Por estas e por outras
Neste país inventado pelo capricho de um conde que, segundo rezam as crónicas, para ser rei até foi capaz de bater na mãe, não será certamente motivo de espanto que haja políticos convencidos de que a melhor forma de governar é seguindo a velha máxima do «quanto mais me bates mais gosto de ti». Só assim se explica, por exemplo, que o Governo repita - trinta anos depois de Abril - que precisamos de mais uma década para nos aproximarmos da Europa, ou que está a promover o desenvolvimento nacional quando diariamente manda encerrar escolas e ignora o encerramento de empresas.
Causticar crianças e jovens impondo-lhes deslocações de dezenas de quilómetros diários para terem acesso à educação parece, neste país de opereta, tão natural como roubar aos pobres para dar aos ricos.
Permitir, sem um estremecimento que seja, que homens e mulheres válidos, mal dobrada a casa dos 40, sejam considerados descartáveis, parece, para esta governação de direita travestida de democrata, tão lógico como sacrificar cordeiros no altar do capital.
Imolar, em nome do rigor das finanças públicas, os que vivem do seu trabalho, para beneficiar quem explora o trabalho alheio, parece, para a maioria que se governa à mesa do orçamento, tão legítimo como voltar as costas aos problemas nacionais.
A situação repete-se entre cada ciclo eleitoral, e em cada um perde-se um pouco mais do que se tinha por adquirido. Os direitos dos trabalhadores estão a saque, com o Governo a dar o exemplo ao patronato de como se mudam as regras a meio do jogo, como está a acontecer na administração pública; a democracia anda no fio da navalha, tão despojada de conteúdo que pouco mais é do que a mera formalidade de ir periodicamente às urnas; a lei fundamental está sitiada para dela se expurgar todos os resquícios de defesa dos mais elementares direitos da população.
São tempos difíceis, estes, em que mulheres se sentam no banco dos réus porque abortaram, enquanto vão prescrevendo os crimes de colarinho branco; em que trabalhadores passam ao quadro de excedentes, enquanto amigos e familiares de figuras do governo ou do «partido» recebem empregos e mordomias; em que reformados e pensionistas ficam sem acesso aos cuidados de saúde, seja por falta de transporte seja por encerramento de postos de atendimento, enquanto os mellos e companhia, igreja incluída, vão recebendo do Estado os direitos de exploração de quem tem o azar de ficar doente.
É por tudo isto e o mais que aqui não cabe por ser curto o espaço para tanto despautério, que ao ouvir Durão Barroso afirmar que não se demite, seja qual for o resultado das eleições europeias, que se torna tão importante e imprescindível dar uma resposta firme aos vendilhões do país por todas as formas ao nosso alcance. A tarefa urge. Numa altura em que já há tanta gente a tomar-nos por parvos, acenando com a miragem do «bom que vai ser» daqui a uma dúzia de anos, é de temer que aproveitando a maré apareça por aí outro conde salvador qualquer disposto a tomar-nos por súbditos. Para o caso de não terem percebido, também há quem lhes chame ditadores.
Causticar crianças e jovens impondo-lhes deslocações de dezenas de quilómetros diários para terem acesso à educação parece, neste país de opereta, tão natural como roubar aos pobres para dar aos ricos.
Permitir, sem um estremecimento que seja, que homens e mulheres válidos, mal dobrada a casa dos 40, sejam considerados descartáveis, parece, para esta governação de direita travestida de democrata, tão lógico como sacrificar cordeiros no altar do capital.
Imolar, em nome do rigor das finanças públicas, os que vivem do seu trabalho, para beneficiar quem explora o trabalho alheio, parece, para a maioria que se governa à mesa do orçamento, tão legítimo como voltar as costas aos problemas nacionais.
A situação repete-se entre cada ciclo eleitoral, e em cada um perde-se um pouco mais do que se tinha por adquirido. Os direitos dos trabalhadores estão a saque, com o Governo a dar o exemplo ao patronato de como se mudam as regras a meio do jogo, como está a acontecer na administração pública; a democracia anda no fio da navalha, tão despojada de conteúdo que pouco mais é do que a mera formalidade de ir periodicamente às urnas; a lei fundamental está sitiada para dela se expurgar todos os resquícios de defesa dos mais elementares direitos da população.
São tempos difíceis, estes, em que mulheres se sentam no banco dos réus porque abortaram, enquanto vão prescrevendo os crimes de colarinho branco; em que trabalhadores passam ao quadro de excedentes, enquanto amigos e familiares de figuras do governo ou do «partido» recebem empregos e mordomias; em que reformados e pensionistas ficam sem acesso aos cuidados de saúde, seja por falta de transporte seja por encerramento de postos de atendimento, enquanto os mellos e companhia, igreja incluída, vão recebendo do Estado os direitos de exploração de quem tem o azar de ficar doente.
É por tudo isto e o mais que aqui não cabe por ser curto o espaço para tanto despautério, que ao ouvir Durão Barroso afirmar que não se demite, seja qual for o resultado das eleições europeias, que se torna tão importante e imprescindível dar uma resposta firme aos vendilhões do país por todas as formas ao nosso alcance. A tarefa urge. Numa altura em que já há tanta gente a tomar-nos por parvos, acenando com a miragem do «bom que vai ser» daqui a uma dúzia de anos, é de temer que aproveitando a maré apareça por aí outro conde salvador qualquer disposto a tomar-nos por súbditos. Para o caso de não terem percebido, também há quem lhes chame ditadores.