Números
Não há nada mais árido do que os números. Talvez porque fazem da realidade uma abstracção - e aqui radicará porventura a aversão das crianças à matemática, pouco dadas a trocar a matéria das relações com o mundo com a frieza dos conceitos. Sem números, convenhamos, o pensamento era um grande zero. Porém, quando se raciocina apenas na base dos dados numéricos, não deixamos, em boa parte, de afastar os sentimentos ou, pelo menos, fica assim o caminho aberto para a especulação e arredada a meditação sobre o caso concreto.
Vem isto a propósito dos números que, na vida de todos os dias, são o reflexo poderoso do que acontece.
Pelos números se vê a profundidade dos males do sistema e o malefício de quem governa. São os trabalhadores que vêem os seus salários diminuir enquanto o défice se vai colmatando a favor da política ditada - e não seguida - pelos grandes das Europa; é o desemprego que todos os dias acrescenta números negros ao seu rol de quase meio milhão; é o meio milhão de portugueses que consome água imprópria (enquanto o Ministério do Ambiente se dispensa de comentar), sem contar com todos aqueles que nem sequer são abastecidos por um sistema de canalização (neste campo, como do saneamento básico, é bom destrinçar o trigo do joio e verificar o grande fosso que sempre existiu entre a maioria dos municípios e os que têm sido geridos pela CDU, em que a preocupação com o bem estar das populações é a pedra de toque da administração local).
Agora, de novo, é a fome. De que toda a gente suspeitava, mas que surge hoje em números esclarecedores. São duzentos mil os portugueses que passam fome. Não se trata de uma opção pela dieta nem um ataque massivo de anorexia. É mesmo fome daquela que vem do desemprego e das magras reformas, do alto custo de vida, enquanto os bolsos do capital vão inchando. São números a reclamar outra política e não aquela que o Ministério da Segurança Social faz aprovar, indo ao ponto de afirmar que, «se fivesse números sobre a fome, localizaria as pessoas e estas seriam alimentadas» (Público, 22.3.04).
Mais uma vez, a diferença de interpretações dos números entre a direita no Governo e a «esquerda» PS não é grande. Pois não ouvimos recentemente Vítor Constâncio, antes secretário geral do PS e hoje governador do banco de Portugal, que se tem distinguido por ser mais leitista que Ferreira Leite, declarar-se surpreendido por os empresários não terem recorrido mais frequentemente ao despedimento colectivo? Para dar mais saúde à economia, supomos. E mais fome aos portugueses.
Vem isto a propósito dos números que, na vida de todos os dias, são o reflexo poderoso do que acontece.
Pelos números se vê a profundidade dos males do sistema e o malefício de quem governa. São os trabalhadores que vêem os seus salários diminuir enquanto o défice se vai colmatando a favor da política ditada - e não seguida - pelos grandes das Europa; é o desemprego que todos os dias acrescenta números negros ao seu rol de quase meio milhão; é o meio milhão de portugueses que consome água imprópria (enquanto o Ministério do Ambiente se dispensa de comentar), sem contar com todos aqueles que nem sequer são abastecidos por um sistema de canalização (neste campo, como do saneamento básico, é bom destrinçar o trigo do joio e verificar o grande fosso que sempre existiu entre a maioria dos municípios e os que têm sido geridos pela CDU, em que a preocupação com o bem estar das populações é a pedra de toque da administração local).
Agora, de novo, é a fome. De que toda a gente suspeitava, mas que surge hoje em números esclarecedores. São duzentos mil os portugueses que passam fome. Não se trata de uma opção pela dieta nem um ataque massivo de anorexia. É mesmo fome daquela que vem do desemprego e das magras reformas, do alto custo de vida, enquanto os bolsos do capital vão inchando. São números a reclamar outra política e não aquela que o Ministério da Segurança Social faz aprovar, indo ao ponto de afirmar que, «se fivesse números sobre a fome, localizaria as pessoas e estas seriam alimentadas» (Público, 22.3.04).
Mais uma vez, a diferença de interpretações dos números entre a direita no Governo e a «esquerda» PS não é grande. Pois não ouvimos recentemente Vítor Constâncio, antes secretário geral do PS e hoje governador do banco de Portugal, que se tem distinguido por ser mais leitista que Ferreira Leite, declarar-se surpreendido por os empresários não terem recorrido mais frequentemente ao despedimento colectivo? Para dar mais saúde à economia, supomos. E mais fome aos portugueses.