Intervenção de Carlos Carvalhas

É urgente um novo rumo para a Europa

Intervindo, ao final da manhã de sábado, na reunião de Partidos da Esquerda Europeia, o secretário-geral do PCP valorizou a cooperação no terreno da campanha para o Parlamento Europeu, «tendo em conta a nossa luta comum, a experiência positiva do Grupo Unitário de Esquerda/Verde Nórdica, as posições diferenciadas e as especificidades de cada um dos nossos países».
As forças políticas que ali estavam representadas, salientou, «têm provas dadas, honram os seus compromissos, batem-se por uma União Europeia mais democrática, de pleno emprego, de igualdade de direitos na lei e na prática entre homens e mulheres, de respeito e de diálogo pelas diversas culturas, de dimensão ambiental, de “coesão económica e social” e de paz».
Para travar a actual ofensiva neoliberal, responsável pela recessão económica e o aumento do desemprego, favorecendo uma «escandalosa e obscena concentração da riqueza», Carvalhas sublinhou que «um novo rumo para a União Europeia é uma necessidade urgente, o que passa pelo reforço da influência social, política e eleitoral das forças de esquerda consequentes, da sua cooperação e da articulação e convergência entre a luta sindical e os movimentos sociais, a luta de massas e a luta institucional, a luta no território nacional e internacional».
Como um bom exemplo dessa cooperação, referiu a luta pela paz contra a invasão do Iraque: «se é verdade que não foi possível impedir a guerra, também não é menos verdade que Bush, Tony Blair ou Berlusconi, estão hoje mais isolados e desacreditados e que é cada vez mais evidente para um número cada vez maior de cidadãos, que o verdadeiro móbil da guerra não foi nem o combate ao terrorismo, nem as armas de destruição maciça, nem o ditador Saddam Hussein, mas sim o petróleo e o controlo estratégico da região. E esta é uma questão que devemos manter na ordem do dia. A devastação de um país, a desorganização da vida de milhões de seres humanos, as mortes e os estropiados não podem ficar politicamente impunes, bem assim como a hipocrisia de Bush e Blair e das suas marionetas, sejam elas Aznar, Berlusconi ou Durão Barroso.»

Um Governo da direita
e da extrema-direita


Caracterizando o Governo português como «de direita e de extrema direita, um governo reaccionário», o secretário-geral do PCP condenou o comprometimento de Portugal nesta guerra e acusou o actual executivo de ser «o principal responsável pela grave situação económica e financeira em que o país se encontra»:
«Servindo-se do pretexto das dificuldades orçamentais e das imposições do “Pacto de Estabilidade” o governo português lançou uma ofensiva sem precedentes em relação ao direito laboral, à segurança social, à saúde, às funções sociais do Estado, num descabelado ajuste de contas com o 25 de Abril.
«Apelida de reformas o que são contra-reformas. Continua a criminalizar as mulheres pela prática de aborto, sendo esta posição ainda mais chocante quando está a decorrer um vergonhoso julgamento em Aveiro, que tem merecido de muitos deputados do Parlamento Europeu um veemente repúdio.
«Prossegue também uma política de concentração da riqueza, com benefícios fiscais de milhões de euros às actividades financeiras e especulativas, enquanto aperta o cinto aos trabalhadores da Administração Pública, que mais uma vez vão ter uma diminuição dos salários reais, bem como aos reformados e aos assalariados em geral.
«Esta política reduz o mercado interno e repercute-se negativamente no pequeno comércio e nas actividades produtivas alimentando o ciclo da recessão e da diminuição das receitas do Estado fazendo novas pressões sobre o défice orçamental. Reduz-se também em vez de se aumentar o investimento público para compensar a quebra substancial do investimento privado. As consequências estão à vista: prolongamento da recessão, desindustrialização, encerramento de empresas, deslocalizações, substituição da produção nacional pela estrangeira. Mesmo nas previsões do governo, Portugal vai continuar a afastar-se da média do desenvolvimento europeu até 2007! Isto significa um cada vez maior afastamento dos padrões médios de desenvolvimento da União Europeia.»

Um partido de combate

Sobre a luta dos comunistas portugueses Carlos Carvalhas afirmou: «Pela nossa parte não temos cruzado os braços. Temos mostrado através de propostas e medidas concretas que há outros caminhos e temos combatido nas instituições e fora delas esta política e este governo tudo fazendo para lhe pôr fim o mais depressa possível.
«A luta de massas tem travado e derrotado alguns dos intentos do Governo que está hoje desacreditado. Mas é necessário dar um novo impulso nesta direcção para que se consume a sua derrota.
(...) «Sabemos que face ao actual projecto de União Europeia, às medidas anti-sociais, ao desemprego, à precarização do trabalho e à situação económica de milhões de cidadãos, a tendência para um crescente divórcio, desinteresse e abstenção dos eleitorados nas próximas eleições para o Parlamento Europeu será uma realidade.
«É necessário mobilizar o eleitorado de esquerda pois o que está em jogo não é coisa pouca para o futuro da nossa luta ao serviço dos trabalhadores, dos nossos povos e países e para o futuro da Europa e do mundo. Portugal e a União Europeia não estão condenados a esta política. Uma outra Europa e um outro mundo são possíveis e necessários!
«Pela nossa parte vamos desenvolver esforços nesse sentido, chamando a atenção dos portugueses e das portuguesas que a melhor maneira de mostrarem o seu repúdio em relação às políticas neoliberais da União Europeia e às políticas retrógradas, erradas e injustas deste governo, não é pela abstenção, mas sim pelo voto, premiando e dando mais força aqueles que se distinguem por cumprirem as suas promessas, pela sua coerência, pela sua intervenção empenhada em defesa das justas reivindicações dos trabalhadores e dos povos, por lutarem pela transformação social, por um Portugal de progresso e justiça numa Europa de paz de pleno emprego e de coesão económica e social.(...)»


Mais artigos de: Europa

Esquerda europeia reforça cooperação

Quinze partidos de esquerda da Europa reuniram-se em Lisboa no passado sábado, dia 7, a convite do PCP, para discutir a situação na Europa e a sua intervenção nas eleições para o Parlamento Europeu.

Heloísa Apolónia é candidata de «Os Verdes»

O Conselho Nacional do Partido Ecologista «Os Verdes», reunido no sábado, 7, decidiu indicar a deputada à AR, Heloísa Apolónia, como primeira candidata do partido a integrar as listas da CDU.

Exigir apoios

A eurodeputada comunista Ilda Figueiredo apelou ao Governo para que exija da União Europeia apoios à criação de marcas próprias bem como à investigação e à inovação das empresas do sector têxtil e do vestuário.Numa visita ao distrito de Castelo Branco, realizada no dia 5, Ilda Figueiredo chamou a atenção para a resolução...

Greve maciça na saúde

Mais de 150 mil profissionais da saúde, entre médicos, farmacêuticos e outros especialistas, realizaram na segunda-feira, 9, uma greve sem precedentes em Itália, que paralisou por completo o sistema público.Convocada por 42 sindicatos, a jornada teve como objectivo protestar contra o corte de verbas, a reforma do sector...

Para só referir o que será de mais importante e oportuno

Poderia esperar-se que o final da «legislatura», os escassos meses que nos separam de 13 de Junho, fosse calmo em Bruxelas e Estrasburgo, com todas as atenções voltadas para os países, para os Estados-membros, que é onde se vão realizar as eleições, em listas nacionais, propostas por partidos e coligações nacionais,...