Venezuela em tempo de maré vermelha
Se bem que ainda não estejam apurados os números finais, tudo indica, sem qualquer surpresa, que as forças políticas que apoiam as transformações democráticas na Venezuela obtiveram importantes vitórias nas eleições regionais de 31 de Outubro.
Uma olhadela ao mapa político da Venezuela mostra uma mancha vermelha praticamente de ponta a ponta do país, se exceptuarmos duas manchas discordantes, correspondentes a estados onde a oposição, de acordo com os números, ainda parciais, parece ter conseguido duas vitórias, ainda que num dos casos se esteja, por agora, mais perto de um empate virtual. É o caso de Zulia, estado fronteiriço com a Colômbia, rico em petróleo e gado, que, a continuar nas mãos da oposição, representa um perigo, devido ao Plano Colômbia e às provocações internas e externas, que podem levar a novas veleidades secessionistas. No outro extremo do país, no meio das Caraíbas, o estado Nova Esparta, o destino turístico mais importante da Venezuela, passou para o lado opositor, confirmando uma tendência que já se tinha verificado durante o referendo presidencial. Estas duas situações são claramente compensadas pelos ganhos bolivarianos em outros estados fundamentais para o aprofundamento da transformação política do país. Em Miranda, estado parcialmente articulado com a capital, vence Diosdado Cabello com uma diferença de 4%. Em Carabobo, sede da indústria ligeira do país, desde há vários anos sob controlo da família Salas Römer, o triunfo inclina-se para o lado de Acosta Carles. Em Trujillo, o candidato bolivariano vence numa região tradicionalmente dominada pelos democrata-cristãos. Em Monagas, rico em petróleo e feudo do partido social-democrata desde há perto de meio século, Gregorio Briceño
vence com comodidade. O mesmo sucede em Yaracuy. Anzoátegui, também rico em
petróleo, volta ao controlo bolivariano na pessoa do poeta Tarek W. Saad.
Em síntese, tudo indica que esta esmagadora vitória das forças bolivarianas aponta para que, no futuro, se possam articular devidamente os esforços de governabilidade entre o governo central e 20 dos 22 estados da Venezuela que foram a consulta.
Neste breve apontamento não podemos deixar de mencionar a situação do distrito Capital. A oposição conservou os três municípios que tinha nas mãos e os bolivarianos mantiveram os dois mais povoados. A grande derrotada foi a reacção, que perdeu o alcaide principal. Nas eleições de 2000, os partidos democráticos impuseram um vencedor: Alfredo Peña, que, pouco depois, se passaria para a oposição, numa das traições que mais negativamente marcaram o processo bolivariano. Ao saltar com armas e bagagens para a oposição, Peña nunca deixou de conspirar e fica para a história a sua participação nos acontecimentos de Abril, onde a sua polícia, a mais importante do país, actuou como força de choque dos golpistas. Poucas semanas antes destas eleições e como resultado das sondagens que lhe eram claramente adversas, Peña fugiu à derrota e optou por renunciar alegando fraude. Outros opositores seguiram na batalha eleitoral, mas a vitória do candidato Juan Barreto é indiscutível e aponta para um total de
62% dos votos.
Oposição não aprende a perder
Derrotada em várias frentes de batalha, a reacção nega-se a reconhecer o voto popular como já o fez com os resultados do referendo presidencial. Nove derrotas seguidas não são nada… e agora ameaça não entregar as regiões onde perdeu. A desculpa é a de
sempre e peca por falta de originalidade: fraude. Houve fraude em todos os
estados e distritos onde perdeu. Nos restantes, não.
Enfeudada ao poder mediático, manipuladora descarada dos seus seguidores – que representam um número importante da população mas estão longe da maioria – e enganada pelas suas próprias mentiras, é incapaz de ver que o «país» onde vive, as urbanizações de classe média, não é o país real, que vai muito mais para além do seu nariz arrebitado.
Uma vez mais vencedoras, as forças progressistas da Venezuela têm pela frente novos reptos que as obrigam a manter-se atentas aos perigos que espreitam dentro e fora do país e também no seu seio, como já foi apontado pelo próprio presidente Chávez, que identificou a corrupção, o burocratismo e a incompetência como inimigos a bater no que definiu como «a revolução dentro da revolução».
Uma olhadela ao mapa político da Venezuela mostra uma mancha vermelha praticamente de ponta a ponta do país, se exceptuarmos duas manchas discordantes, correspondentes a estados onde a oposição, de acordo com os números, ainda parciais, parece ter conseguido duas vitórias, ainda que num dos casos se esteja, por agora, mais perto de um empate virtual. É o caso de Zulia, estado fronteiriço com a Colômbia, rico em petróleo e gado, que, a continuar nas mãos da oposição, representa um perigo, devido ao Plano Colômbia e às provocações internas e externas, que podem levar a novas veleidades secessionistas. No outro extremo do país, no meio das Caraíbas, o estado Nova Esparta, o destino turístico mais importante da Venezuela, passou para o lado opositor, confirmando uma tendência que já se tinha verificado durante o referendo presidencial. Estas duas situações são claramente compensadas pelos ganhos bolivarianos em outros estados fundamentais para o aprofundamento da transformação política do país. Em Miranda, estado parcialmente articulado com a capital, vence Diosdado Cabello com uma diferença de 4%. Em Carabobo, sede da indústria ligeira do país, desde há vários anos sob controlo da família Salas Römer, o triunfo inclina-se para o lado de Acosta Carles. Em Trujillo, o candidato bolivariano vence numa região tradicionalmente dominada pelos democrata-cristãos. Em Monagas, rico em petróleo e feudo do partido social-democrata desde há perto de meio século, Gregorio Briceño
vence com comodidade. O mesmo sucede em Yaracuy. Anzoátegui, também rico em
petróleo, volta ao controlo bolivariano na pessoa do poeta Tarek W. Saad.
Em síntese, tudo indica que esta esmagadora vitória das forças bolivarianas aponta para que, no futuro, se possam articular devidamente os esforços de governabilidade entre o governo central e 20 dos 22 estados da Venezuela que foram a consulta.
Neste breve apontamento não podemos deixar de mencionar a situação do distrito Capital. A oposição conservou os três municípios que tinha nas mãos e os bolivarianos mantiveram os dois mais povoados. A grande derrotada foi a reacção, que perdeu o alcaide principal. Nas eleições de 2000, os partidos democráticos impuseram um vencedor: Alfredo Peña, que, pouco depois, se passaria para a oposição, numa das traições que mais negativamente marcaram o processo bolivariano. Ao saltar com armas e bagagens para a oposição, Peña nunca deixou de conspirar e fica para a história a sua participação nos acontecimentos de Abril, onde a sua polícia, a mais importante do país, actuou como força de choque dos golpistas. Poucas semanas antes destas eleições e como resultado das sondagens que lhe eram claramente adversas, Peña fugiu à derrota e optou por renunciar alegando fraude. Outros opositores seguiram na batalha eleitoral, mas a vitória do candidato Juan Barreto é indiscutível e aponta para um total de
62% dos votos.
Oposição não aprende a perder
Derrotada em várias frentes de batalha, a reacção nega-se a reconhecer o voto popular como já o fez com os resultados do referendo presidencial. Nove derrotas seguidas não são nada… e agora ameaça não entregar as regiões onde perdeu. A desculpa é a de
sempre e peca por falta de originalidade: fraude. Houve fraude em todos os
estados e distritos onde perdeu. Nos restantes, não.
Enfeudada ao poder mediático, manipuladora descarada dos seus seguidores – que representam um número importante da população mas estão longe da maioria – e enganada pelas suas próprias mentiras, é incapaz de ver que o «país» onde vive, as urbanizações de classe média, não é o país real, que vai muito mais para além do seu nariz arrebitado.
Uma vez mais vencedoras, as forças progressistas da Venezuela têm pela frente novos reptos que as obrigam a manter-se atentas aos perigos que espreitam dentro e fora do país e também no seu seio, como já foi apontado pelo próprio presidente Chávez, que identificou a corrupção, o burocratismo e a incompetência como inimigos a bater no que definiu como «a revolução dentro da revolução».