Todos cheios de razão

José Casanova
Durão Barroso e os seus ministros insistem em atribuir ao anterior governo as culpas pelos muitos e graves problemas que afligem o País e a imensa maioria dos portugueses. E estão cheios de razão, a meu ver: na realidade, o governo do PS, liderado por António Guterres, foi uma autêntica desgraça para o País e para a imensa maioria dos portugueses – e foi, por isso mesmo, uma autêntica graça para a escassa minoria composta pelos chefes dos grandes grupos económicos.
É claro que, do mesmo mal se haviam queixado, logo que tomaram posse, António Guterres e os seus ministros, também eles cheios de razão, face aos muitos e graves problemas que afligiam a imensa maioria dos portugueses, fruto, obviamente, da má governação do governo anterior – um governo do PSD, liderado por Cavaco Silva e que durante mais de uma década maltratara a mesma imensa maioria dos portugueses e bemtratara os mesmíssimos chefes dos grandes grupos económicos.
Carregadíssimos de razão estavam, igualmente, Cavaco Silva e os seus ministros ao atribuírem ao governo que os antecedera – um governo de coligação PS/PSD liderado por Mário Soares, como estamos lembrados – as culpas pelos muitos e graves problemas que assolavam o País e que se traduziam numa situação infernal para a tal imensa maioria dos portugueses e numa situação paradisíaca para os tais chefes dos grandes grupos económicos.
E, recuando no tempo, por aí fora, chegaremos ao longínquo ano de 1976, o ano do pecado original... o ano do primeiro governo constitucional: o primeiro capitaneado por Mário Soares, também o primeiro a maltratar constitucional e democraticamente a imensa maioria dos portugueses e a bemtratar a minoria composta pelos chefes dos grandes grupos económicos - e que viria a ser, ainda, o primeiro da longa série de governos (que haveria de estender-se até ao actual, capitaneado por Durão Barroso) unidos pelo objectivo comum de destruir Abril praticando uma política de frontal violação da Constituição da República Portuguesa.


Mais artigos de: Opinião

Por estas e por outras

Neste país inventado pelo capricho de um conde que, segundo rezam as crónicas, para ser rei até foi capaz de bater na mãe, não será certamente motivo de espanto que haja políticos convencidos de que a melhor forma de governar é seguindo a velha máxima do «quanto mais me bates mais gosto de ti». Só assim se explica, por...

Culpados, sempre!

No «Público» de passada segunda-feira, Eduardo Cintra Torres, aludindo a referências críticas feitas por Carlos Carvalhas em entrevista à SIC Notícias sobre a atitude de órgãos de comunicação em relação ao PCP, veio escrever que o secretário-geral do PCP «tem razão». Aquele comentador assinala mesmo que «as simpatias de...

O escândalo

Sossegue o leitor que o título não quer dizer que vamos aqui fazer estendal das escandaleiras que animam por aí os jornais da praça. Nem falamos da cantora americana com a mama de fora, que deixou em estado de choque os Estados Unidos; nem de advogados que choram à beira das têvês; nem de antigos autarcas que garantem...

Conferência do belicismo

No último fim-de-semana, sob os protestos de milhares de manifestantes, realizou-se em Munique o já habitual encontro dos ministros da Defesa da NATO onde se planeiam novas guerras e se definem as variantes ideológicas da propaganda belicista e da guerra psicológica. A cimeira é organizada por Horst Teltschik, presidente...