Culpados, sempre!

Vitor Dias
No «Público» de passada segunda-feira, Eduardo Cintra Torres, aludindo a referências críticas feitas por Carlos Carvalhas em entrevista à SIC Notícias sobre a atitude de órgãos de comunicação em relação ao PCP, veio escrever que o secretário-geral do PCP «tem razão».
Aquele comentador assinala mesmo que «as simpatias de uma parte da imprensa, rádio e TV vão principalmente para o Bloco de Esquerda», que «o BE está em «estado de graça» em alguns «media» há anos e não é escrutinado elo jornalismo como os outros partidos» e que «toda a actividade do BE se destina a maximizar tempos de antena e a obter a tal simpatia».
E vai mesmo ao ponto de contar que, quando recentemente participou num debate do programa «Conselho de Estado da 2: ficou «estupefacto com as intervenções da ex-deputada Joana Amaral Dias, porque todas elas, mesmo arriscando descentrar os temas em debate, visaram apenas bajular os jornalistas e a imprensa em geral».
Acontece porém que, depois de dizer tudo isto, Eduardo Cintra Torres – era fatal como o destino – acabou por enveredar pelo antiquíssimo sofisma e velhíssimo truque (que agora estão outra vez muito na moda) que consiste em decretar que, se assim é, a culpa é do PCP!
Porque, segundo o autor, «a política faz-se em grande parte através de ideias e acções através dos «”media”» (agradecemos penhorados o ensinamento), «o BE faz tudo através dos “media”» e «o PCP quase nada faz» (certamente queria dizer que ele quase nada lê, ouve ou vê), rematando ainda que «no caso do BE o problema é dos «media» que se deixam embalar pela superficialidade do mediatismo bloquista» e que «no caso do PCP, o problema é do PCP».
Aqui chegados, não há espírito autocrítico que nos possa impedir de perguntar a Cintra Torres, já que falou no debate na 2: em que esteve a ex-deputada do BE (aliás sem qualquer especial qualificação para o tema em discussão), se também é problema ou culpa do PCP que nenhum comunista estivesse naquela mesa de debate.
É que, por ridículo que pareça, torna-se infelizmente necessário esclarecer uns quantos que a presença regular do PCP e de comunistas em debates, em destaques noticiosos e em colunas de opinião não depende da sua vontade mas dos critérios, iniciativas ou convites dos órgãos de comunicação social.
E que, ainda que por absurdo, o PCP e os comunistas pudessem dispensar a boa educação, ainda restaria o problema de as entradas para os «media» terem portas e normalmente serviços de segurança.


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