Nato acende rastilho nos Balcãs

Sérvios debaixo de fogo

Duas pessoas em estado de coma é o balanço da operação militar da Nato, quarta-feira da semana passada, na cidade de Pale, situada na zona sérvia da Bósnia-Herzegovina.

«O padre Jeremia Starovlah e o seu filho Aleksandar continuam hospitalizados em Tuzla»

Um comando com cerca de quatro dezenas de homens apoiados por helicópteros atacou a casa de um padre ortodoxo em Pale, numa operação cujo objectivo era, de acordo com a versão oficial, resgatar do edifício Radovan Karadzic, ex-líder dos sérvios da Bósnia, procurado pela Aliança Atlântica, há oito anos, por alegados crimes de guerra durante o cerco a Sarajevo.
Nem Karadzic nem qualquer outro «criminoso de guerra» se encontravam na casa do religioso, arrombada a golpes de explosivos pelos militares da Nato.
Em consequência, o padre Jeremia Starovlah e o seu filho Aleksandar ficaram seriamente feridos. Ambos estão hospitalizados em Tuzla e, há medida que os dias passam, as esperanças dos familiares das vítimas decrescem. Só as máquinas de suporte de vida os separam da morte anunciada pelas bombas da Nato.

Protestos contra arrogância

Face ao incidente e aos protestos generalizados, o porta-voz da Nato no terreno tentou justificar o ataque, afirmando que a força usada foi «proporcional à ameaça».
As declarações parecem ter revoltado ainda mais a população e os representantes religiosos ortodoxos.
Cerca de duas mil pessoas manifestaram-se, quinta-feira, em Pale, contra a violência da Nato, que apelidaram de «fascistas».
Também a igreja ortodoxa reagiu veementemente contra a arbitrariedade e barbárie da investida, exigindo a punição dos responsáveis à luz do direito internacional e considerando que «tal acto de terrorismo é ainda mais grave quando é perpetrado por aqueles que se auto-intitulam combatentes do terrorismo».
Com os mesmos motivos reclamaram os representantes políticos dos sérvios da Bósnia, mas o secretário-geral da Nato, Jaap de Hoop Scheffer, manteve o discurso e foi avisando que não cessarão as operações até que Karadzic seja capturado antes da transferência de poderes para a uma missão chefiada pela União Europeia no final do ano, ou seja, custe o que custar.
Ainda na Bósnia, o alto responsável da Nato para o território, Paddy Ashdown, anunciou publicamente, domingo, a suspensão dos fundos destinados ao Partido Democrático Sérvio da Bósnia, acusando-o de usar os recursos financeiros na fuga de Karadzic e outros «criminosos de guerra».

Tensão agrava-se

A violência inter-étnica registada na província do Kosovo nas últimas semanas ameaça estender-se de novo a boa parte do território da ex-Jugoslávia.
Ao contrário do que tem sido afirmado pelos responsáveis da Nato e dos EUA, a presença de militares no terreno não visa serenar os ânimos entre os grupos étnicos que, durante mais de quatro décadas, conviveram pacificamente.
As provas encontram-se não só nas constantes operações militares no terreno, mas também nas recentes medidas levadas a cabo pela diplomacia da Nato e da administração norte-americana.
Entretanto, as recentes medidas aprovadas pelo governo sérvio, contrárias às exigências da «comunidade internacional», não agradaram a Washington, pelo que os EUA decidiram, quarta-feira da semana passada, suspender toda a ajuda financeira ao país.
Em causa, entre outros aspectos, estão declarações recentes do primeiro-ministro Vojislav Kostunica, que afirmou que a entrega de supostos criminosos de guerra às mãos do Tribunal Penal Internacional não constituíam uma prioridade.
Por outro lado, a base parlamentar de apoio do novo governo não parece ter agradado aos EUA, que se manifestaram «extremamente preocupados» pelo facto do partido do ainda presidente Slobodan Milosevic apoiar o novo executivo.


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