Os maus da fita
O cenário já estava a ser montado nos bastidores, mas a sua entrada em cena é tanto mais chocante quanto coincide com o anúncio de eleições antecipadas, que como se disse e como se viu só pecam por tardias. Não falamos do Orçamento do Estado, embora aí também não falte que dizer, e seja no mínimo estranho que se entregue tamanha responsabilidade para o futuro dos portugueses e do país a quem acaba de se pedir o obséquio de sair pela manifesta irresponsabilidade na condução da coisa pública. Originalidades da vida política portuguesa, dirão os de fora, que os de dentro já não sabem com que se hão-de espantar mais, se com o divórcio anunciado ou com a reconciliação vaticinada dos que ainda ontem esperneavam na incubadora; ou se com este despudorado «ora agora viras tu, ora agora viro eu» em que Portugal vive há trinta anos, fazendo que avança mas sem nunca deixar de recuar; ou se com a peculiar característica portuguesa de os mesmos de sempre serem sempre outros e de nunca, mas nunca, terem rigorosamente nada a ver com os que os antecederam, ou seja, consigo próprios.
O que agora choca não é nada disto, por mais chocante que isto seja. O que choca, qual quê?, o que escandaliza, o que dá náuseas, o que indigna, é o infame arranjinho que PS e PSD pretendem levar a cabo, ao som do toque de finados do actual Parlamento, respeitante à alteração da lei eleitoral para as autarquias locais.
Trata-se de implementar o modelo americano, of course, em que a representação proporcional é anulada e o mais votado fica com tudo. Por exemplo, se numa Câmara Municipal a força A tiver 25 por cento, a força B 20 por cento, a C 15 por cento, a D 10 e por aí fora, a força A elege não apenas o presidente como escolhe todos os vereadores e os restantes 75 por cento do eleitorado não terão qualquer representante. Não é democrático mas dá muito jeito, sobretudo a quem está interessado em alternância ao invés de alternativa, em quem discorda no acessório e partilha o essencial das políticas de direita, a quem enfim sonha em reduzir o país a duas faces da mesma moeda.
Sócrates e Santana terão diferenças de estilo, de linguagem, por ventura até de cultura, mas estão prontos a ler pela mesma cartilha desde que tenham garantido o lugar de mestre de cerimónias.
Andam eles nisto e os comunistas é que são os maus da fita, como dizem para aí uns quantos ressabiados e outros tantos fazedores de opinião que mais não anseiam do que entrar também na dança!
O que agora choca não é nada disto, por mais chocante que isto seja. O que choca, qual quê?, o que escandaliza, o que dá náuseas, o que indigna, é o infame arranjinho que PS e PSD pretendem levar a cabo, ao som do toque de finados do actual Parlamento, respeitante à alteração da lei eleitoral para as autarquias locais.
Trata-se de implementar o modelo americano, of course, em que a representação proporcional é anulada e o mais votado fica com tudo. Por exemplo, se numa Câmara Municipal a força A tiver 25 por cento, a força B 20 por cento, a C 15 por cento, a D 10 e por aí fora, a força A elege não apenas o presidente como escolhe todos os vereadores e os restantes 75 por cento do eleitorado não terão qualquer representante. Não é democrático mas dá muito jeito, sobretudo a quem está interessado em alternância ao invés de alternativa, em quem discorda no acessório e partilha o essencial das políticas de direita, a quem enfim sonha em reduzir o país a duas faces da mesma moeda.
Sócrates e Santana terão diferenças de estilo, de linguagem, por ventura até de cultura, mas estão prontos a ler pela mesma cartilha desde que tenham garantido o lugar de mestre de cerimónias.
Andam eles nisto e os comunistas é que são os maus da fita, como dizem para aí uns quantos ressabiados e outros tantos fazedores de opinião que mais não anseiam do que entrar também na dança!