Os trabalhadores exigem auditoria à administração da Petrogal

António Mexia: de mau gestor a ministro

A Comissão Central de Trabalhadores da Petrogal tinha, a 15 de Julho, exigido a exoneração do agora ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, António Mexia, por a sua gestão se ter caracterizado por «uma exacerbada autocracia».

O esbanjamento de dinheiros da Petrogal «soma e segue»

Segundo um comunicado da CCT, na reunião entre as duas partes que teve lugar no mesmo dia, os representantes dos trabalhadores saíram ainda mais convencidos da justeza da reclamação de exoneração.
De acordo com a Organização Representativa dos Trabalhadores, o encontro voltou a confirmar – particularmente na área do retalho -, a «violação sistemática de disposições em vigor», uma vez que a administração não respeita «o que formalmente reconheceu dever passar a fazer»: fornecer trimestralmente a informação à ORT sobre a evolução dos mercados de combustíveis líquidos e gasosos.
António Mexia tinha-se comprometido com o Provedor de Justiça a passar a ceder aquela informação, após este o ter chamado à atenção para o facto de não poder continuar a violar a lei. No entanto, a administração não entregou o Plano de Negócios e Orçamento 2004, relativo às áreas comerciais.

Negócios pouco claros

A 9 de Junho veio a lume na comunicação social, a intenção da Petrogal adquirir a rede de retalho Shell, em Espanha. A administração confirmou a intenção, embora sem fornecer dados objectivos sobre a eventual aquisição, situação que levou a CCT a estranhar o facto de não conhecer sequer o caderno do concurso.
A ORT alertou na altura para os valores de muitos milhões de euros referidos na comunicação social que, a confirmarem-se, justificariam «aprofundadas averiguações sobre como vêm sendo geridos os dinheiros da Petrogal na área do retalho, tanto ao nível do mercado externo como do interno».
Segundo os dados chegados à CCT, nota-se uma perda de posições e de vendas nesta importante área da Petrogal, embora os dados estejam a ser encobertos por «múltiplas campanhas de publicidade, pelo recurso permanente a consultores externos e o desenvolvimento de um sem número de projectos em que rentabilidades apregoadas se limitam a generalidades desacompanhadas de qualquer conteúdo», denunciou a ORT.

A «degradada» gestão de pessoal

A CCT tem vindo a propôr que se proceda a uma análise aprofundada da gestão dos recursos humanos da empresa. Já no dia 14 de Maio tinha alertado a administração para várias anomalias registadas nesta área: os indicadores de gestão de pessoal têm tido suspensa a sua edição nos últimos dois anos. Para a CCT, a suspensão «apenas se destinou a ocultar dos responsáveis das várias áreas e sectores muitos dos dados que comprovam a degradação da política e gestão de pessoal», afirma o mesmo comunicado.
E é nesta área que as ORT’s exigem que seja feita uma rigorosa auditoria, uma vez que não são poucas as irregularidades denunciadas.
No que respeita a salários, a CCT constata que foram aprovados aumentos selectivos ao nível de quadros, «envolvendo valores muito superiores aos que, em reunião, a administração disse não poder suportar», além da renovação e aumento do parque automóvel com a atribuição de veículos a quadros que, até à data, não usufruíam de tal regalia e «sem que as suas funções justifiquem a utilização de qualquer veículo automóvel».
As ORT’s criticam ainda a política de promoções que classificam de «discriminatória», bem como as progressões salariais, e uma variedade de salários indirectos, da gasolina a cartões de crédito passando por «méritos e outras estranhas benesses», sem que se crie uma tabela salarial real, com um programa de evolução profissional e remuneratória e sem proceder a correcções que a CCT considera indispensáveis, quer ao nível do provimento de lugares operacionais, quer no respeitante a correcções de categorias e respectivos escalões. Acresce para os sindicatos que a situação é ainda mais condenável, uma vez que, «nos últimos anos se verificaram admissões desnecessárias, acompanhadas de chorudos vencimentos e várias outras remunerações indirectas, além de estranhos benefícios contratuais», classificados de «aberrações e ilegalidades».

Um corrupio de consultores

Exemplo considerado «escandaloso» foi a decisão administrativa de proceder à «admissão de um elevado número de correligionários e outros amigalhaços com especiais salários e não só, mas que afinal, pouco ou nada fazem sem o lucrativo recurso a tantos “brilhantes” e “imprescindíveis” consultores», denuncia o comunicado que vimos citando.
Para a CCT, «é demais o corrupio de consultores externos para os diversos assuntos», classificados de «especialistas da cultura outsourcing», acrescido do recurso a «sábios», «a que recorrem constantemente os gestores que desconhecem a empresa, o fundamental das suas actividades e as exigências da mesma». É um «entra-sai-e-entra» de muitos, sem que se conheçam ou vislumbrem verdadeiros frutos de muitas das suas dispendiosas intervenções, além de muitos dos seus “brilhantes” estudos ficarem da gaveta», acusa a CCT.

Exonerar a incompetência

Perante esta realidade, as ORT’s consideram que todas as provas de incompetência só podem ser atribuídas à administração e ao presidente da Comissão Executiva em particular «que recheia a empresa com os seus “yes men”, afastando técnicos conhecedores, obrigando-se a complementar as carências daqueles com outros tecnocratas de firmas especializadas ou ditas como tal».
Por fim, consideram que a Petrogal pode estar numa situação «altamente preocupante» com esta gestão, e que os últimos meses têm comprovado a justeza da reclamação de demissão da administração e a exoneração do presidente da Comissão Executiva, António Mexia, além da realização de uma rigorosa auditoria à empresa, «por uma nova política e uma nova gestão» que acabe com a «exacerbada autocracia» da actual administração.
Em vez de criticado e exonerado, António Mexia foi entretanto nomeado ministro na semana passada pelo novo primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes.


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