Mobilizar vontades

José Capucho (Memebro da Comissão Política do CC do PCP)
Fazendo frente à poderosa campanha que procurou formatar vontades, condicionar decisões, os militantes comunistas reafirmaram mais uma vez que é ao Partido, aos seus militantes e organismos, que cabe decidir sobre o seu próprio Partido.
Envolvendo milhares de militantes e todas as organizações, o 17.º Congresso do Partido vai continuar a estar presente no dia a dia da nossa actividade e intervenção. A todos os militantes e organizações do Partido, e em particular à nova direcção eleita, cabe a aplicação das suas decisões e orientações.
O Congresso constituiu uma forte e inequívoca afirmação da vontade do Partido, assumida pelos mais de 1300 delegados das organizações do Partido, pela participação e atenção em todos os trabalhos do Congresso, pelas diversas intervenções proferidas, pelo apoio a outras tantas intervenções, moções e saudações e na construção da Resolução Política e das alterações aos Estatutos. E também pela expressiva e elevada participação na discussão e votação do novo Comité Central.
Todo o tempo de preparação do Congresso e os próprios dias da sua realização, demonstraram a elevada capacidade e vontade do colectivo partidário. Reafirmou a independência do Partido face ao Poder instituído e aos inimigos e adversários políticos. Reafirmou os princípios e o projecto do Partido, as suas normas de funcionamento – o centralismo democrático. Reafirmou o Partido como o Partido da classe operária e de todos os trabalhadores, Partido da democracia, da liberdade e do Socialismo. Partido patriótico e internacionalista. Partido da esperança e do futuro. Partido com uma ideologia, o marxismo-leninismo.
Pelo Congresso não passou o afrontamento entre grupos ou projectos que se digladiaram para ganhar a direcção ou impor a sua orientação. Pelo Congresso passou, isso sim, a realidade do nosso País. Na voz dos operários, dos empregados, dos intelectuais, dos agricultores, dos pescadores, das mulheres, dos jovens, dos emigrantes e dos imigrantes, dos reformados, dos portadores de deficiência, dos desempregados, dos quadros técnicos, dos pequenos e médios empresários, dos sindicalistas, dos dirigentes de colectividades, dos eleitos autárquicos, de deputados, esteve presente a aspiração, a vontade, a reclamação, a proposta, o projecto para um Portugal com Futuro.
No Congresso esteve presente o Portugal que trabalha, resiste, luta, que não desiste de querer um País mais democrático, mais livre, soberano e independente. Que não desiste de querer um Portugal liberto da exploração, de um Portugal socialista.

Abrir ca­minho a um novo rumo

O Congresso foi também uma importante e forte afirmação de internacionalismo, de solidariedade com a luta dos povos de todo o mundo contra o imperialismo, a guerra e a opressão. Afirmou a solidariedade para com os povos dos países que têm como projecto a construção do Socialismo, ou que desenvolvem projectos de afirmação de soberania, de independência e de desenvolvimento social, económico e cultural ao serviço do povo.
O Congresso afirmou inequivocamente a condenação à guerra de agressão e de ocupação do Iraque, contra o envio de forças militares portugueses para este país. Afirmou a solidariedade e o apoio activo à luta do povo palestiniano. A solidariedade e apoio à revolução cubana. E a solidariedade à revolução venezuelana.
No Congresso estiveram presentes 60 delegações de partidos e forças políticas de todos os continentes. Mais de 20 saudações de outras que, não tendo estado presentes em delegação, não quiseram deixar de demonstrar o seu interesse e solidariedade à luta dos comunistas e trabalhadores portugueses.
Quer pelo número, quer pelo que proporcionou para a troca de experiências, contactos e conversações entre os vários partidos presentes, o Congresso contribuiu para reforçar os laços de cooperação e entendimento, para o desenvolvimento da luta contra o imperialismo e o capitalismo, por um mundo melhor, por um futuro socialista.
O Congresso reafirmou e desenvolveu a reivindicação da exigência de demissão do Governo PSD-CDS/PP e a interrupção da política de direita. Esse grande objectivo de luta do Partido e do povo português, com os desenvolvimentos havidos nos dias que se seguiram, demonstram a justeza da posição do Partido, que vale a pena lutar, que é possível.
A decisão anunciada pelo Presidente da República de dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas abre novas possibilidades de travar a política de direita.
O objectivo de interromper a política de direita é possível em primeiro lugar se ao PCP for dada pelo povo português a confiança política e eleitoral que dê mais força às aspirações e às necessidades do povo que assegure a derrota dos partidos da direita e abra caminho a um novo rumo e a uma nova política para o país, uma efectiva política alternativa.
As decisões e orientações do 17.º Congresso são a força impulsionadora para as batalhas que temos por diante e, já no imediato, as eleições antecipadas. Não vamos desiludir os que em nós depositam a esperança. Vamos pois, neste quadro difícil e complexo, dar o nosso melhor de força e saber, com os olhos postos nos trabalhadores, na juventude, nos intelectuais, em todos os que mais têm sido atingidos pela desastrosa política de direita.
Mobilizar as vontades, as inteligências, o saber e a força é o desafio que temos pela frente.


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