O Vietname de Bush
Todos sabemos que a guerra do Iraque é ilegal e tem como finalidade apoderar-se do petróleo desse país. Não o desconhecem o próprio Bush nem os «governos robertos» que o acompanham na aventura. Mas, além de ilegal, o império sempre pretendeu que fosse clandestina e não se soubesse o seu custo em vidas norte-americanas. Daqui a política do Pentágono de proibir que os meios de comunicação mostrassem a chegada dos cadáveres dos soldados. Daqui um dos grandes escândalos desta guerra, onde a segunda presença militar é a dos exércitos particulares (20 mil homens contra 130 mil norte-americanos e 12 mil britânicos). Os mortos deste exércitos têm custos políticos mais baixos e, além disso, podem ser apresentados como civis. Lembre-se o caso recente dos quatro paramilitares da Blackwater Security Consulting (ligada comercialmente ao Pentágono) massacrados em Fallujah e que foram inicialmente apresentados como civis.
Desaba o muro do silêncio
Depois de um ano a seguir esta política de clandestinização de uma guerra cada vez mais impopular, começa a esboroar-se o muro do silêncio. The Seattle Times, no dia 18 de Abril, deu uma caqueirada inicial no tal muro, ao publicar as primeiras imagens de caixões. Quase imediatamente, num sítio da Internet (thememoryhole.org) apareceram outras fotografias de ataúdes embrulhados com as respectivas bandeiras.
Dois nomes ficaram ligados a estes acontecimentos. Tami Silicio, empregada de uma empresa que trabalha para o Pentágono (Maytag Aircraft), foi despedida – o mesmo se passou com o seu marido e colega – por tirar fotografias de caixões que estavam a ser carregados num avião de transporte, no Kuwait. O outro nome é o de Russ Kick, responsável pelo sítio já mencionado, que publicou outras fotografias depois de obter resposta positiva a um requerimento feito à Força Aérea, decisão que foi imediatamente criticada pelo Pentágono.
Após estas iniciativas, as grandes empresas de comunicação começaram também a mostrar as imagens «proibidas», especialmente depois de que se tornou público o facto de que as autoridades também as estavam a tomar. Bill Keller (New York Times, NYT) disse que «não estava ao corrente» desse facto, e John Banner (canal ABC) afirmou que não tinha pedido autorização para as transmitir pela mesma razão.
O certo é que, a pesar de todos os esforços do regime, a verdade – o custo humano da guerra – começa a vir à superfície, depois que as principais redes de televisão (a Fox ainda não alinhou) abriram os seus noticiários referindo-se a estas fotografias e aos despedimentos de Tami Silicio e do seu marido.
A ocultação dos soldados mortos no Iraque é outra das arbitrariedades do regime de Bush e uma evidência das limitações da liberdade de imprensa no Estados Unidos, já que numa sondagem recente (NYT/CGS News) 62% dos entrevistados manifestava que o público deveria poder ver as fotografias da chegadas dos soldados mortos.
A guerra do Iraque não é a do Vietname … é pior!
É inevitável. O Iraque faz lembrar o trauma do Vietname, e a imprensa norte-americana começa a revelar algumas semelhanças. Já em Janeiro deste ano, um relatório do War College do Exército dos EUA (carlisle.army.mil/ssi) afirmava que esta guerra preventiva era «desnecessária» e um «erro estratégico de primeira ordem» ao fazer o paralelo entre o Iraque de Saddam e a Al’Qaeda.
Mais recentemente, Paul Krugman, editorialista do NYT, escreveu que há diferenças e paralelismos entre as duas guerras e que «nalguns casos, o Iraque está pior». Medida em termos de presença militar, afirma, os conflitos têm a mesma dimensão. «O Vietname sacudiu a confiança da nação não somente porque perdemos, mas porque os nossos líderes não nos disseram a verdade», continua Krugman, e lembra-nos esta frase (Setembro 2003) do general Anthony Zinni: … no caso do Vietname, «escutámos lixo e mentiras (…) e agora, o que é que está a suceder?».
Se antes (não) houve o ataque do Golfo de Tonkin, agora (não) temos as armas de destruição maciça. Segundo o editorialista, está de regresso a política nixoniana (alguma vez se foi embora?), e remata dizendo que no, tempo do Vietname, eram os esforços para eliminar a dissidência e catalogar as manifestações anti-guerra como actos de hostilidade contra os soldados e de apoio ao inimigo. Agora, temos o discurso meta-nixoniano de Bush quando diz que qualquer analogia entre o Iraque e o Vietname é hostil aos soldados e anima o inimigo.
Desaba o muro do silêncio
Depois de um ano a seguir esta política de clandestinização de uma guerra cada vez mais impopular, começa a esboroar-se o muro do silêncio. The Seattle Times, no dia 18 de Abril, deu uma caqueirada inicial no tal muro, ao publicar as primeiras imagens de caixões. Quase imediatamente, num sítio da Internet (thememoryhole.org) apareceram outras fotografias de ataúdes embrulhados com as respectivas bandeiras.
Dois nomes ficaram ligados a estes acontecimentos. Tami Silicio, empregada de uma empresa que trabalha para o Pentágono (Maytag Aircraft), foi despedida – o mesmo se passou com o seu marido e colega – por tirar fotografias de caixões que estavam a ser carregados num avião de transporte, no Kuwait. O outro nome é o de Russ Kick, responsável pelo sítio já mencionado, que publicou outras fotografias depois de obter resposta positiva a um requerimento feito à Força Aérea, decisão que foi imediatamente criticada pelo Pentágono.
Após estas iniciativas, as grandes empresas de comunicação começaram também a mostrar as imagens «proibidas», especialmente depois de que se tornou público o facto de que as autoridades também as estavam a tomar. Bill Keller (New York Times, NYT) disse que «não estava ao corrente» desse facto, e John Banner (canal ABC) afirmou que não tinha pedido autorização para as transmitir pela mesma razão.
O certo é que, a pesar de todos os esforços do regime, a verdade – o custo humano da guerra – começa a vir à superfície, depois que as principais redes de televisão (a Fox ainda não alinhou) abriram os seus noticiários referindo-se a estas fotografias e aos despedimentos de Tami Silicio e do seu marido.
A ocultação dos soldados mortos no Iraque é outra das arbitrariedades do regime de Bush e uma evidência das limitações da liberdade de imprensa no Estados Unidos, já que numa sondagem recente (NYT/CGS News) 62% dos entrevistados manifestava que o público deveria poder ver as fotografias da chegadas dos soldados mortos.
A guerra do Iraque não é a do Vietname … é pior!
É inevitável. O Iraque faz lembrar o trauma do Vietname, e a imprensa norte-americana começa a revelar algumas semelhanças. Já em Janeiro deste ano, um relatório do War College do Exército dos EUA (carlisle.army.mil/ssi) afirmava que esta guerra preventiva era «desnecessária» e um «erro estratégico de primeira ordem» ao fazer o paralelo entre o Iraque de Saddam e a Al’Qaeda.
Mais recentemente, Paul Krugman, editorialista do NYT, escreveu que há diferenças e paralelismos entre as duas guerras e que «nalguns casos, o Iraque está pior». Medida em termos de presença militar, afirma, os conflitos têm a mesma dimensão. «O Vietname sacudiu a confiança da nação não somente porque perdemos, mas porque os nossos líderes não nos disseram a verdade», continua Krugman, e lembra-nos esta frase (Setembro 2003) do general Anthony Zinni: … no caso do Vietname, «escutámos lixo e mentiras (…) e agora, o que é que está a suceder?».
Se antes (não) houve o ataque do Golfo de Tonkin, agora (não) temos as armas de destruição maciça. Segundo o editorialista, está de regresso a política nixoniana (alguma vez se foi embora?), e remata dizendo que no, tempo do Vietname, eram os esforços para eliminar a dissidência e catalogar as manifestações anti-guerra como actos de hostilidade contra os soldados e de apoio ao inimigo. Agora, temos o discurso meta-nixoniano de Bush quando diz que qualquer analogia entre o Iraque e o Vietname é hostil aos soldados e anima o inimigo.