Reformas sociais na Alemanha

Protestos de leste a oeste

Perto de 40 mil pessoas manifestaram-se, segunda-feira, 9, em 30 cidades da Alemanha contra as reformas do governo de Gerhard Schroeder.

As reformas de Schroeder são contestadas no interior do próprio SPD

Cerca de 15 mil manifestantes em Magdeburgo, três mil em Halle e em Dessau, e vários outros milhares em todo o antigo território da República Democrática da Alemanha participaram na segunda jornada de protestos semanais, iniciados na passada semana, que desta vez se estenderam à parte ocidental, designadamente às cidades de Dortmund, Colónia, Hamburgo e Frankfurt.
Na próxima segunda-feira, 16, realiza-se uma grande manifestação em Berlim, estando em preparação um desfile gigante para 3 de Outubro, no qual são esperados dois milhões de pessoas.
As acções repetem o modelo das «Manifestações à segunda-feira» de 1989, que terminaram com a queda do muro e o desaparecimento da RDA. Porém, agora, as críticas são dirigidas ao governo federal, contra os cortes nos subsídios de desemprego de longa duração que, a partir do próximo ano, serão equiparados às prestações da assistência social, significativamente menores.
O leste do país é especialmente atingindo pelas reformas da chamada «Agenda 2010», já que o desemprego afecta aqui cerca de 20 por cento da população.
Ironicamente, os manifestantes recuperaram também a palavra de ordem de 1989, «Nós Somos o Povo», provocando a irritação de alguns políticos, em especial no seio do governo, que considerou um sacrilégio a utilização de tal «frase histórica».
Um porta-voz do governo, Hans Langguth, afirmou a propósito que o Governo não quer pôr em causa o direito de manifestação, mas fez questão de sublinhar que existe uma clara diferença entre a actual situação e as manifestações que na altura exigiam «reformas absolutamente necessárias num regime autoritário».
Esta «diferença qualitativa» foi também evocada pelo ministro da Economia, Wolfgang Clement, o autor da controversa reforma, para o qual «a mera comparação com os acontecimentos de 1989 é um insulto à coragem cívica então demonstrada por muitos alemães de leste».
Opinião distinta tem, no entanto, o pastor Christian Füher, de Leipzig, que foi um dos instigadores das movimentações contra a RDA. Defendendo os a legitimidade dos actuais protestos Füher, citado pelo Le Monde, de terça-feira, 10, não compreende «a indignação da classe política». «Não podemos dizer: bravo, por se terem manifestado contra os comunistas, mas agora devem calar-se».

Alternativa de esquerda

Na contestação às políticas de direita têm-se destacado o Partido do Socialismo Democrático (PDS), que é hoje a terceira força política, e segunda nalguns estados federados de leste, registando uma subida espectacular nas sondagens, desde que as reformas de Schroeder começaram a ser aplicadas.
No Oeste, para além de algumas reparos dos democratas-cristãos da CDU, que consideraram anti-sociais algumas medidas do governo, a oposição mais tenaz tem vindo sobretudo dos sindicatos e do interior do próprio SPD, designadamente do ex-ministro das Finanças, Lafontaine, que abandonou o executivo poucos meses depois da vitória de 1998, em protesto contra a linha neoliberal de Schroeder.
Recentemente, Lafontaine apelou expressamente á demissão do chanceler, acusando-o de ter
desmantelado o sistema de protecção social alemão. Por outro lado, não excluiu a hipótese de abandonar o SPD e apoiar uma nova formação de esquerda para concorrer às eleições de 2006.
«Se Schroeder prosseguir a sua política ineficaz até às próximas eleições, terá um novo movimento de esquerda para contrariar este desmantelamento que apoiarei», declarou Lafontaine em entrevista ao semanário Der Spiegel.
Vários dissidentes do SPD e sindicalistas constituíram em Julho último um grupo designado «Alternativa eleitoral para o trabalho e justiça social» o qual, apesar do nome, ainda não decidiu concorrer às próximas eleições. Se tal viesse a acontecer, o SPD sofreria um pesada derrota já que, mesmo sem cisões, a sua popularidade está em queda acentuada, sendo apoiado por apenas 23 por cento dos alemães.


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