Ucrânia, a farsa anunciada
Um conflito intestino entre os vencedores do desmantelamento criminoso da URSS
Na Ucrânia, em torno das eleições presidenciais, desenrola-se aos olhares do mundo uma gigantesca farsa de consequências imprevisíveis, porventura dramáticas, para os destinos deste país e da sua população. Nestes acontecimentos, desde logo saltam à vista as marcas do intervencionismo dos EUA e UE. Apesar de recorrente nos dias que correm, não deixa de ser altamente escandalosa a prática de chantagem e ingerência externa, que proclamou a falsificação dos resultados eleitorais e exige, sob a ameaça de represálias, a sua revisão. Arvorando-se em juiz supranacional e ignorando a Constituição e a soberania ucranianas, o imperialismo tenta impor a todo o custo o homem (Iuchenko) que destinou para a presidência em Kiev. Este adepto do neoliberalismo, antigo primeiro-ministro é apenas um peão na estratégia expansionista do grande capital. Para os EUA e UE estão em jogo a possibilidade duma mais favorável reprivatização da propriedade e economia do país e, principalmente, a sua absorção pela NATO, o que constituiria um passo decisivo na sua caminhada belicista para Leste, comprimindo cada vez mais a Rússia.
A perversamente designada “revolução” (das castanhas), que tanto gáudio causa aos manipuladores mediáticos da comunicação social dominante, estava há muito prevista. Segundo o jornal “The Guardian” (26.11.04), a “revolução das castanhas” é uma «criação dos americanos»: «patrocinada e organizada pelo governo americano com o concurso de consultores, sociólogos, diplomatas, os dois principais partidos políticos americanos e organizações não governamentais». A campanha desestabilizadora na Ucrânia segue o formato das anteriores encenações “democráticas” aplicadas em Belgrado (2000) e Tbilissi (2003). O mesmo tipo de “mega show político” que, contudo, fracassou em Minsk (2001), na Bielorússia, onde de acordo com o jornal britânico, afinal, o presidente Lukachenko venceu mesmo as eleições (o que como é sabido não obstou à aplicação a este país do tortuoso critério “democrático” de intensificação das medidas discriminatórias por parte dos EUA e UE).
Na realidade, já não constitui sequer um segredo de polichinelo que o imperialismo através dos seus instrumentos subversivos e agências democrático-humanitárias canalizou nos últimos anos para a Ucrânia milhões de dólares para o financiamento da oposição política, a comunicação social “independente” e a “compra” de dirigentes políticos, sindicais e do aparelho de Estado.
A contenda em curso na Ucrânia é, por outro lado, um conflito intestino entre os vencedores do desmantelamento criminoso da URSS. Uma exacerbada guerra de clãs no seio da oligarquia dominante, factor que poderá ditar, em última instância, a obtenção dum acordo de cúpulas sob os auspícios do imperialismo que, em caso de ameaça, mantenha o status-quo.
Este confronto é agravado pela instrumentalização da componente nacionalista. A fobia nacionalista e a acelerada ucrainização acompanharam nos últimos 13 anos o processo de restauração capitalista, servindo os objectivos do imperialismo. A divisão nacional no país que se afirma hoje com toda a evidência na Ucrânia, deve ser entendida, para lá de reais condicionalismos históricos, no contexto das gravosas consequências daquele processo e, fundamentalmente, das tarefas da actual política ofensiva dos EUA na região.
Todos estes factores recobrem o carácter de classe deste conflito, tornando patentes as limitações e contradições que se oferecem ao desenvolvimento da respectiva luta, devidas à actual fragilidade das forças políticas revolucionárias e anti-capitalistas. O carácter de classe é identificável num conflito que, grosso modo, opõe o Ocidente do país, predominantemente rural - onde a intolerância nacionalista encontra terreno fértil - e o Oriente “industrializado” e russófono; entre a burguesia que se manifesta em Kiev e os operários e trabalhadores que massivamente se manifestam contra Iuchenko em Donetsk e outras cidades do Oriente; entre os que defendem a “integração europeia” e na NATO e os que se lhe opõem. A emergência das classes trabalhadoras na arena política constitui, só por si, um bom sinal para o destino das duras e longas lutas que aguardam a Ucrânia.
A perversamente designada “revolução” (das castanhas), que tanto gáudio causa aos manipuladores mediáticos da comunicação social dominante, estava há muito prevista. Segundo o jornal “The Guardian” (26.11.04), a “revolução das castanhas” é uma «criação dos americanos»: «patrocinada e organizada pelo governo americano com o concurso de consultores, sociólogos, diplomatas, os dois principais partidos políticos americanos e organizações não governamentais». A campanha desestabilizadora na Ucrânia segue o formato das anteriores encenações “democráticas” aplicadas em Belgrado (2000) e Tbilissi (2003). O mesmo tipo de “mega show político” que, contudo, fracassou em Minsk (2001), na Bielorússia, onde de acordo com o jornal britânico, afinal, o presidente Lukachenko venceu mesmo as eleições (o que como é sabido não obstou à aplicação a este país do tortuoso critério “democrático” de intensificação das medidas discriminatórias por parte dos EUA e UE).
Na realidade, já não constitui sequer um segredo de polichinelo que o imperialismo através dos seus instrumentos subversivos e agências democrático-humanitárias canalizou nos últimos anos para a Ucrânia milhões de dólares para o financiamento da oposição política, a comunicação social “independente” e a “compra” de dirigentes políticos, sindicais e do aparelho de Estado.
A contenda em curso na Ucrânia é, por outro lado, um conflito intestino entre os vencedores do desmantelamento criminoso da URSS. Uma exacerbada guerra de clãs no seio da oligarquia dominante, factor que poderá ditar, em última instância, a obtenção dum acordo de cúpulas sob os auspícios do imperialismo que, em caso de ameaça, mantenha o status-quo.
Este confronto é agravado pela instrumentalização da componente nacionalista. A fobia nacionalista e a acelerada ucrainização acompanharam nos últimos 13 anos o processo de restauração capitalista, servindo os objectivos do imperialismo. A divisão nacional no país que se afirma hoje com toda a evidência na Ucrânia, deve ser entendida, para lá de reais condicionalismos históricos, no contexto das gravosas consequências daquele processo e, fundamentalmente, das tarefas da actual política ofensiva dos EUA na região.
Todos estes factores recobrem o carácter de classe deste conflito, tornando patentes as limitações e contradições que se oferecem ao desenvolvimento da respectiva luta, devidas à actual fragilidade das forças políticas revolucionárias e anti-capitalistas. O carácter de classe é identificável num conflito que, grosso modo, opõe o Ocidente do país, predominantemente rural - onde a intolerância nacionalista encontra terreno fértil - e o Oriente “industrializado” e russófono; entre a burguesia que se manifesta em Kiev e os operários e trabalhadores que massivamente se manifestam contra Iuchenko em Donetsk e outras cidades do Oriente; entre os que defendem a “integração europeia” e na NATO e os que se lhe opõem. A emergência das classes trabalhadoras na arena política constitui, só por si, um bom sinal para o destino das duras e longas lutas que aguardam a Ucrânia.