O escândalo
Sossegue o leitor que o título não quer dizer que vamos aqui fazer estendal das escandaleiras que animam por aí os jornais da praça. Nem falamos da cantora americana com a mama de fora, que deixou em estado de choque os Estados Unidos; nem de advogados que choram à beira das têvês; nem de antigos autarcas que garantem que o dinheiro metido ao bolso foi todo para o partido deles; nem da mulher do Blair que, para vergonha do marido, veio a público «achar» que o Bush é um presidente que «roubou o cargo» a Al Gore. Nem sequer vamos abordar ou fazer a lista dos candidatos a candidatos à espera de empurrão, seja lá para que cargo for.
De tão habituados, já os portugueses não reagem a escândalos desses. Os mais importantes serão aqueles que na sombra ficam a marinar até que, de repente, saltam do pote e se revelam para espanto de todos.
Parece ser um assim que o inefável Mota Amaral, um circunspecto Presidente da Assembleia da República, insiste em preparar.
Mantendo sempre um «baixo perfil» que parece ter feito esquecer a quase todos os tempos escuros da sua liderança nos Açores - arquipélago de que se descartou antes que sofresse uma derrota - João Bosco veio para o continente como quem sobe a escadaria e em breve se tornava na segunda figura desta república. Com tacto, ironia e alguma finura, tem gerido o debate e não se lhe pode atribuir com facilidade a tentação trauliteira que abunda na bancada de onde proveio. Mas eis que, logo na tomada de posse, revelou a sua tentação: acabar com «as leis supérfluas, desacreditadas ou caídas em desuso», queria ele. E, há dias, ter-se-á dirigido aos presidentes das comissões parlamentares no mesmo sentido: dedicar esforços «até ao final da legislatura a identificar e revogar toda a legislação obsoleta e inútil». Assim. Segundo reza o Expresso desta semana.
Mota Amaral terá alguma razão. Há por aí certamente muito diploma a precisar de limpeza. O que nos preocupa, porém, não é a razão que terá, mas as razões que tem para tal limpeza. Vinda de quem vem, a exortação faz temer que a maioria - que já mostrou não ter mais nada que fazer senão governar para o défice, apertando os cintos dos trabalhadores e enchendo os bolsos dos capitalistas, conseguindo, com a subserviência do Presidente da República, dar uma machadada funda nos direitos de que trabalha - ficaria agora de mãos livres para se dedicar à limpeza. Não iriam certamente esquecer-se de, com a água do banho, deitar fora o menino. Neste caso a menina... Democracia.
De tão habituados, já os portugueses não reagem a escândalos desses. Os mais importantes serão aqueles que na sombra ficam a marinar até que, de repente, saltam do pote e se revelam para espanto de todos.
Parece ser um assim que o inefável Mota Amaral, um circunspecto Presidente da Assembleia da República, insiste em preparar.
Mantendo sempre um «baixo perfil» que parece ter feito esquecer a quase todos os tempos escuros da sua liderança nos Açores - arquipélago de que se descartou antes que sofresse uma derrota - João Bosco veio para o continente como quem sobe a escadaria e em breve se tornava na segunda figura desta república. Com tacto, ironia e alguma finura, tem gerido o debate e não se lhe pode atribuir com facilidade a tentação trauliteira que abunda na bancada de onde proveio. Mas eis que, logo na tomada de posse, revelou a sua tentação: acabar com «as leis supérfluas, desacreditadas ou caídas em desuso», queria ele. E, há dias, ter-se-á dirigido aos presidentes das comissões parlamentares no mesmo sentido: dedicar esforços «até ao final da legislatura a identificar e revogar toda a legislação obsoleta e inútil». Assim. Segundo reza o Expresso desta semana.
Mota Amaral terá alguma razão. Há por aí certamente muito diploma a precisar de limpeza. O que nos preocupa, porém, não é a razão que terá, mas as razões que tem para tal limpeza. Vinda de quem vem, a exortação faz temer que a maioria - que já mostrou não ter mais nada que fazer senão governar para o défice, apertando os cintos dos trabalhadores e enchendo os bolsos dos capitalistas, conseguindo, com a subserviência do Presidente da República, dar uma machadada funda nos direitos de que trabalha - ficaria agora de mãos livres para se dedicar à limpeza. Não iriam certamente esquecer-se de, com a água do banho, deitar fora o menino. Neste caso a menina... Democracia.