Em vigília na ex-Efacec
Os trabalhadores ameaçados de desemprego e suspensos desde dia 20, trabalham há décadas na agora Universal Motors, em Ovar. A poucos anos da reforma, a idade dificulta a procura de novo emprego. No dia 17, reafirmaram a intenção de manter a vigília.
Só a unidade na luta pode garantir o futuro da empresa
O plenário de quinta-feira passada contou com a presença solidária do secretário-geral da CGTP-IN, Manuel Carvalho da Silva, que apelou à unidade dos trabalhadores na defesa dos seus direitos e pela salvaguarda dos postos de trabalho.
No dia seguinte, os representantes dos trabalhadores reuniram na Direcção Geral de Emprego e Relações de Trabalho, no Porto, com representantes do Ministério do Trabalho e a administração da empresa, tendo manifestado a intenção de defender os postos de trabalho e garantias de pagamento do salário deste mês.
No entanto, não se registou qualquer compromisso por parte da empresa, nem sequer quanto aos salários, tendo levado os trabalhadores a manter a vigília.
A situação vai agora ser analisada pelos trabalhadores em novo plenário.
Ovar apresenta, em termos de desemprego, o quadro mais negro em todo o distrito de Aveiro.
Vale a pena lutar
Para já, os trabalhadores conseguiram travar as intenções da administração que, antes da suspensão, tinha tentado avançar com as rescisões por «mútuo acordo» pagas em 33 prestações, proposta que foi liminarmente recusada, revelou o dirigente sindical Américo Rodrigues.
Depois, tentaram dividir os operários: integraram 26 no serviço e mantiveram a suspensão dos restantes 72. No entanto, a unidade não quebrou e a administração passou a tentar retirar materiais da empresa. A situação obrigou à vigília que prossegue por tempo indeterminado.
Antes da suspensão, algum material fundamental para a laboração foi deslocado para uma garagem particular, por ordem do administrador, revelou o delegado sindical, António Vinhas.
Os trabalhadores decidiram então iniciar a vigília a partir de dia 9, para não deixar sair mais nenhuma matéria-prima, principalmente as barras de cobre, essenciais para o trabalho.
Na tarde de dia 15, um camião tentou carregar barras de cobre mas, pacificamente, os trabalhadores frente ao portão evitaram a saída.
Posteriormente, os seus representantes reuniram com a administração e conseguiram um acordo de suspensão de intenções até à reunião da passada sexta-feira que não deu em nada.
Abandonados
Em 1999, a Efacec transformou as instalações numa filial que passou a adoptar a actual designação, com uma concessão de três anos. Após esse tempo, havia a condição de devolver o património à Efacec – credora e com direito sobre os terrenos - com a consequente saída da Universal Motors, propriedade da família Rita, cujo patrono, Guilherme, é vice-presidente da Efacec.
«Abandonaram-nos, não nos disseram nada e cederam as acções da empresa aos actuais administradores. Da forma que foram seleccionados os 26 trabalhadores não suspensos, duvidamos das suas intenções porque não há trabalhadores nos pontos chave da produção para que a laboração possa dar-se com regularidade», afirmou António Vinhas.
O Governo foi também criticado por «não tomar qualquer medida em defesa do ganha-pão destes trabalhadores», concluiu.
Os sindicalistas acusam ainda o administrador que, «ao que parece, anda a ver se algum de nós comete alguma falha para levantar um processo disciplinar e despedir-nos, de forma a fragilizar a unidade dos trabalhadores», revelou o delegado sindical Rui Leite.
Sindicato atento
O Sindicato das Indústrias Eléctricas do Centro tem feito fortes apelos à unidade, «porque os ministérios e as instituições que deviam fazer cumprir a legalidade, só o fazem quando a luta a isso os obriga», disse Américo Rodrigues.
Na semana anterior, os trabalhadores manifestaram-se frente à Câmara de Ovar, foram recebidos pelo Presidente do Município e os seus representantes reuniram com o Governo Civil de Aveiro. Como consequência, a Inspecção-Geral do Trabalho deslocou-se ao terreno. Também nas sessões públicas da Câmara, têm denunciado a situação.
No dia 27, deslocaram-se ao Ministério da Economia onde foram recebidos pela secretária do ministro, mas o «principal interlocutor nesta matéria – o Ministério do Trabalho – nem sequer nos recebeu», afirmou o dirigente.
Com quem trabalha
Desde a primeira hora, a Comissão Concelhia de Ovar do PCP tem acompanhado de perto o evoluir da situação. Quando a administração anunciou a intenção de suspender todos os trabalhadores por tempo indeterminado, a Concelhia alertou o Grupo Parlamentar que, através da deputada Odete Santos, questionou o Governo no dia 20 de Maio quando foi decretada a suspensão, para saber se a legalidade estava a ser respeitada e que atitude pensava tomar. Cinco dias depois, a mesma deputada esteve à porta da empresa em contacto com os trabalhadores e manifestou a solidariedade e o total apoio dos comunistas à sua luta que «já provocou um recuo por parte da administração», como refere uma nota da Comissão Concelhia do Partido.
Pessoas de carne e osso
Para Maria Fernando, 46 anos de idade e 32 ao serviço da ex-Efacec, é com grande tristeza que está a viver a suspensão. Recordou uma «vida de sacrifícios. Queremos poder ajudar os nosso filhos e a nossa vida também porque somos novas para a reforma e velhas para outro trabalho», concluiu.
Francelina Grana, 46 anos de idade e quase 32 de serviço. Com duas filhas, uma com 14 anos, Pergunta: «Se no fim do mês deixar de receber como é que vou fazer?».
Teresa Silva, 59 anos, trabalha da ex-Efacec há 44 e é a mais antiga trabalhadora da empresa. Tem marido inválido com uma parca reforma e duas filhas que, «felizmente já estão fora de casa. Vim para aqui com 14 anos e não estou a pedir nada mais além do que tenho direito».
António Magina é operário na empresa há 39 anos e tem 54. Recordou como os trabalhadores foram perdendo direitos: «Desde que a Universal Motors tomou posse, nunca mais tivemos qualquer actualização salarial», salientou.
(In)competência
Situada na EN 109, à entrada de Ovar, a Universal Motors (ex-Efacec) está a tentar encerrar num dos distritos mais afectados pelo desemprego: Aveiro com 28410 registados em Abril, segundo dados do INE.
Ao aproximarmo-nos da empresa, de ambos os lados da estrada, vivendas de luxo – algumas a fazer inveja a muitas embaixadas – sucedem-se em catadupa até à rotunda que antecede as instalações. O edifício contrasta pelo seu ar devoluto e degradado, embora a sua dimensão confirme a importância que teve noutros tempos a famosa Efacec. Cerca de cem metros de parede branca e gasta albergam as instalações. Na rotunda antes de chegar à empresa, num out-door da coligação governamental para as eleições europeias, podia ler-se em enormes parangonas: «Competência». Logo a seguir, as bandeiras negras da fome no edifício da Motors, reflectiam a falta do prefixo «in» para que o cartaz fosse consentâneo com a verdade. Deus Pinheiro estava com um sorriso aberto. Ria-se de quê?
No dia seguinte, os representantes dos trabalhadores reuniram na Direcção Geral de Emprego e Relações de Trabalho, no Porto, com representantes do Ministério do Trabalho e a administração da empresa, tendo manifestado a intenção de defender os postos de trabalho e garantias de pagamento do salário deste mês.
No entanto, não se registou qualquer compromisso por parte da empresa, nem sequer quanto aos salários, tendo levado os trabalhadores a manter a vigília.
A situação vai agora ser analisada pelos trabalhadores em novo plenário.
Ovar apresenta, em termos de desemprego, o quadro mais negro em todo o distrito de Aveiro.
Vale a pena lutar
Para já, os trabalhadores conseguiram travar as intenções da administração que, antes da suspensão, tinha tentado avançar com as rescisões por «mútuo acordo» pagas em 33 prestações, proposta que foi liminarmente recusada, revelou o dirigente sindical Américo Rodrigues.
Depois, tentaram dividir os operários: integraram 26 no serviço e mantiveram a suspensão dos restantes 72. No entanto, a unidade não quebrou e a administração passou a tentar retirar materiais da empresa. A situação obrigou à vigília que prossegue por tempo indeterminado.
Antes da suspensão, algum material fundamental para a laboração foi deslocado para uma garagem particular, por ordem do administrador, revelou o delegado sindical, António Vinhas.
Os trabalhadores decidiram então iniciar a vigília a partir de dia 9, para não deixar sair mais nenhuma matéria-prima, principalmente as barras de cobre, essenciais para o trabalho.
Na tarde de dia 15, um camião tentou carregar barras de cobre mas, pacificamente, os trabalhadores frente ao portão evitaram a saída.
Posteriormente, os seus representantes reuniram com a administração e conseguiram um acordo de suspensão de intenções até à reunião da passada sexta-feira que não deu em nada.
Abandonados
Em 1999, a Efacec transformou as instalações numa filial que passou a adoptar a actual designação, com uma concessão de três anos. Após esse tempo, havia a condição de devolver o património à Efacec – credora e com direito sobre os terrenos - com a consequente saída da Universal Motors, propriedade da família Rita, cujo patrono, Guilherme, é vice-presidente da Efacec.
«Abandonaram-nos, não nos disseram nada e cederam as acções da empresa aos actuais administradores. Da forma que foram seleccionados os 26 trabalhadores não suspensos, duvidamos das suas intenções porque não há trabalhadores nos pontos chave da produção para que a laboração possa dar-se com regularidade», afirmou António Vinhas.
O Governo foi também criticado por «não tomar qualquer medida em defesa do ganha-pão destes trabalhadores», concluiu.
Os sindicalistas acusam ainda o administrador que, «ao que parece, anda a ver se algum de nós comete alguma falha para levantar um processo disciplinar e despedir-nos, de forma a fragilizar a unidade dos trabalhadores», revelou o delegado sindical Rui Leite.
Sindicato atento
O Sindicato das Indústrias Eléctricas do Centro tem feito fortes apelos à unidade, «porque os ministérios e as instituições que deviam fazer cumprir a legalidade, só o fazem quando a luta a isso os obriga», disse Américo Rodrigues.
Na semana anterior, os trabalhadores manifestaram-se frente à Câmara de Ovar, foram recebidos pelo Presidente do Município e os seus representantes reuniram com o Governo Civil de Aveiro. Como consequência, a Inspecção-Geral do Trabalho deslocou-se ao terreno. Também nas sessões públicas da Câmara, têm denunciado a situação.
No dia 27, deslocaram-se ao Ministério da Economia onde foram recebidos pela secretária do ministro, mas o «principal interlocutor nesta matéria – o Ministério do Trabalho – nem sequer nos recebeu», afirmou o dirigente.
Com quem trabalha
Desde a primeira hora, a Comissão Concelhia de Ovar do PCP tem acompanhado de perto o evoluir da situação. Quando a administração anunciou a intenção de suspender todos os trabalhadores por tempo indeterminado, a Concelhia alertou o Grupo Parlamentar que, através da deputada Odete Santos, questionou o Governo no dia 20 de Maio quando foi decretada a suspensão, para saber se a legalidade estava a ser respeitada e que atitude pensava tomar. Cinco dias depois, a mesma deputada esteve à porta da empresa em contacto com os trabalhadores e manifestou a solidariedade e o total apoio dos comunistas à sua luta que «já provocou um recuo por parte da administração», como refere uma nota da Comissão Concelhia do Partido.
Pessoas de carne e osso
Para Maria Fernando, 46 anos de idade e 32 ao serviço da ex-Efacec, é com grande tristeza que está a viver a suspensão. Recordou uma «vida de sacrifícios. Queremos poder ajudar os nosso filhos e a nossa vida também porque somos novas para a reforma e velhas para outro trabalho», concluiu.
Francelina Grana, 46 anos de idade e quase 32 de serviço. Com duas filhas, uma com 14 anos, Pergunta: «Se no fim do mês deixar de receber como é que vou fazer?».
Teresa Silva, 59 anos, trabalha da ex-Efacec há 44 e é a mais antiga trabalhadora da empresa. Tem marido inválido com uma parca reforma e duas filhas que, «felizmente já estão fora de casa. Vim para aqui com 14 anos e não estou a pedir nada mais além do que tenho direito».
António Magina é operário na empresa há 39 anos e tem 54. Recordou como os trabalhadores foram perdendo direitos: «Desde que a Universal Motors tomou posse, nunca mais tivemos qualquer actualização salarial», salientou.
(In)competência
Situada na EN 109, à entrada de Ovar, a Universal Motors (ex-Efacec) está a tentar encerrar num dos distritos mais afectados pelo desemprego: Aveiro com 28410 registados em Abril, segundo dados do INE.
Ao aproximarmo-nos da empresa, de ambos os lados da estrada, vivendas de luxo – algumas a fazer inveja a muitas embaixadas – sucedem-se em catadupa até à rotunda que antecede as instalações. O edifício contrasta pelo seu ar devoluto e degradado, embora a sua dimensão confirme a importância que teve noutros tempos a famosa Efacec. Cerca de cem metros de parede branca e gasta albergam as instalações. Na rotunda antes de chegar à empresa, num out-door da coligação governamental para as eleições europeias, podia ler-se em enormes parangonas: «Competência». Logo a seguir, as bandeiras negras da fome no edifício da Motors, reflectiam a falta do prefixo «in» para que o cartaz fosse consentâneo com a verdade. Deus Pinheiro estava com um sorriso aberto. Ria-se de quê?