A caminho das estrelas

Anabela Fino
O mistério do descalabro que têm sido estes quatro meses de desgoverno está finalmente explicado. O problema é ainda mais grave do que se temia, pois envolve não apenas a origem genética da criatura como também o respectivo parto e inserção na família, o que de uma assentada nos coloca perante um problema bicudo de saúde pública e uma não menos calamitosa questão social.
Vamos a factos.
«Este é um governo a quem ninguém deu quase o direito de existir antes dele nascer e que, depois de nascer através de um parto difícil, teve que ir para uma incubadora e vinham alguns irmãos mais velhos e davam-lhe uns estalos e uns pontapés.»
«Tem sido difícil para quem está na incubadora, ver passar a família e, em vez de acarinhar, haver membros da família que dão uns estalos no bebé».
As palavras não são nossas, que a tanto não chegaria a imaginação, mas sim de Santana Lopes, segundo a TSF online, e foram proferidas no domingo, em Vila Real, a propósito das críticas ao Governo.
Releve-se o facto de, apesar do número de filhos, Santana ignorar que são os problemas de gestação, e não do parto, que levam o bebé à incubadora, e atente-se tão só nesta peculiar analogia do executivo com um prematuro que sobrevive há quatro meses numa chocadeira alvo de sevícias familiares.
Não seria caso para chamar médicos e especialistas? Mas como, se logo numa das primeiras manifestações de vida o incubado decretou o encerramento de maternidades por todo o país?
E sendo o problema genético será que tem remédio, ou antes está condenado a vegetar em permanente sobressalto a cada abanadela da cuba, incapaz de sobreviver sem os balões de oxigénio insuflados de Belém?
É talvez um caso de polícia, já que a acusação de maus tratos não podia ser mais clara, mas como levar os alegados criminosos perante a justiça - que obviamente neste assunto específico só pode ser popular - sem recorrer a eleições? Talvez uma revisão constitucional resolvesse a questão, eliminando da magna carta nacional a liberdade de expressão, mas com Sócrates à espera que o rebento caia de podre e com tanto trabalhinho sujo, perdão, pesado para fazer quanto à lei eleitoral para as autarquias, ou seja, como contar os votos para ficar com as cadeiras todas, tal não se afigura viável.
Para sair do imbróglio, só resta a Santana o caminho das estrelas, o tal onde estava escrito que havia de ser primeiro-ministro. Vá à bruxa, homem, vá à bruxa! E não tenha pressa em voltar.


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