Haiti, ilha mártir (1)
Haiti, perto de nove milhões de habitantes em pouco menos de 28 mil km2 de território, volta a merecer a atenção dos meios de comunicação. O mesmo não sucedeu quando a ditadura de Duvalier, apoiada pelo imperialismo norte-americano e pela hierarquia católica, eliminou perto de 40 mil haitianos…
Mas o que é sabemos realmente da terra de L’Ouverture, Dessalines, Pétion e Péralte?
Todos sabemos que fica nas Caraíbas. A população é maioritariamente negra. É o país mais pobre da América Latina e talvez do mundo. E sofreu um ditador – Duvalier – durante muitos anos.
Talvez não tenhamos presente que a sua população indígena foi aniquilada pelo conquistador espanhol e substituída por mão-de-obra escrava importada da África. Que foi uma das regiões mais ricas do continente. O primeiro país latino-americano a declarar-se independente da coroa espanhola. Um exemplo de resistência ao invasor europeu e que esse apego à terra natural não lhe evitou, uma vez libertos dos espanhóis e franceses, cair nas garras do imperialismo norte-americano, até aos dias que decorrem.
Convencido de que estava na fabulosa Índia, Colombo chegou às Antilhas em 1492, quando as Caraíbas tinham uma altíssima densidade demográfica e viviam ali perto de seis milhões de americanos, entre ciboneys, taínos e arawaks. Cinco séculos depois, ainda que a população da zona se tivesse quintuplicado, esses povos originários ficaram reduzidos a uns escassos 500 mil.
Bom trabalho genocida… mesmo sem armas de destruição maciça!
Se bem que tenham sido os espanhóis os primeiros europeus a chegarem ao Haiti – então Quisqueia, que incluía a parte este (Haiti) e oeste (Dominicana) – em 1697, a França fica com o este, graças ao tratado de Ryswick. Vinte mil escravos africanos são importados todos os anos para substituir a mão-de-obra indígena, aniquilada pela fome, pelas guerras e pelas doenças trazidas pelos europeus. Rapidamente, Haiti transforma-se num território próspero de forma a ser a colónia mais importante da França naquela parte do mundo. Um século depois, os pretos aproximam-se do meio milhão, os mulatos andam pelos 60 mil e os brancos não chegam aos 20 mil. São a minoria, mas detêm todos os poderes e todas as riquezas. Tal como hoje, quando um por cento da população detém 50% da riqueza.
História de resistência …
Em 1791, um ex escravo, Toussaint L’Ouverture, inicia uma guerra revolucionária que durará até 1803 e terminará com a proclamação da primeira república negra do mundo, vários anos antes da libertação de todos os actuais países do continente americano, à excepção dos EUA.
Estes 12 anos de guerra passaram por várias etapas. Inicialmente são os petits blancs – grandes proprietários, comerciantes, escravos e brancos pobres – que se solidarizam com o movimento revolucionário que eclodira na França. Numa segunda fase, os mulatos livres alinharam igualmente com os ideais da Revolução Francesa, pensando que obteriam, na colónia, a igualdade de direitos, independentemente da cor da sua pele. Contudo, em 1790, os proprietários agrícolas brancos mostraram a sua verdadeira face e
reprimiram com ferocidade os libertos, o que forçou a que estes se aliassem, no ano seguinte, a dois grupos de escravos insurrectos, os quilombolas ou marrons. Esta divisão entre negros e mulatos marcaria desde sempre a tragédia haitiana em benefício da minoria branca.
L’Ouverture acaba por ser deportado para França e ali morre em 1803, sendo a sua bandeira de luta retomada por Jean-Jacques Dessalines, Henri Christophe e Alexandre Pétion. A unidade entre negros e mulatos obriga à capitulação dos franceses e a independência é proclamada a finais de 1803. Dessalines é um misto de nacionalista e autocrata e usa o título de imperador. Pétion e Christophe opõe-se, conspiram e Dessalines termina assassinado, em 1806. Christophe e Pétion não se entendem e acabam por dividir o território. O primeiro forma um reino, o segundo, com maior visão
política – está convencido, tal como o venezuelano Bolívar, de que só a independência de toda a América garantirá a do Haiti, assediado pelos europeus e pelos EUA – forma uma república, que governará durante 10 anos, até 1818.
Seguem-se 100 anos de grande violência política – a ilha volta a unir-se e a dividir-se definitivamente em duas partes – de guerra civil, de implacável exploração das riquezas naturais por parte das nações industrializadas e de … endividamento. E assim, em 1919, os EUA, com a desculpa do incumprimento de compromissos económicos, invadem o Haiti.
A invasão é combatida pelo Exército Revolucionário de Charlemagne Péralte, que será assassinado, vítima de traição, em 1919. Vencida a resistência autóctone, as tropas imperiais ficam ali até 1934. Nesse ano, os nacionalistas obtêm uma vitória parcial: o invasor é forçado a partir, mas mantém a sua influência sobre os destinos do país, através da Garde D’Haiti, que põe e derruba presidentes ao sabor dos interesses do império.
Mas o que é sabemos realmente da terra de L’Ouverture, Dessalines, Pétion e Péralte?
Todos sabemos que fica nas Caraíbas. A população é maioritariamente negra. É o país mais pobre da América Latina e talvez do mundo. E sofreu um ditador – Duvalier – durante muitos anos.
Talvez não tenhamos presente que a sua população indígena foi aniquilada pelo conquistador espanhol e substituída por mão-de-obra escrava importada da África. Que foi uma das regiões mais ricas do continente. O primeiro país latino-americano a declarar-se independente da coroa espanhola. Um exemplo de resistência ao invasor europeu e que esse apego à terra natural não lhe evitou, uma vez libertos dos espanhóis e franceses, cair nas garras do imperialismo norte-americano, até aos dias que decorrem.
Convencido de que estava na fabulosa Índia, Colombo chegou às Antilhas em 1492, quando as Caraíbas tinham uma altíssima densidade demográfica e viviam ali perto de seis milhões de americanos, entre ciboneys, taínos e arawaks. Cinco séculos depois, ainda que a população da zona se tivesse quintuplicado, esses povos originários ficaram reduzidos a uns escassos 500 mil.
Bom trabalho genocida… mesmo sem armas de destruição maciça!
Se bem que tenham sido os espanhóis os primeiros europeus a chegarem ao Haiti – então Quisqueia, que incluía a parte este (Haiti) e oeste (Dominicana) – em 1697, a França fica com o este, graças ao tratado de Ryswick. Vinte mil escravos africanos são importados todos os anos para substituir a mão-de-obra indígena, aniquilada pela fome, pelas guerras e pelas doenças trazidas pelos europeus. Rapidamente, Haiti transforma-se num território próspero de forma a ser a colónia mais importante da França naquela parte do mundo. Um século depois, os pretos aproximam-se do meio milhão, os mulatos andam pelos 60 mil e os brancos não chegam aos 20 mil. São a minoria, mas detêm todos os poderes e todas as riquezas. Tal como hoje, quando um por cento da população detém 50% da riqueza.
História de resistência …
Em 1791, um ex escravo, Toussaint L’Ouverture, inicia uma guerra revolucionária que durará até 1803 e terminará com a proclamação da primeira república negra do mundo, vários anos antes da libertação de todos os actuais países do continente americano, à excepção dos EUA.
Estes 12 anos de guerra passaram por várias etapas. Inicialmente são os petits blancs – grandes proprietários, comerciantes, escravos e brancos pobres – que se solidarizam com o movimento revolucionário que eclodira na França. Numa segunda fase, os mulatos livres alinharam igualmente com os ideais da Revolução Francesa, pensando que obteriam, na colónia, a igualdade de direitos, independentemente da cor da sua pele. Contudo, em 1790, os proprietários agrícolas brancos mostraram a sua verdadeira face e
reprimiram com ferocidade os libertos, o que forçou a que estes se aliassem, no ano seguinte, a dois grupos de escravos insurrectos, os quilombolas ou marrons. Esta divisão entre negros e mulatos marcaria desde sempre a tragédia haitiana em benefício da minoria branca.
L’Ouverture acaba por ser deportado para França e ali morre em 1803, sendo a sua bandeira de luta retomada por Jean-Jacques Dessalines, Henri Christophe e Alexandre Pétion. A unidade entre negros e mulatos obriga à capitulação dos franceses e a independência é proclamada a finais de 1803. Dessalines é um misto de nacionalista e autocrata e usa o título de imperador. Pétion e Christophe opõe-se, conspiram e Dessalines termina assassinado, em 1806. Christophe e Pétion não se entendem e acabam por dividir o território. O primeiro forma um reino, o segundo, com maior visão
política – está convencido, tal como o venezuelano Bolívar, de que só a independência de toda a América garantirá a do Haiti, assediado pelos europeus e pelos EUA – forma uma república, que governará durante 10 anos, até 1818.
Seguem-se 100 anos de grande violência política – a ilha volta a unir-se e a dividir-se definitivamente em duas partes – de guerra civil, de implacável exploração das riquezas naturais por parte das nações industrializadas e de … endividamento. E assim, em 1919, os EUA, com a desculpa do incumprimento de compromissos económicos, invadem o Haiti.
A invasão é combatida pelo Exército Revolucionário de Charlemagne Péralte, que será assassinado, vítima de traição, em 1919. Vencida a resistência autóctone, as tropas imperiais ficam ali até 1934. Nesse ano, os nacionalistas obtêm uma vitória parcial: o invasor é forçado a partir, mas mantém a sua influência sobre os destinos do país, através da Garde D’Haiti, que põe e derruba presidentes ao sabor dos interesses do império.