A falta de qualificação dos empresários portugueses
Uma das causas que tem sido apontada com frequência crescente para explicar o atraso do País é a baixa escolaridade e a baixa qualificação profissional da população empregada. Muitos pensam que tal situação se refere apenas aos trabalhadores.
No entanto, isso não corresponde à verdade. Pode-se mesmo afirmar, como se irá provar, que o problema mais grave neste campo é precisamente a baixa escolaridade e a baixa qualificação profissional da generalidade dos patrões portugueses. E isto porque são precisamente estes que dirigem as empresas constituindo, por motivos evidentes, a sua baixa qualificação um obstáculo importante ao desenvolvimento e consolidação das empresas e, consequentemente, do país.
Neste pequeno trabalho de investigação mostrar-se-á que é precisamente no lado empresarial que se situam os principais bloqueios ao desenvolvimento ao País neste campo que por terem permanecido na sombra não são conhecidos por muitos portugueses, mas que urge trazer para a luz do dia para poderem ser debatidos e resolvidos.
Os dados utilizados neste trabalho constam de estudos elaborados pelo Centro de Investigações Regionais e Urbanas do Instituto Superior de Economia e Gestão, portanto de uma instituição universitária credível, e foram realizados a pedido do Departamento de Estudos, Estatística e Planeamento do Ministério do Trabalho. As conclusões destes estudos foram apresentados num seminário organizado também por aquele Departamento e pelo Instituto de Gestão do Fundo Social Europeu, um organismo igualmente tutelado pelo Ministério do Trabalho, que se realizou no dia 9 de Dezembro de 2003 no CULTURGEST em Lisboa.
Divulgar e reflectir sobre esses dados é importante porque eles permitem ficar a conhecer melhor aspectos relevantes do modelo de desenvolvimento dominante em Portugal causador também do atraso e da grave crise que o País enfrenta.
Os novos empresários portugueses
têm menos de 8 anos de escolaridade
Os estudos tiveram como base a análise dos dados dos quadros de pessoal referente ao período compreendido entre 1991 e 2000, portanto abrange um período suficientemente longo para se poderem tirar conclusões válidas, por um lado, e, por outro lado, diz respeito a um período recente portanto essas conclusões continuam a ser válidas no momento actual e a reflectir a realidade empresarial portuguesa.
Assim, de acordo com as conclusões de um desses estudos que tem o titulo «Indicadores de Empreendedorismo e Inovação» em Portugal, os novos patrões portugueses que apareceram no período 1991-2000 «em termos de escolaridade, apresentam uma média de 7,7 anos de escolaridade» (pág. 13), portanto uma escolaridade manifestamente insuficiente para poder responder aos desafios que as empresas enfrentam no mundo actual. Por outro lado, é evidente que se os novos patrões da última década do século XX possuíam em média uma escolaridade tão baixa – menos de 8 anos de escolaridade – então é legitimo concluir que a média de escolaridade dos antigos patrões portugueses, isto é, dos que ascenderam à classe de empresários antes de 1991 é ainda mais baixa, o que não deixa de ser extremamente grave e dá bem uma ideia da dimensão dos problemas existentes neste campo.
Outra característica importante dos novos patrões portugueses também revelada pelo mesmo estudo, que define bem o seu perfil psicológico, é que embora a maioria possuísse baixa escolaridade e baixas qualificações profissionais antes de serem patrões, logo que ascendem à classe de empresários autoclassificam-se como «quadros superiores» aparecendo nos quadros de pessoal das empresas incluídos em tal categoria.
O quadro seguinte construído com dados constantes do mesmo estudo mostra a ascensão rápida em termos formais das qualificações dos empresários portugueses, ou seja, através de um «passe de mágica», eles passam rapidamente da categoria de «qualificados» ou mesmo de «não qualificados» e «aprendizes» à categoria de «quadros superiores» embora essa passagem não corresponda, como é evidente, a qualquer aumento efectivo e real de qualificações dos patrões portugueses.
Os dados do quadro I mostram que cerca de 55% dos novos empresários surgidos no período compreendido entre 1991 e 2000, antes de serem empresários possuíam a categoria de «qualificados», «não qualificados» e mesmo «aprendizes». No entanto, logo que se tornaram patrões cerca de 80% dos que pertenciam às categorias profissionais anteriores autoclassificaram-se como «quadros superiores». É evidente que mudança súbita na categoria profissional não corresponde a qualquer aumento real e efectivo de qualificação profissional.
É fácil de compreender que com patrões com o nível de escolaridade baixo referido anteriormente e com aumento de qualificações obtidos desta forma é difícil ou mesmo quase impossível recuperar o atraso em que o País se encontra. E isto porque a esmagadora maioria deles não possui as competências necessárias quer para enfrentar com êxito os desafios de uma concorrência cada vez mais global quer para introduzir novos produtos, novos processos tecnológicos, novas formas de organização do trabalho e novas formas de distribuição (marca., marketing, canais de distribuição, etc.) que aquela concorrência exige. Num seminário organizado pela AIP em Novembro de 2002, uma das conclusões de uma das secções foi precisamente essa:- que o actual nível de qualificação dos empresários portugueses constitui um importante travão à introdução considerada no sentido amplo nas empresas.
Dados constantes também dos referidos estudos sobre a taxa de entrada líquida de empresas confirmam também a incapacidade crescente revelada pelos patrões portugueses para enfrentar os desafios do mundo actual.
Assim, a taxa de entrada liquida de empresas, que se obtém subtraindo à taxa de entrada bruta (nº de unidade criadas em cada ano a dividir pelo nº de empresas existentes) a taxa de saída bruta (nº de empresas encerradas em cada ano a dividir pelo nº de empresas existentes) teve a seguinte evolução nos últimos anos: 1990: 7,1%; 1991:6,5%; 1992: 4,7%; 1996: 4,6%; 1997:4,5%; 1998: 3,3%; 1999: 2,1%. (Estudo sobre a Demografia de Estabelecimentos, pág. 43); portanto, uma tendência clara de diminuição.
Esta tendência decrescente resulta da verificação do seguinte: - o aumento de empresas encerradas em cada ano está a crescer a uma taxa muito superior ao aumento de empresas novas criadas em cada ano. De acordo com o mesmo estudo, em 1999, o número de empresas criadas foi superior ao número de empresas criadas em 1990 em cerca de 75%, enquanto o número de empresas encerradas em 1999 foi superior ao número de empresas encerradas em 1990 em 192%, ou seja, o crescimento verificado no número de empresas encerradas foi percentualmente superior em mais de duas vezes ao aumento observado no crescimento percentual de novas empresas criadas. Fica assim claro, através da linguagem fria dos números, a incapacidade crescente dos patrões portugueses para manterem em funcionamento as empresas existentes ou criadas.
Estes dados também provam a falta der veracidade de umas das conclusões do estudo elaborado pela empresa americana Mckinsey, que considerou que o chamado «legado industrial» ou «herança industrial», ou seja, a «escassez de capacidade de gestão/técnicas», não contribuía em nada para a baixa produtividade portuguesa (pág. 22).
Efectivamente, contrariamente ao que consta das conclusões da empresa americana Mckinsey, conclusões essas agora transformadas em cartilha neoliberal do actual governo, os dados constantes dos estudos elaborados pelo Centro de Investigação do Instituto Superior de Economia e de Gestão provam claramente, a nosso ver, que a insuficiente escolaridade e a baixa qualificação profissional da esmagadora maioria dos patrões portugueses, assim como a arrogância e a autosuficiência que os caracterizam, constituem obstáculos importantes à recuperação do atraso que o País enfrenta assim como à substituição do actual modelo de desenvolvimento baseado em investimento de baixa qualidade e em trabalho pouco qualificado e mal pago, por um modelo assente na inovação no sentido amplo, no investimento de qualidade e em trabalho qualificado e bem pago.
Uma medida que podia e devia ser tomada para alterar a situação grave que existe neste campo, medida essa que temos vindo a defender, seria a de se exigir a quem quisesse ser empresário um certificado que garantisse que possuía as competências mínimas necessárias para tal função e, no caso de as não possuir, que fosse obrigado a obtê-las antes através de formação adequada.
As qualificações dos trabalhadores
não são reconhecidas pelas empresas
Num outro estudo denominado «Qualificações dos Trabalhadores Portugueses» também realizado com base na análise dos quadros de pessoal são apresentados dois índices que permitem obter uma ideia clara sobre a evolução das qualificações profissionais em Portugal na última década do séc. XX.
Esses índices construídos pelo Centro de Investigações Regionais e Urbanas do Instituto Superior de Economia e Gestão são o «Índice de Qualificação» e o «Índice Compósito de Qualificação».
O primeiro – Índice de Qualificação – (relação entre população activa qualificada e não qualificada) traduz a evolução das qualificações profissionais que têm expressão a nível dos quadros de pessoal das empresas, ou seja, as qualificações que são reconhecidas pelas empresas e que têm reflexo a nível das remunerações recebidas pelos trabalhadores.
O segundo índice, o chamado Índice Compósito de Qualificação, incorpora a escolaridade do trabalhador (anos de escolaridade) e a experiência profissional do trabalhador (experiência potencial do mercado de trabalho que é condicionada pelo número de anos de escolaridade), ou seja, é um índice que traduz com maior precisão a evolução da qualificação efectiva e reais dos trabalhadores.
O quadro II que se apresenta seguidamente mostra a diferença entre as qualificações profissionais reconhecidas pelas empresas e as qualificações efectivas dos trabalhadores.
Os dados do quadro II mostram que as qualificações profissionais efectivas, traduzidas pelo Índice Compósito de Qualificação, aumentaram em Portugal, no período compreendido entre 1991 e 2000, muito mais do que as qualificações reconhecidas e remuneradas pelas empresas que têm tradução no Índice de Qualificação (as qualificações efectivas cresceram 2,7 vezes mais do que as qualificações reconhecidas).
Estes dados de um estudo realizado por um centro de investigação de uma entidade universitária credível e independente – o Instituto Superior de Economia e Gestão - feito por solicitação do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, confirmam aquilo que os sindicatos têm sempre afirmando ( uma parte significativa das qualificações dos trabalhadores não são nem reconhecidas nem remuneradas pelas empresas), por um lado, e, por outro lado, mostram a necessidade de reformular todo o sistema de certificação profissional como temos vindo a defender, de forma que as competências obtidas pelos trabalhadores através da experiência e/ou por meio da formação profissional sejam certificadas, e essa certificação tenha um reflexo efectivo na progressão na carreira profissional do trabalhador. Isso seria também uma forma de tornar a formação profissional motivadora para o trabalhador porque o esforço dispendido na formação seria assim reconhecido e recompensado, o que não acontece actualmente.
As desigualdades a nível de sexo
continuam a aumentar em Portugal
Contrariamente ao que muitos pensam ou afirmam as desigualdades de remunerações entre géneros estão a aumentar em Portugal como também provam as conclusões de um dos estudos realizados. Os dados do quadro III mostram com clareza o aumento da desigualdade verificada no período compreendido entre 1991 e 2000
Num período de 10 anos, o aumento verificado nos ganhos médios em termos reais, portanto descontando o efeito do crescimento dos preços, dos homens foi superior aos das mulheres em mais de 45%. Desta forma o fosso entre as remunerações dos homens e das mulheres, que já era grande, cresceu, aumentando ainda mais as já graves desigualdades existentes entre géneros no campo das remunerações. E isto apesar das muitas declarações oficiais em contrário e dos muitos programas e organismos oficiais que visam combater precisamente a desigualdades de oportunidades entre homens e mulheres no nosso País.
Neste pequeno trabalho de investigação mostrar-se-á que é precisamente no lado empresarial que se situam os principais bloqueios ao desenvolvimento ao País neste campo que por terem permanecido na sombra não são conhecidos por muitos portugueses, mas que urge trazer para a luz do dia para poderem ser debatidos e resolvidos.
Os dados utilizados neste trabalho constam de estudos elaborados pelo Centro de Investigações Regionais e Urbanas do Instituto Superior de Economia e Gestão, portanto de uma instituição universitária credível, e foram realizados a pedido do Departamento de Estudos, Estatística e Planeamento do Ministério do Trabalho. As conclusões destes estudos foram apresentados num seminário organizado também por aquele Departamento e pelo Instituto de Gestão do Fundo Social Europeu, um organismo igualmente tutelado pelo Ministério do Trabalho, que se realizou no dia 9 de Dezembro de 2003 no CULTURGEST em Lisboa.
Divulgar e reflectir sobre esses dados é importante porque eles permitem ficar a conhecer melhor aspectos relevantes do modelo de desenvolvimento dominante em Portugal causador também do atraso e da grave crise que o País enfrenta.
Os novos empresários portugueses
têm menos de 8 anos de escolaridade
Os estudos tiveram como base a análise dos dados dos quadros de pessoal referente ao período compreendido entre 1991 e 2000, portanto abrange um período suficientemente longo para se poderem tirar conclusões válidas, por um lado, e, por outro lado, diz respeito a um período recente portanto essas conclusões continuam a ser válidas no momento actual e a reflectir a realidade empresarial portuguesa.
Assim, de acordo com as conclusões de um desses estudos que tem o titulo «Indicadores de Empreendedorismo e Inovação» em Portugal, os novos patrões portugueses que apareceram no período 1991-2000 «em termos de escolaridade, apresentam uma média de 7,7 anos de escolaridade» (pág. 13), portanto uma escolaridade manifestamente insuficiente para poder responder aos desafios que as empresas enfrentam no mundo actual. Por outro lado, é evidente que se os novos patrões da última década do século XX possuíam em média uma escolaridade tão baixa – menos de 8 anos de escolaridade – então é legitimo concluir que a média de escolaridade dos antigos patrões portugueses, isto é, dos que ascenderam à classe de empresários antes de 1991 é ainda mais baixa, o que não deixa de ser extremamente grave e dá bem uma ideia da dimensão dos problemas existentes neste campo.
Outra característica importante dos novos patrões portugueses também revelada pelo mesmo estudo, que define bem o seu perfil psicológico, é que embora a maioria possuísse baixa escolaridade e baixas qualificações profissionais antes de serem patrões, logo que ascendem à classe de empresários autoclassificam-se como «quadros superiores» aparecendo nos quadros de pessoal das empresas incluídos em tal categoria.
O quadro seguinte construído com dados constantes do mesmo estudo mostra a ascensão rápida em termos formais das qualificações dos empresários portugueses, ou seja, através de um «passe de mágica», eles passam rapidamente da categoria de «qualificados» ou mesmo de «não qualificados» e «aprendizes» à categoria de «quadros superiores» embora essa passagem não corresponda, como é evidente, a qualquer aumento efectivo e real de qualificações dos patrões portugueses.
Os dados do quadro I mostram que cerca de 55% dos novos empresários surgidos no período compreendido entre 1991 e 2000, antes de serem empresários possuíam a categoria de «qualificados», «não qualificados» e mesmo «aprendizes». No entanto, logo que se tornaram patrões cerca de 80% dos que pertenciam às categorias profissionais anteriores autoclassificaram-se como «quadros superiores». É evidente que mudança súbita na categoria profissional não corresponde a qualquer aumento real e efectivo de qualificação profissional.
É fácil de compreender que com patrões com o nível de escolaridade baixo referido anteriormente e com aumento de qualificações obtidos desta forma é difícil ou mesmo quase impossível recuperar o atraso em que o País se encontra. E isto porque a esmagadora maioria deles não possui as competências necessárias quer para enfrentar com êxito os desafios de uma concorrência cada vez mais global quer para introduzir novos produtos, novos processos tecnológicos, novas formas de organização do trabalho e novas formas de distribuição (marca., marketing, canais de distribuição, etc.) que aquela concorrência exige. Num seminário organizado pela AIP em Novembro de 2002, uma das conclusões de uma das secções foi precisamente essa:- que o actual nível de qualificação dos empresários portugueses constitui um importante travão à introdução considerada no sentido amplo nas empresas.
Dados constantes também dos referidos estudos sobre a taxa de entrada líquida de empresas confirmam também a incapacidade crescente revelada pelos patrões portugueses para enfrentar os desafios do mundo actual.
Assim, a taxa de entrada liquida de empresas, que se obtém subtraindo à taxa de entrada bruta (nº de unidade criadas em cada ano a dividir pelo nº de empresas existentes) a taxa de saída bruta (nº de empresas encerradas em cada ano a dividir pelo nº de empresas existentes) teve a seguinte evolução nos últimos anos: 1990: 7,1%; 1991:6,5%; 1992: 4,7%; 1996: 4,6%; 1997:4,5%; 1998: 3,3%; 1999: 2,1%. (Estudo sobre a Demografia de Estabelecimentos, pág. 43); portanto, uma tendência clara de diminuição.
Esta tendência decrescente resulta da verificação do seguinte: - o aumento de empresas encerradas em cada ano está a crescer a uma taxa muito superior ao aumento de empresas novas criadas em cada ano. De acordo com o mesmo estudo, em 1999, o número de empresas criadas foi superior ao número de empresas criadas em 1990 em cerca de 75%, enquanto o número de empresas encerradas em 1999 foi superior ao número de empresas encerradas em 1990 em 192%, ou seja, o crescimento verificado no número de empresas encerradas foi percentualmente superior em mais de duas vezes ao aumento observado no crescimento percentual de novas empresas criadas. Fica assim claro, através da linguagem fria dos números, a incapacidade crescente dos patrões portugueses para manterem em funcionamento as empresas existentes ou criadas.
Estes dados também provam a falta der veracidade de umas das conclusões do estudo elaborado pela empresa americana Mckinsey, que considerou que o chamado «legado industrial» ou «herança industrial», ou seja, a «escassez de capacidade de gestão/técnicas», não contribuía em nada para a baixa produtividade portuguesa (pág. 22).
Efectivamente, contrariamente ao que consta das conclusões da empresa americana Mckinsey, conclusões essas agora transformadas em cartilha neoliberal do actual governo, os dados constantes dos estudos elaborados pelo Centro de Investigação do Instituto Superior de Economia e de Gestão provam claramente, a nosso ver, que a insuficiente escolaridade e a baixa qualificação profissional da esmagadora maioria dos patrões portugueses, assim como a arrogância e a autosuficiência que os caracterizam, constituem obstáculos importantes à recuperação do atraso que o País enfrenta assim como à substituição do actual modelo de desenvolvimento baseado em investimento de baixa qualidade e em trabalho pouco qualificado e mal pago, por um modelo assente na inovação no sentido amplo, no investimento de qualidade e em trabalho qualificado e bem pago.
Uma medida que podia e devia ser tomada para alterar a situação grave que existe neste campo, medida essa que temos vindo a defender, seria a de se exigir a quem quisesse ser empresário um certificado que garantisse que possuía as competências mínimas necessárias para tal função e, no caso de as não possuir, que fosse obrigado a obtê-las antes através de formação adequada.
As qualificações dos trabalhadores
não são reconhecidas pelas empresas
Num outro estudo denominado «Qualificações dos Trabalhadores Portugueses» também realizado com base na análise dos quadros de pessoal são apresentados dois índices que permitem obter uma ideia clara sobre a evolução das qualificações profissionais em Portugal na última década do séc. XX.
Esses índices construídos pelo Centro de Investigações Regionais e Urbanas do Instituto Superior de Economia e Gestão são o «Índice de Qualificação» e o «Índice Compósito de Qualificação».
O primeiro – Índice de Qualificação – (relação entre população activa qualificada e não qualificada) traduz a evolução das qualificações profissionais que têm expressão a nível dos quadros de pessoal das empresas, ou seja, as qualificações que são reconhecidas pelas empresas e que têm reflexo a nível das remunerações recebidas pelos trabalhadores.
O segundo índice, o chamado Índice Compósito de Qualificação, incorpora a escolaridade do trabalhador (anos de escolaridade) e a experiência profissional do trabalhador (experiência potencial do mercado de trabalho que é condicionada pelo número de anos de escolaridade), ou seja, é um índice que traduz com maior precisão a evolução da qualificação efectiva e reais dos trabalhadores.
O quadro II que se apresenta seguidamente mostra a diferença entre as qualificações profissionais reconhecidas pelas empresas e as qualificações efectivas dos trabalhadores.
Os dados do quadro II mostram que as qualificações profissionais efectivas, traduzidas pelo Índice Compósito de Qualificação, aumentaram em Portugal, no período compreendido entre 1991 e 2000, muito mais do que as qualificações reconhecidas e remuneradas pelas empresas que têm tradução no Índice de Qualificação (as qualificações efectivas cresceram 2,7 vezes mais do que as qualificações reconhecidas).
Estes dados de um estudo realizado por um centro de investigação de uma entidade universitária credível e independente – o Instituto Superior de Economia e Gestão - feito por solicitação do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, confirmam aquilo que os sindicatos têm sempre afirmando ( uma parte significativa das qualificações dos trabalhadores não são nem reconhecidas nem remuneradas pelas empresas), por um lado, e, por outro lado, mostram a necessidade de reformular todo o sistema de certificação profissional como temos vindo a defender, de forma que as competências obtidas pelos trabalhadores através da experiência e/ou por meio da formação profissional sejam certificadas, e essa certificação tenha um reflexo efectivo na progressão na carreira profissional do trabalhador. Isso seria também uma forma de tornar a formação profissional motivadora para o trabalhador porque o esforço dispendido na formação seria assim reconhecido e recompensado, o que não acontece actualmente.
As desigualdades a nível de sexo
continuam a aumentar em Portugal
Contrariamente ao que muitos pensam ou afirmam as desigualdades de remunerações entre géneros estão a aumentar em Portugal como também provam as conclusões de um dos estudos realizados. Os dados do quadro III mostram com clareza o aumento da desigualdade verificada no período compreendido entre 1991 e 2000
Num período de 10 anos, o aumento verificado nos ganhos médios em termos reais, portanto descontando o efeito do crescimento dos preços, dos homens foi superior aos das mulheres em mais de 45%. Desta forma o fosso entre as remunerações dos homens e das mulheres, que já era grande, cresceu, aumentando ainda mais as já graves desigualdades existentes entre géneros no campo das remunerações. E isto apesar das muitas declarações oficiais em contrário e dos muitos programas e organismos oficiais que visam combater precisamente a desigualdades de oportunidades entre homens e mulheres no nosso País.