Gordos pobres, pobres gordos …

Pedro Campos
«Somos a única nação onde até os pobres são gordos»”, afirmou há pouco Phil Gramm, senador republicano. De uma só estupidez, duas verdades. Nos Estados Unidos, mais de 12 milhões de famílias continuam a lutar, sem sucesso, para conseguir comida. Desse total, quase 4 milhões foram produzidos pelo regime de Bush em 2003, segundo o Departamento de Agricultura.
Um estudo recente do Center for an Urban Future refere que mais de 550 mil famílias de Nova Iorque – 25% do total – têm vencimentos demasiado baixos e não podem satisfazer as suas necessidades básicas. Na semana passada, Bob Herbert (New York Times) escrevia: «Estamos rodeados de pessoas pobres e com vencimentos baixos. (As definições podem ser elásticas e pouco claras, mas, no essencial, falamos de indivíduos e famílias que não têm dinheiro suficiente para cobrir mínimos de comida, abrigo, roupa, transportes …).
Muitos deles são trabalhadores a tempo completo e alguns até com mais de um trabalho».
Voltemos agora a Phil Gramm e aos seus pobres gordos. Uma rede de restaurantes de comida rápida acaba de lançar ao mercado um nova hamburguesa – a Monster Thickburger – com 1420 calorias e 107 gramas de gordura, naquilo que uma organização especializada em saúde pública já classificou como «acima da irresponsabilidade corporativa». Em Portugal não temos essa rede mas não estamos a salvo. A concorrência, que vende forte e feio neste jardim à beira-mar plantado, já encontrou uma resposta à altura desta novidade do marketing, que se anuncia com o slogan: «Assustem-se. Assustem-se muito.» A verdade é pouco comum em publicidade,
mas este «Monster» pretende cumprir o que promete e Jay Leno, famoso homem-âncora, já comentou que o novo produto vem em pequenas caixas de cartão que parecem ataúdes…

As Taser ou letalidade das armas iletais

O Grupo de Operações Especiais, PSP, entrou na modernidade com a aquisição das moderníssimas Tasers. Esta nova maravilha da tecnologia norte-americana está desenhada para disparar dardos com descargas eléctricas de 50 mil vóltios que, ao atingirem o indivíduo, interrompem as ligações entre o cérebro e os músculos, imobilizando-o. Com a compra destas armas, a PSP pôs as nossas forças policiais à altura das suas congéneres de 40 países, entre elas as da Argentina, México, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Israel, Malásia, Turquia e Emiratos Árabes Unidos, para além, claro está, dos Estados Unidos.
Para tranquilidade da população, as autoridades, segundo nota aparecida no Público, esclareceram que as Taser são de «iletalidade garantida» e que «os registos de lesões derivados do seu uso resultam de quedas, ocorridas na sequência da paralisação dos músculos». Ou seja, não se morre da doença mas sim do remédio. Perguntadas sobre a eventual utilização desta maravilha como arma de tortura, as autoridades voltam a tranquilizar-nos afirmando que para tal «não é preciso uma arma destas», e que as torturas «podem ser feitas de muitas maneiras». Admirável franqueza, sem dúvida.
Contudo, por esse mundo fora, há quem fique um tanto desassossegado com tanta franqueza. Um relatório recente de Amnistia Internacional (AI) está longe de deitar água na fervura. Nos Estados Unidos, já morreram mais de 70 pessoas por causa das Taser… ou talvez de morte natural porque os alvejados não se aguentaram nas canetas e quando caíram deram com a suave cabeça em movimento descendente contra um qualquer objecto duro e fixo. Pensadas (ou impingidas) como alternativa às armas de fogo, na prática são usadas em casos onde jamais se pensaria em pistolas e no quotidiano contra pessoas que não representam uma ameaça séria. O relatório da AI, noticiado pela BBC, informa que a polícia dos Estados Unidos já foi acusada várias vezes de uso «inapropriado e abusivo» das Taser. A aplicação de spray de pimenta
junta-se aos disparos destas armas, o que aumenta os riscos de asfixia. As vítimas têm sido pessoas desarmadas «que não representavam uma ameaça nem para elas nem para os outros». Nalguns casos, «não atender uma simples voz de alto tem sido suficiente para receber uma descarga de 50 mil vóltios», denunciou Kate Allen, da AI, que fala de repetidos casos onde as vítimas foram «mulheres grávidas, crianças rebeldes e pessoas com doenças mentais». Estas armas imobilizadoras são igualmente usadas como método de tortura.
Também nós, neste cantinho da Europa, desfrutamos do american way of lif.


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