A entrevista
No passado domingo, ainda não tinha sido formalmente nomeado Primeiro-Ministro pelo Presidente da República, já Pedro Santana Lopes dava uns ares da sua graça.
Apesar de a referida nomeação estar aprazada logo para o dia seguinte, o indigitado não pôde esperar umas horas e tratou de avançar, à estocada, para a sua primeira entrevista num canal de televisão.
Afivelando uma sisuda «pose de Estado» - uma das raras máscaras ainda pouco testadas na carreira já de 30 anos deste «jovem político» -, Santana Lopes foi coçando displicentemente o rosto enquanto debitava governanças.
De uma assentada, prometeu «descentralizar ministérios» (dizendo mesmo quais e onde), sugeriu «conselhos de ministros por videoconferência» e garantiu «haver margem para aumentos na Função Pública».
É obra! – sobretudo quando não se tem o poder, não se conhece minimamente quaisquer indicadores relacionados com o País e a sua governação e nem sequer se está nomeado para o que quer que seja.
Curiosamente, logo no dia seguinte e na generalidade dos órgãos de comunicação, jornalistas, comentadores e analistas de todos os matizes lançaram-se aplicadamente na «análise» destas extraordinárias propostas - certificando-as com a respeitabilidade de se lhes conferir (pelo menos) interesse noticioso -, não ocorrendo a ninguém expor-lhes quaisquer das suas evidentes fragilidades, incoerências ou contradições.
No que respeita à «descentralização de ministérios», a generalidade dos canais de televisão correu de microfones em punho para as ruas do Porto, Santarém e Faro –cidades onde Santana Lopes instalou, num indolente piscar de olhos, respectivamente os «ministérios da Economia e da Agricultura» e a «secretaria de Estado do Turismo» -, colhendo, está bem de ver, o entusiasmo acéfalo de meia dúzia de transeuntes pela presença «de um ministério» na sua terra. Por ponderar ficou o flagrante esbanjamento da medida (a instalação de qualquer ministério longe da capital custaria uma fortuna), a sua inutilidade (não se vislumbra uma única vantagem operacional em tal desconcentração), a sua insensatez (nos raros casos em que tal «desconcentração» se experimentou em países da União Europeia concluiu-se sempre pela sua ineficácia) e a sua óbvia demagogia (entreter o pagode com esta pretensa «descentralização» é, simultaneamente, iludir e achincalhar a famosa reforma da administração pública que, há séculos, aguarda que a estudem, planeiem e realizem).
Quanto aos «conselhos de ministros por videoconferência» (que, segundo Santana, se praticam algures «nos países nórdicos»), têm quase tanta consistência e seriedade como as cavalhadas do Parque Mayer lideradas por Santana Lopes e acolitadas por meia dúzia de bem instaladas «estrelas do teatro», todos manobrando na pretensa defesa da «revista à portuguesa», paz à sua alma.
Mais grave, entretanto, é a afirmação – dita como quem não quer a coisa - de que «há margem para aumentos na Função Pública». Não dispondo, obviamente, de quaisquer elementos que lhe permitam garantir tal coisa, a afirmação apenas mostra o que aí vem: eleitoralismo desbragado e sem quaisquer peias, a começar na tripa-forra com os dinheiros públicos.
«Isto» é apenas uma amostra do que o Presidente da República impôs ao País, em nome «da estabilidade».
Esperemos que a ruína daí inevitavelmente resultante, não seja tão devastadora como tal imposição o foi para o currículo presidencial de Jorge Sampaio.
Apesar de a referida nomeação estar aprazada logo para o dia seguinte, o indigitado não pôde esperar umas horas e tratou de avançar, à estocada, para a sua primeira entrevista num canal de televisão.
Afivelando uma sisuda «pose de Estado» - uma das raras máscaras ainda pouco testadas na carreira já de 30 anos deste «jovem político» -, Santana Lopes foi coçando displicentemente o rosto enquanto debitava governanças.
De uma assentada, prometeu «descentralizar ministérios» (dizendo mesmo quais e onde), sugeriu «conselhos de ministros por videoconferência» e garantiu «haver margem para aumentos na Função Pública».
É obra! – sobretudo quando não se tem o poder, não se conhece minimamente quaisquer indicadores relacionados com o País e a sua governação e nem sequer se está nomeado para o que quer que seja.
Curiosamente, logo no dia seguinte e na generalidade dos órgãos de comunicação, jornalistas, comentadores e analistas de todos os matizes lançaram-se aplicadamente na «análise» destas extraordinárias propostas - certificando-as com a respeitabilidade de se lhes conferir (pelo menos) interesse noticioso -, não ocorrendo a ninguém expor-lhes quaisquer das suas evidentes fragilidades, incoerências ou contradições.
No que respeita à «descentralização de ministérios», a generalidade dos canais de televisão correu de microfones em punho para as ruas do Porto, Santarém e Faro –cidades onde Santana Lopes instalou, num indolente piscar de olhos, respectivamente os «ministérios da Economia e da Agricultura» e a «secretaria de Estado do Turismo» -, colhendo, está bem de ver, o entusiasmo acéfalo de meia dúzia de transeuntes pela presença «de um ministério» na sua terra. Por ponderar ficou o flagrante esbanjamento da medida (a instalação de qualquer ministério longe da capital custaria uma fortuna), a sua inutilidade (não se vislumbra uma única vantagem operacional em tal desconcentração), a sua insensatez (nos raros casos em que tal «desconcentração» se experimentou em países da União Europeia concluiu-se sempre pela sua ineficácia) e a sua óbvia demagogia (entreter o pagode com esta pretensa «descentralização» é, simultaneamente, iludir e achincalhar a famosa reforma da administração pública que, há séculos, aguarda que a estudem, planeiem e realizem).
Quanto aos «conselhos de ministros por videoconferência» (que, segundo Santana, se praticam algures «nos países nórdicos»), têm quase tanta consistência e seriedade como as cavalhadas do Parque Mayer lideradas por Santana Lopes e acolitadas por meia dúzia de bem instaladas «estrelas do teatro», todos manobrando na pretensa defesa da «revista à portuguesa», paz à sua alma.
Mais grave, entretanto, é a afirmação – dita como quem não quer a coisa - de que «há margem para aumentos na Função Pública». Não dispondo, obviamente, de quaisquer elementos que lhe permitam garantir tal coisa, a afirmação apenas mostra o que aí vem: eleitoralismo desbragado e sem quaisquer peias, a começar na tripa-forra com os dinheiros públicos.
«Isto» é apenas uma amostra do que o Presidente da República impôs ao País, em nome «da estabilidade».
Esperemos que a ruína daí inevitavelmente resultante, não seja tão devastadora como tal imposição o foi para o currículo presidencial de Jorge Sampaio.