Estados Unidos: Projecto censura (I)

Pedro Campos
Em 1967, nos tempos de Watergate, o Dr. Carl Jensen, professor emérito da Universidade de Sonoma, deu vida ao Projecto Censura que, a partir de 1996, foi continuado pelo seu colega Dr. Peter Williams, da mesma casa de estudos.
Mas em que é que consiste o Projecto Censura? Segundo o sítio da organização, a sua missão é educar o público sobre o papel do jornalismo independente numa sociedade democrática e destacar a importância de tornar notícia o que não chegou a ser notícia… nos principais meios de comunicação maciça.
Em síntese, é um estudo sobre a censura jornalística no país que pretende ser o campeão da liberdade.
No seguimento deste esforço, a Universidade de Sonoma acaba de apresentar ao público os 25 temas mais censurados, durante o ano passado, por parte dos grandes média dos Estados Unidos. As 25 histórias aparecem publicadas num anuário com o sugestivo nome de «Censurado: As notícias que não foram notícias». É, na verdade, uma lista relativamente pequena, na medida em que se refere somente aos finalistas de um conjunto bastante mais abrangente.
Todos os anos, entre 700 e 1000 temas são apresentados à consideração do Projecto Censura, por parte de jornalistas, estudantes, bibliotecários e outros especialistas preocupados com o estado da liberdade de imprensa.
Posteriormente, um grupo de perto de 200 membros da Universidade, entre professores e alunos, estuda os temas submetidos, em termos de divulgação, conteúdo, fiabilidade das fontes, importância e outros critérios igualmente exigentes. É desta grande lista que saem os 25 finalistas, que são finalmente hierarquizados por figuras como Noam
Chomsky, Susan Faludi, George Gerbner, Sut Jhally, entre várias outras.

As histórias que (não) fazem parte da história oficial

Na edição deste ano, entre os 25 temas censurados, aparecem os seguintes:
· Segurança nacional vs direitos humanos e civis nos EUA;
· EUA elimina ilegalmente páginas do relatório sobre o Iraque;
· Os planos de Rumsfeld para provocar acções dos terroristas;
· Bush utilizou armas de destruição maciça contra a sua própria gente;
· No Afeganistão dá-se prioridade ao financiamento dos grupos paramilitares em lugar de à «fundação da democracia»;
· EUA responsável pelo massacre de talibãs;
· O regime de Bush esteve envolvido no fracassado golpe militar de Abril 2001 contra Hugo Chávez (Venezuela);
· O exército dos EUA está em guerra contra o planeta;
· O dólar norte-americano vs o euro, outra razão para invadir o Iraque;
· A ajuda dos EUA a Israel alimenta a ocupação repressiva na Palestina;
· Corporações condenadas, em lugar de castigo, recebem favores.
A lista completa e respectivo estudo aparece numa edição de Seven Stories (Nova Iorque), que se edita em vários idiomas, numa tiragem de 25 mil exemplos, ao preço unitário de 25 dólares.
Estas publicações, pouco conhecidas da mainstream do jornalismo norte-americano – em 27 anos de vida, jamais foram mencionadas, por exemplo, pelo New York Times, considerado, vá lá a gente saber porquê, um jornal liberal – já foram, contudo, premiadas, em várias ocasiões, pela sua importância como formas de expressão de um jornalismo de alternativa, preocupado com o crescente regime monopolista que se abate sobre os meios dos Estados Unidos, tanto impressos como radioeléctricos.
Para além de qualquer sofisma, a prática ensina, cada dia, que a «liberdade de expressão» de que falam os donos dos grandes monopólios informativos, não é, de modo algum, a mesma a que aspira – e de que necessita – o cidadão comum para tomar as suas opções mais fundamentais.
Nos Estados Unidos – e, em geral, em todo o mundo do capitalismo selvagem – cada vez se minimizam mais, ou são simplesmente eliminadas, as regulações que, timidamente e desde os tempos de Roosevelt, tratavam de evitar o pensamento único nos meios de comunicação. Cada dia que passa, a concentração é maior nas mãos de cada vez menos «donos» da verdade. Um só exemplo: Clear Channel, no Texas, controla 1500 estacões de rádio nos Estados Unidos e está presente noutros 65 países…
A Internet não corre com melhor sorte…
Diz-se que a Internet é livre. É uma ilusão. O Projecto Censura reflecte sobre o tema e comprova que os sintomas mais visíveis não tão são saudáveis como se poderia pensar. Arthur Stamoulis, em Slamming Shut Open Access, debruça-se sobre o assunto e alerta-nos sobre os perigos que espreitam o fluxo da informação na rede.
Mas este ponto será tratado no próximo artigo, onde se verá que a concentração da propriedade se dá igualmente na Internet.


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