Ideias redondas

Leandro Martins
Há ideias redondas e, a cada processo eleitoral, ainda mais se arredondam e incham. Redondas, afinal, porque não costumam ter pontas por onde se lhes pegue. Os partidos que se revezam nas políticas de direita, costumam, para além de promessas circunstanciais, encher a boca de ideias assim. Chamam-lhes de «modernidade», de «retoma económica», de «desenvolvimento», de «coesão». Até as apelidam de «europeias» e as disfarçam de «causas».
Para os partidos da direita ainda no poder - diminuídos os poderes ma non troppo, já que continuam a governar como se estivessem de pedra e cal -, é mais difícil disfarçarem-se atrás das ideias redondas, uma vez que estão vivas que se fartam as feridas abertas pela política que têm vindo a praticar. O chorrilho de malfeitorias continua, desta feita mais atabalhoado que nunca, deixando o País cheio de buracos, como Lisboa. O desemprego a subir e a prometer crescer mais, o Produto Interno a descer e a desmentir a retoma, a entrega ao capital das fatias mais apetecíveis do património público aí estão à vista de toda a gente. Já não pega aquela única ideia com que Barroso iniciou a governação - meter ordem nas finanças devastadas pela inconsequência de Guterres. O País estaria de tanga; agora fica nu.
E não falemos sequer das ideias que, por seu lado, o BE, promovido pela comunicação social dominada pelos grandes grupos económicos. Para além da «frescura» da forma, a única ideia que produziu e que se revela uma verdadeira ideia fixa, é a de viabilizar, dê por onde der, um governo do PS.
Quanto ao Partido Socialista, com Sócrates à frente, parece não ter ideias, a não ser absolutamente redondas.
Não acreditamos, porém, que as não tenham, nem que a cabeça de Sócrates esteja tão vazia quanto parece. O homem tem ideias verdadeiras lá dentro. O que lhe convém é disfarçar. O que é preciso é vasculhar na memória para que se revelem, e lembrar a governação de Guterres, tão fugitivo como Barroso. Há dias, o Diário de Notícias usou uma casca de banana e Sócrates não teve outro remédio senão escorregar nela. Ou admitia que recuava na sua arrogante posição de coicinerar Portugal ou, ao invés, insistiria ferozmente nela.
As ideias de Sócrates são redondas porque, se as revelasse, ficaria toda a gente de memória viva. E concluiria que são as mesmas que Santana dispõe para «melhorar» Portugal.


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