A obsessão
Uma evidência se impôs ao País no fim-de-semana passado e, curiosamente (ou talvez não...), ninguém ainda a assinalou.
A evidência de que apenas a obsessão do poder de Estado a qualquer preço mantém ainda de pé este Governo e esta coligação, uma desfaçatez que, valha a verdade, lhes pressagia um futuro tendencialmente curto.
Chegou a ser deprimente, o estendal de incoerências maquilhadas com «poses de Estado», onde uma multidão de responsáveis políticos do PSD e do PP, de ranchada, se afadigaram a esconder o óbvio – que os dois aliados entraram em rota de colisão no Congresso do PSD de Barcelos – e a garantir o inverosímil – que os dois parceiros estão firmes e calmos no seu arranjo governativo.
Tudo começou no tal congresso de Barcelos, marcado com o declarado objectivo de entronizar Santana Lopes no poder que lhe saiu em taluda, no seu partido e no País – como se sabe, este último sob o extraordinário patrocínio do Presidente Sampaio.
A entronização fez-se como estava previsto, e nesse capítulo bateram-se todos os recordes do entremez provável e improvável, pois chegou-se ao ponto de se projectar um filme onde o «chefe» era mostrado ao congresso e ao País a cumprir um desígnio que começava no tempo dos cueiros e calções do próprio, para prosseguir nos cueiros e calções dos seus vários filhos – coisa que muito o comoveu, segundo confessou de lágrima na voz -, até desembocar tudo num novo hino expressamente dedicado ao líder e que azucrinou o congresso até à exaustão berrando que Santana Lopes «é a voz na vanguarda do futuro de Norte a Sul de todos nós».
O pior foi o resto.
Marques Mendes abriu as hostilidades e, apresentando-se na tribuna do congresso em subentendida marcação para embates futuros no PSD, foi entretanto explícito e directo quanto ao futuro desta coligação com o PP: rejeitou-a sem apelo nem agravo, tendo por isso recebido uma das maiores ovações do conclave. Foi o pontapé de saída: no rasto de Mendes golfaram múltiplas vozes que, com talentos oratórios diversos, deixaram claro que a maioria dos congressistas está farta deste parceiro de conveniência e quer largá-lo no primeiro apeadeiro eleitoral.
O sinal de que as coisas estavam a resvalar para o torto deu-o o próprio Paulo Portas, dirigente máximo do PP, ao faltar ao congresso do parceiro e enviando em seu lugar uma mensagem, que sintomaticamente não foi lida na tribuna pelo PSD e acabou a ser distribuída à pressa pelos jornalistas no final, ao mesmo tempo que Pires de Lima, o «vice» que o PP enviou em representação oficial, suava «poses de Estado» para garantir, no calor da situação, que era naturalíssimo substituir Portas num congresso do PSD que o mesmo Portas nunca dispensou e ainda há seis meses explorou pessoalmente o mais que pôde, para prevenir no dia seguinte, após ter conferenciado com o «chefe», que o congresso do PP seria antecipado e, «na sua opinião», o CDS «tem de estar preparado para concorrer sozinho às legislativas».
No entremendes, Paulo Portas garantia que o seu encontro no sábado, em Cascais, com o ministro santanista Gomes da Silva (vindo expressamente do Congresso no Norte minhoto para uma conversa de três horas com o dirigente do PP), fora um «mero acaso», recusando «em absoluto» que a conversa existiu porque a coligação estivera por um fio, enquanto no dia seguinte se apressava a almoçar com Santana Lopes, à beira-Tejo e durante outras três horas, certamente para festejarem a excelente saúde do seu arranjinho governativo.
Como diria o outro, este malfadado Governo Santana/Portas não está de facto
morto.
Está apenas mal enterrado.
A evidência de que apenas a obsessão do poder de Estado a qualquer preço mantém ainda de pé este Governo e esta coligação, uma desfaçatez que, valha a verdade, lhes pressagia um futuro tendencialmente curto.
Chegou a ser deprimente, o estendal de incoerências maquilhadas com «poses de Estado», onde uma multidão de responsáveis políticos do PSD e do PP, de ranchada, se afadigaram a esconder o óbvio – que os dois aliados entraram em rota de colisão no Congresso do PSD de Barcelos – e a garantir o inverosímil – que os dois parceiros estão firmes e calmos no seu arranjo governativo.
Tudo começou no tal congresso de Barcelos, marcado com o declarado objectivo de entronizar Santana Lopes no poder que lhe saiu em taluda, no seu partido e no País – como se sabe, este último sob o extraordinário patrocínio do Presidente Sampaio.
A entronização fez-se como estava previsto, e nesse capítulo bateram-se todos os recordes do entremez provável e improvável, pois chegou-se ao ponto de se projectar um filme onde o «chefe» era mostrado ao congresso e ao País a cumprir um desígnio que começava no tempo dos cueiros e calções do próprio, para prosseguir nos cueiros e calções dos seus vários filhos – coisa que muito o comoveu, segundo confessou de lágrima na voz -, até desembocar tudo num novo hino expressamente dedicado ao líder e que azucrinou o congresso até à exaustão berrando que Santana Lopes «é a voz na vanguarda do futuro de Norte a Sul de todos nós».
O pior foi o resto.
Marques Mendes abriu as hostilidades e, apresentando-se na tribuna do congresso em subentendida marcação para embates futuros no PSD, foi entretanto explícito e directo quanto ao futuro desta coligação com o PP: rejeitou-a sem apelo nem agravo, tendo por isso recebido uma das maiores ovações do conclave. Foi o pontapé de saída: no rasto de Mendes golfaram múltiplas vozes que, com talentos oratórios diversos, deixaram claro que a maioria dos congressistas está farta deste parceiro de conveniência e quer largá-lo no primeiro apeadeiro eleitoral.
O sinal de que as coisas estavam a resvalar para o torto deu-o o próprio Paulo Portas, dirigente máximo do PP, ao faltar ao congresso do parceiro e enviando em seu lugar uma mensagem, que sintomaticamente não foi lida na tribuna pelo PSD e acabou a ser distribuída à pressa pelos jornalistas no final, ao mesmo tempo que Pires de Lima, o «vice» que o PP enviou em representação oficial, suava «poses de Estado» para garantir, no calor da situação, que era naturalíssimo substituir Portas num congresso do PSD que o mesmo Portas nunca dispensou e ainda há seis meses explorou pessoalmente o mais que pôde, para prevenir no dia seguinte, após ter conferenciado com o «chefe», que o congresso do PP seria antecipado e, «na sua opinião», o CDS «tem de estar preparado para concorrer sozinho às legislativas».
No entremendes, Paulo Portas garantia que o seu encontro no sábado, em Cascais, com o ministro santanista Gomes da Silva (vindo expressamente do Congresso no Norte minhoto para uma conversa de três horas com o dirigente do PP), fora um «mero acaso», recusando «em absoluto» que a conversa existiu porque a coligação estivera por um fio, enquanto no dia seguinte se apressava a almoçar com Santana Lopes, à beira-Tejo e durante outras três horas, certamente para festejarem a excelente saúde do seu arranjinho governativo.
Como diria o outro, este malfadado Governo Santana/Portas não está de facto
morto.
Está apenas mal enterrado.