O vento e o nada
A submissão exemplar do Governo PSD/PP aos grandes interesses económicos e às multinacionais teve um dos seus mais faustosos retratos na passada sexta-feira, quando os trabalhadores da Bombardier, ex-Sorefame, se deslocaram às minas de São Domingos, nos arrabaldes de Mértola, no Alentejo, para confrontar o Presidente da República, na companhia do secretário de Estado da Economia, com as suas responsabilidades respeitantes à intenção de se encerrar a única fábrica construtora de carruagens e material ferroviário circulante, existente no País.
O dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul e trabalhador da Bombardier, António Tremoço, lembrou a Jorge Sampaio as consequências para o País do encerramento desta unidade: todas as carruagens necessárias para os Metros de Lisboa e do Porto, para comboios pendulares ou TGV’s e para toda uma vasta gama de transportes ferroviários terão de passar a ser importadas, com o acentuar das despesas para o Estado; ou seja, para todos nós. Fez, por isso, um apelo ao Presidente para que sensibilize o Governo no sentido de evitar um encerramento que é um verdadeiro crime contra a economia nacional e contra Portugal.
Imediatamente, o Presidente disse ao sindicalista para falar antes com o membro do Governo, demarcando-se de qualquer tomada de posição pública sobre a situação. E o facto é que concordar ou omitir não concordar tem, neste caso, naturais consequências.
Laconicamente, ao ouvir o sindicalista afirmar que os trabalhadores tudo vão fazer para salvar a Bombardier – da qual cerca de uma centena dos quatrocentos trabalhadores qualificados e especializados são engenheiros com capacidade e conhecimentos praticamente únicos no País -, perante a imprensa, o representante do Governo respondeu: «Vamos lutar por isso porque esse é o objectivo».
Como se, no dia anterior, a Bombardier não tivesse dado início prático ao despedimento colectivo. Como se, sobre os trabalhadores, não estivesse a pender, qual espada de Dâmocles, a verdadeira chantagem psicológica que foram as rescisões por «mútuo acordo». Por sinal, a administração até andou a usar essas rescisões como forma de pressão nos meios de comunicação social dominante, tentando convencer os mais distraídos de que já havia centenas de despedimentos consentidos, procurando abater a determinação dos trabalhadores que têm dado mostras de uma férrea unidade em defesa do que é justo para eles e para nós. Tiveram de ser eles a desmentir publicamente aquela afirmação que pretendia quebrar a unidade dos trabalhadores. Com razão e determinação, anunciaram ir ocupar, no dia 21, as instalações da empresa, certos da solidariedade de todos os que tenham dentro de si algum pingo de respeito pela condição humana e pela soberania nacional. O atraso notório e a crise que está a afundar o País já não são disfarçáveis através de nenhum tipo de «presidência aberta». A afirmação do PR, perante mineiros e trabalhadores da Bombardier – dois sectores com forte potencial gerador de receitas – de que «é possível, pelo investimento, pela iniciativa, arranjar formas novas de se poderem desenvolver e fixar as pessoas», foi um balde de água fria para quem, se é que havia, pudesse ainda acalentar alguma esperança numa tomada de atitude do Presidente face àquele drama social.
Se disse, «formas novas», estará naturalmente a passar uma certidão de óbito às que existem. Neste caso, presume-se que estejamos a falar de minas. Uma mão cheia de vento e outra cheia de nada, é a resposta dos governantes eleitos, à corrosão da democracia e do Estado que se quer justo para que também seja de Direito.
O dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul e trabalhador da Bombardier, António Tremoço, lembrou a Jorge Sampaio as consequências para o País do encerramento desta unidade: todas as carruagens necessárias para os Metros de Lisboa e do Porto, para comboios pendulares ou TGV’s e para toda uma vasta gama de transportes ferroviários terão de passar a ser importadas, com o acentuar das despesas para o Estado; ou seja, para todos nós. Fez, por isso, um apelo ao Presidente para que sensibilize o Governo no sentido de evitar um encerramento que é um verdadeiro crime contra a economia nacional e contra Portugal.
Imediatamente, o Presidente disse ao sindicalista para falar antes com o membro do Governo, demarcando-se de qualquer tomada de posição pública sobre a situação. E o facto é que concordar ou omitir não concordar tem, neste caso, naturais consequências.
Laconicamente, ao ouvir o sindicalista afirmar que os trabalhadores tudo vão fazer para salvar a Bombardier – da qual cerca de uma centena dos quatrocentos trabalhadores qualificados e especializados são engenheiros com capacidade e conhecimentos praticamente únicos no País -, perante a imprensa, o representante do Governo respondeu: «Vamos lutar por isso porque esse é o objectivo».
Como se, no dia anterior, a Bombardier não tivesse dado início prático ao despedimento colectivo. Como se, sobre os trabalhadores, não estivesse a pender, qual espada de Dâmocles, a verdadeira chantagem psicológica que foram as rescisões por «mútuo acordo». Por sinal, a administração até andou a usar essas rescisões como forma de pressão nos meios de comunicação social dominante, tentando convencer os mais distraídos de que já havia centenas de despedimentos consentidos, procurando abater a determinação dos trabalhadores que têm dado mostras de uma férrea unidade em defesa do que é justo para eles e para nós. Tiveram de ser eles a desmentir publicamente aquela afirmação que pretendia quebrar a unidade dos trabalhadores. Com razão e determinação, anunciaram ir ocupar, no dia 21, as instalações da empresa, certos da solidariedade de todos os que tenham dentro de si algum pingo de respeito pela condição humana e pela soberania nacional. O atraso notório e a crise que está a afundar o País já não são disfarçáveis através de nenhum tipo de «presidência aberta». A afirmação do PR, perante mineiros e trabalhadores da Bombardier – dois sectores com forte potencial gerador de receitas – de que «é possível, pelo investimento, pela iniciativa, arranjar formas novas de se poderem desenvolver e fixar as pessoas», foi um balde de água fria para quem, se é que havia, pudesse ainda acalentar alguma esperança numa tomada de atitude do Presidente face àquele drama social.
Se disse, «formas novas», estará naturalmente a passar uma certidão de óbito às que existem. Neste caso, presume-se que estejamos a falar de minas. Uma mão cheia de vento e outra cheia de nada, é a resposta dos governantes eleitos, à corrosão da democracia e do Estado que se quer justo para que também seja de Direito.