«Velha meretriz»

Carlos Gonçalves
Mesmo tratando-se de Alberto João Jardim (AJJ), o título seria aqui desadequado, salvo, como é o caso, por elementar respeito pelo que o próprio («a brincar») diz de si mesmo - «sou uma velha meretriz, já perdi a vergonha». O axioma, que ninguém contraditou, juntou-se há dias ao «album de máximas de AJJ» e teve pretexto na afirmação duma responsável da ONG «Inocência em Perigo» de que «a pedofilia internacional continua a recrutar crianças na Madeira».
Para AJJ, tudo não passa duma «campanha contra a RAMadeira» em «período pré-eleitoral», pois «há algumas ONG ligadas ao Partido Comunista». Tudo claro, os alertas são meras «manobras comunistas». Foi assim no caso do Padre Frederico, nas denúncias de 1998, relembradas pela Ordem dos Advogados, e é assim agora. A «verdade oficial» da RAM, com a infeliz chancela de responsáveis judiciários, é absurda – «nada há a recear, fazer ou investigar».
E o absurdo é apenas a outra face da arrogância e do autoritarismo de AJJ, Jaime Ramos & amigalhaços, do Governo e do PSD regionais, de facto asfixiantes na vida dos cidadãos, no acesso ao emprego e à habitação, na cultura e no desporto, no controlo económico, político e ideológico, na teia clientelar de envolvimentos e cumplicidades e nos mecanismos de decisão, onde vigora um regime mais permissivo de incompatibilidades dos titulares de cargos políticos.
Quando AJJ se diz «velha meretriz» não se refere apenas a si próprio, filho família do «antigamente», dirigente da velha direita de pulsões separatistas e do aparelho de dominação que construíu como Presidente perpétuo do Governo Regional (desde 1978), fala também do «modelo» de crescimento da economia regional, dependente, subsidiada e com graves lacunas de desenvolvimento humano e justiça social, fala dos velhos truques de incumprimento orçamental e das dívidas nunca pagas, das chantagens sobre os Orgãos de Soberania, das ameaças de purga no Aparelho de Estado e na Justiça, que quer meter no bolso da Quinta Vigia, fala do referendo golpista da CRP e da famigerada «4.ª República», esvaziada da «chachada» democrática e (quase) tão velha como a do 28 de Maio.
É assim AJJ e o seu «regime», uma espécie de alter-ego e desígnio da direita que nos calhou em azar, seguramente «sem vergonha» e («a brincar») tão «madama» como «meretriz».


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