Guerra suja na Colômbia

Dirigente comunista assassinado

O dirigente comunista Carlos Bernal, presidente do Comité de Direitos Humanos de Cúcuta, na Colômbia, foi assassinado a 1 de Abril por forças paramilitares.

«Uribe conhece muito bem a situação de Cúcuta mas não faz nada»

O ataque que vitimou Carlos Bernal e o seu guarda-costas, Camilo Jiménez, vem engrossar a longa sequência de centenas de crimes levados a cabo em Cúcuta e na região do Norte de Santander, na mais completa impunidade. O controlo das forças paramilitares sobre a cidade é total, o que só é possível com a cumplicidade de importantes sectores do Estado.
Em comunicado denunciando o assassinato, o Comité para a Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) lembra que, em Fevereiro último, Carlos Bernal, juntamente com outras personalidades locais, dirigentes sindicais e populares, promoveu a criação da secção do Comité em Cúcuta, numa cerimónia realizada na sede do governo em que participou o próprio secretário do governo regional. Bernal considerava que a secção era uma necessidade, refere o documento, «dada a grave deterioração da situação de direitos humanos» na região e em particular na cidade de Cúcuta e na sua área metropolitana, já que este território «se tornou num dos mais característicos centros paramilitares do país, perante a mais aberrante indiferença e cumplicidade das autoridades».
Segundo o CDDH, «o governo do presidente Uribe conhece muito bem a situação de Cúcuta, mas não faz nada». À região têm chegado centenas de deslocados de outras províncias do departamento, zonas onde se registam ameaças, torturas, assassinatos, e outros viram-se forçados a deslocar-se de novo para outras zonas do país. Apesar desta realidade, refere o documento, «o governo do presidente Uribe continua a sua chamada “negociação” com os paramilitarismo».

Contra o genocídio

Também o Partido Comunista Colombiano (PCC), repudiando o atentado que vitimou o seu dirigente, denunciou uma vez mais a conivência entre o aparelho de Estado e os paramilitares. Neste âmbito, é elucidativo o facto de, durante o mandato de Luis Camilo Osorio como Procurador Geral, terem prescrito os processos contra altos responsáveis militares amplamente reconhecidos como organizadores de grupos paramilitares.
Na sua tomada de posição, o PCC exigiu ainda que o vice-presidente, Francisco Santos, se retracte das declarações feitas recentemente num órgão de comunicação social nacional, onde tentou explicar o genocídio de que estão a ser vítimas os membros da UP e do PCC «com infames alusões a ligações com o narcotráfico».
O PCC apelou igualmente ao apoio nacional e internacional para a realização de uma campanha exigindo o fim do genocídio, de denúncia dos projectos ditatoriais do presidente Uribe, e em prol da paz, da democracia e do direito à vida na Colômbia.
Carlos Bernal era membro do Comité Central do PCC e trabalhava actualmente como professor nas Universidades Livre e Simón Bolívar, sendo ainda secretário da Frente Social e Política. O prestigiado político foi morto na mesma altura que em Bogotá se comemorava os 25 anos da fundação do CDDH.
No sábado tiveram lugar as exéquias fúnebres, verdadeira manifestação de repúdio pelas políticas autoritárias do governo que alimentam o terrorismo de Estado e a guerra suja, e a exigir resposta para as questões que todos os democratas se colocam:
«Quantos crimes mais precisa o governo para agir? Até quando a indiferença e a impunidade?»

Mensagem do PCP

O secretariado do Comité Central do PCP enviou ao Comité Central do Partido Comunista Colombiano uma mensagem de solidariedade em que manifesta a sua «mais viva indignação» pelo assassinato de Carlos Bernal.
Repudiando e condenando «a persistência de tais actos terroristas na Colômbia», a mensagem sublinha que os mesmos só são «possíveis pela impunidade e apoio de que gozam os paramilitares por parte do governo de Álvaro Uribe e da administração norte-americana».
O PCP exige ainda «uma averiguação séria e isenta deste crime», de forma a punir os seus responsáveis.


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