crise orçamental e financeira, ... poucas vezes um governo terá deixado a outro uma herança tão pesada e tão difícil, ... os esforços a pedir hoje aos portugueses visam colocar ordem nas finanças do Estado».
Teoria da «Tanga» (2), explicitada agora, com cuidado, pelo Conselho Económico do PS, por Pina Moura, V.Constâncio, A.Vitorino e, implicitamente, por Manuel Pinho e J.Sócrates: existe em Portugal um verdadeiro «estado de emergência nas finanças publicas», «chegou a hora da verdade para a redução efectiva do déficit orçamental no horizonte de dois anos», «são precisos sacrifícios».
Medidas propostas pelo PS – o Governador do Banco de Portugal vai presidir a uma «comissão de peritos que determine o valor real do déficit», a mesma medida e o mesmo Presidente(!) de D.Barroso no referido discurso, e também «austeridade», «estabilidade fiscal», «redução consolidada da despesa» – isto é «mais do mesmo», com mudanças de rótulo e algumas curtas diferenças de «sensabilidade social».
Ou seja, porque nunca até hoje aconteceu que o «poder», diminuído pela luta, apodrecesse ao ponto de caír tão redondo no colo do PS, com este a nada fazer por isso; porque nunca aconteceu ser tão óbvia a próxima derrota eleitoral do Governo e das (suas) políticas de direita; porque nunca foi tão evidente o apoio esmagador do poder económico ao PS de Sócrates – expresso na reunião, ineditamente organizada pelas Câmaras de Comércio Luso-Espanhola, Luso-Alemã, e outras, com 600 grandes empresários de que, curiosamente, se esconde o nome e o peso no PIB; por tudo isto o PS está à vontade para ensejar as políticas de direita que pretende seguir, a repetição repetitiva de todas as outras políticas da dogmática neoliberal seguidas todos estes anos.
É o PSD, porque sabe que a direita está irremediavelmente perdida, como se fosse oposição (a si mesmo), que dramatiza falsas divergências com essas políticas e o PS. E é J. Sócrates que, seguro da sua «maioria absoluta» e do apoio do grande capital às suas políticas de direita, passeia uma campanha, um estilo e um discurso «de Governo» que roça a arrogância.
Tudo boas razões para votar CDU, contra a direita, as políticas de direita, a teoria da «Tanga» (2) e a arrogância do «poder absoluto».


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