Os cães e a raiva
«O cão é o melhor amigo do homem», diz o ditado, inventado certamente pelos mesmos que, no centro da fabricação das formas de comunicação da ideologia dominante há uns séculos, se dedicavam a estabelecer, através de ditos «populares», uma forma de pensar o mundo. Era um mundo onde «o homem era o lobo do homem». Continua a ser, estejam descansados os herdeiros da ideologia que ainda domina, a da exploração dos seres humanos por outros seres humanos. Quando se afirma que «o cão é o melhor amigo do homem» nunca deixo de pensar - apesar de os animaizinhos me merecerem toda a simpatia, que partilho com os gatos e outra bicharada - naqueles que são capazes de ir aos arames com as crueldades tradicionais que se praticam sobre as bestas, mas não têm um olhar de solidariedade para com os seus semelhantes. É assim que, quando o cão morde o dono, não deixo de pensar que há aí uma certa justiça «poética». E que, quando o império é atacado pelos seus aliados de ontem, não deixo de verificar que, também aí, algumas das que cá se fazem, cá se pagam.
Os Estados Unidos, no seu afã de dominar o mundo, têm recorrido a toda a espécie de facínoras para fazerem deles seus aliados. E são sempre aliados descartáveis, porque o império não ama os seus cães. Alimenta-os enquanto precisa deles, lança-os às outras feras ou envia-os para o abate quando deixam de lhes servir ou quando o seu treino de cães de fila se pode virar contra os antigos donos. O rol é imenso, nestas poucas décadas de história em que os EUA medraram até dominarem o mundo. Lembramo-nos do traficante corrupto que Noriega foi e da prisão a que foi sujeito quando pensou poder construir ele próprio o seu pequeno império. De Saddam, o aliado de ontem contra os ayatollahs iranianos, que sorveu toda a ajuda e armamento de que o império dispôs para, massacrando centenas de milhares de pessoas, do seu país e do Irão, servir o dono. Acabou mordendo a mão do dono. Lembro-me de Bem Laden, amigo da família Bush, treinado pelos EUA e procurado hoje como o pior inimigo. Dos fundamentalistas afegãos, armados pelos EUA e hoje perseguidos, presos e torturados pelos marines.
Se eles se mordessem apenas uns aos outros, a coisa não estaria mal. O pior é que, nessas contendas de feras, quem sofre é a gente.
Os Estados Unidos, no seu afã de dominar o mundo, têm recorrido a toda a espécie de facínoras para fazerem deles seus aliados. E são sempre aliados descartáveis, porque o império não ama os seus cães. Alimenta-os enquanto precisa deles, lança-os às outras feras ou envia-os para o abate quando deixam de lhes servir ou quando o seu treino de cães de fila se pode virar contra os antigos donos. O rol é imenso, nestas poucas décadas de história em que os EUA medraram até dominarem o mundo. Lembramo-nos do traficante corrupto que Noriega foi e da prisão a que foi sujeito quando pensou poder construir ele próprio o seu pequeno império. De Saddam, o aliado de ontem contra os ayatollahs iranianos, que sorveu toda a ajuda e armamento de que o império dispôs para, massacrando centenas de milhares de pessoas, do seu país e do Irão, servir o dono. Acabou mordendo a mão do dono. Lembro-me de Bem Laden, amigo da família Bush, treinado pelos EUA e procurado hoje como o pior inimigo. Dos fundamentalistas afegãos, armados pelos EUA e hoje perseguidos, presos e torturados pelos marines.
Se eles se mordessem apenas uns aos outros, a coisa não estaria mal. O pior é que, nessas contendas de feras, quem sofre é a gente.