Papas e bolos
Parece que, por fim, pegou a moda em Portugal. Depois das chamadas presidências abertas, que Mário Soares inaugurou em tempos que já lá vão e que Sampaio, com a falta de imaginação que se conhece, repete até ao enjoo das provas de queijo - o outro era o pastel de bacalhau - o País parece ter-se rendido a este estilo de governação, que é tornar mais amável as figuras dos governantes, expondo-os em almoçaradas e passeios. Tudo se resolve, neste cantinho à beira mar, sentado à mesa ou calcorreando montes e vales, nem que seja de camioneta ou de helicóptero.
Um dia destes, quando se perguntar às criancinhas o que querem ser quando forem grandes, em vez do tradicional «Quero ser bombeiro!», «Quero ser futebolista!», elas vão reclamar e fazer birra: «Quero ir para ministro, quero ser presidente!», aliciadas pelas imagens profusas de passeios às ilhas dos mares do sul ou mesmo ali a Espanha, e pelas comezainas fartas e finas que vêm acopladas. E pelo ar feliz - por vezes moderadamente preocupado - que arvoram à sobremesa, palitando os dentes, fazendo festas aos petizes e assegurando que o País está no bom caminho. «Deixem-se de lamúrias», diria Sampaio. «Para 2006 é que vai ser bom», diria Santana Lopes. «A coligação está de pedra e cal, asseguraria Portas.
E, se algum problema ensombra o sorridente caminho, sentam-se eles de novo para acertar contas. Fica tudo resolvido num bar, mesmo que no dia seguinte rebente a bronca, como no caso que opôs Marcelo ao seu colega de negócios. A conversa amena entre dois copos foi ignorada logo de seguida. E ninguém se vai espantar quando os dois almoçarantes que nos surgiram estampados nas páginas dos «jornais de referência», lançarem um dia destes maldições e anátemas um sobre o outro. Paulo Portas, almoçando com Santana Lopes, olha o prato desconfiado: «Será que isto tem veneno?» E o outro: «Se não morreres desta empurro-te borda fora, no veleiro Sagres, na próxima reunião do Governo.»
Com papas e bolos se enganam os tolos.
Não esperaremos sentados que eles se enganem entre si e que, embrulhados nas vitualhas, distraídos com as paisagens e deixando o País de fora, pretendam continuar à boa vida.
Um dia destes, quando se perguntar às criancinhas o que querem ser quando forem grandes, em vez do tradicional «Quero ser bombeiro!», «Quero ser futebolista!», elas vão reclamar e fazer birra: «Quero ir para ministro, quero ser presidente!», aliciadas pelas imagens profusas de passeios às ilhas dos mares do sul ou mesmo ali a Espanha, e pelas comezainas fartas e finas que vêm acopladas. E pelo ar feliz - por vezes moderadamente preocupado - que arvoram à sobremesa, palitando os dentes, fazendo festas aos petizes e assegurando que o País está no bom caminho. «Deixem-se de lamúrias», diria Sampaio. «Para 2006 é que vai ser bom», diria Santana Lopes. «A coligação está de pedra e cal, asseguraria Portas.
E, se algum problema ensombra o sorridente caminho, sentam-se eles de novo para acertar contas. Fica tudo resolvido num bar, mesmo que no dia seguinte rebente a bronca, como no caso que opôs Marcelo ao seu colega de negócios. A conversa amena entre dois copos foi ignorada logo de seguida. E ninguém se vai espantar quando os dois almoçarantes que nos surgiram estampados nas páginas dos «jornais de referência», lançarem um dia destes maldições e anátemas um sobre o outro. Paulo Portas, almoçando com Santana Lopes, olha o prato desconfiado: «Será que isto tem veneno?» E o outro: «Se não morreres desta empurro-te borda fora, no veleiro Sagres, na próxima reunião do Governo.»
Com papas e bolos se enganam os tolos.
Não esperaremos sentados que eles se enganem entre si e que, embrulhados nas vitualhas, distraídos com as paisagens e deixando o País de fora, pretendam continuar à boa vida.