Reflexões a partir de uma conversa com um «jota»
Conversava com um camarada da «Jota» e a conversa começava a animar quando ele me disse: «É pá! Tenho de me ir embora porque amanhã tenho um teste de economia central...».
Não o deixei partir assim, e quis saber que era isso da «economia central»...
Embora a fugir, lá me explicou o suficiente para me deixar a pensar. E muito!
Da conversa rápida com aquele camarada fiquei com a ideia de que a tal «economia central», de que ele ainda tinha que aprontar a preparação para o teste do dia seguinte, era a chamada «economia de direcção central», assimilada ao socialismo/comunismo real, que... «fora chão que dera uvas» (poucas e más) e de que apenas sobrava um esgalhito chamado Cuba. Que, aliás, estava pela «hora da morte», e só resistia enquanto o «velho ditador» fosse vivo.
Acrescentou, já mesmo a correr para casa e para os livros e apontamentos, que essa tal «economia central» (ou de «direcção central») seria uma economia não-aberta, fechada ao mundo, às descobertas e modernidades, às suas relações cada vez mais estreitas e globais.
No entanto, ainda teve tempo para me dizer, já mesmo a fugir, que ele não estava de acordo com isto e que, na aula, até falara do bloqueio dos Estados Unidos a Cuba para contrariar essa ideia de país e regime fechado e que, nesse caso pelo menos, tal ausência de abertura ao mundo seria imposição e não opção. Mas o teste impunha que não esquecesse o ensinado...
Lá tive de o deixar ir. Mas fiquei com «a pulga atrás da orelha». E como a orelha está muito perto do sítio onde mora a massa cinzenta (por pouca que seja), esta não parou de trabalhar. E construi um «puzzle» a partir da peça que o camarada da «Jota» me proporcionara, juntando-a a outras que andavam um bocado dispersas, mas todas à volta do «ensino da economia».
Na verdade, se ao nível do secundário se dá uma visão geral da economia dividida entre a que é moderna (modernaça), aberta, actualizada, práfrentex, embora com os problemas naturais do que cresce, e aquela que «já foi», que não passou de uma desgraçada experiência de que hoje resta o que se diz ser a situação em Cuba, e com os efeitos de que nos podemos aperceber através dos imigrantes que vêm até nós à procura de um futuro que nas suas terras teria sido hipotecado por esses anos de «economia central», e se de tal «economia» se não fala no nível superior, nem mesmo nas áreas que de economia e gestão são, tudo isso se compatibiliza (e contabiliza) numa enorme pressão ideológica, de classe, que «faz a cabeça» de todos nós.
Se assim é, o jovem que acaba o ensino secundário, e que nele foi apresentado à economia, mesmo que, depois, siga áreas de economia (e de gestão... como se esta fosse algo independente da economia), ficaria apenas com o conhecimento paupérrimo e falseado do marxismo – e de experiências reais que neste se basearam – que, em muitos casos sem má fé, lhe foi dado nesses verdes anos... Até porque, nessas áreas do ensino superior, em que incluo o politécnico e o universitário, há «tanto para dar» sobre finanças, técnicas, métodos quantitativos, que não sobra tempo para a economia política, e muito menos para a crítica da economia política.
Mais sorte teve – isto é uma maneira de dizer... – quem estudou estas matérias no tempo do fascismo. O comunismo era um papão e um tabú, mas um tabú de que se fazia a aprendizagem na clandestinidade. Mas não só, porque, por outro lado, houve quem tivesse tido a sorte – esta sem ironia... – de ter encontrado, na universidade, professores que, não sendo marxistas, eram sérios. E que, em «teorias e doutrinas económicas», falavam e testavam sobre o conhecimento da evolução do pensamento económico, sem discriminar o contributo absolutamente decisivo de Marx e continuadores, ao menos na análise e crítica do capitalismo.
Ora, na feroz luta de classes que vivemos, a vertente ideológica ganhou grande importância e são impostos, por todos os meios (e sem olhar a meios), alguns aspectos de que me parece poder de salientar dois:
· i) o de que o capitalismo seria o «fim da história», pelo que a sua crítica apenas poderia ser feita por dentro, e no sentido de o melhorar, de o humanizar, ou seja, segundo concepções consideradas definitivamente ultrapassadas, o de humanizar o que, sempre e cada vez mais, é desumano porque se baseia na exploração do homem pelo homem;
· ii) o de que essas concepções ultrapassadas, e que nem valeria a pena perder tempo em tentar conhecer especulativamente, teriam tido oportunidade para mostrar o que valiam, e teriam falhado rotundamente, com consequências tremendamente nefastas para a humanidade, pelo que, ao serviço de tal objectivo (ideológico) se apagam todos os inestimáveis contributos para o conhecimento do processo histórico e para a melhoria da condição humana que, em qualquer perspectiva, são inalienáveis do pensamento e da acção marxista-leninista.
Temos de nos preparar – aprender, aprender sempre, como dizia Lenine – e fazer frente a tão relevante e tão actual faceta da batalha ideológica, que em nada desmerece de outras que se manifestam na luta social quotidiana, até porque dão lastro para que esta seja mais difícil.
· Deixarmos de defender a pertinência da crítica ao capitalismo, que a realidade torna cada vez mais evidente, e de a actualizar,
· não insistirmos na afirmação de um projecto de sociedade verdadeiramente alternativo porque outro,
· resignarmo-nos à ausência de abordagem, ao menos teórica, de um decisivo contributo para a compreensão do caminho feito pela Humanidade,
· calarmos a resposta, por incómoda, aos ataques ao que chamam a «economia central» (ou outros nomes que lhe dão),
· consentirmos, passivos, paralelos com o que não tem comparação possível e interpretações de factos que são falsas e manipuladoras,
· aceitarmos como crimes o que erros foram, como opções o que eram, e são!, imposições violentas da luta de classes, como consequências e efeitos próprios o que é o resultado de destruição selvagem, desumana, e por outros, de conquistas para o futuro,
tudo isto só não seria suicídio porque há um futuro que apenas pode ser adiado pois está na dinâmica da história.
Acrescentou, já mesmo a correr para casa e para os livros e apontamentos, que essa tal «economia central» (ou de «direcção central») seria uma economia não-aberta, fechada ao mundo, às descobertas e modernidades, às suas relações cada vez mais estreitas e globais.
No entanto, ainda teve tempo para me dizer, já mesmo a fugir, que ele não estava de acordo com isto e que, na aula, até falara do bloqueio dos Estados Unidos a Cuba para contrariar essa ideia de país e regime fechado e que, nesse caso pelo menos, tal ausência de abertura ao mundo seria imposição e não opção. Mas o teste impunha que não esquecesse o ensinado...
Lá tive de o deixar ir. Mas fiquei com «a pulga atrás da orelha». E como a orelha está muito perto do sítio onde mora a massa cinzenta (por pouca que seja), esta não parou de trabalhar. E construi um «puzzle» a partir da peça que o camarada da «Jota» me proporcionara, juntando-a a outras que andavam um bocado dispersas, mas todas à volta do «ensino da economia».
Na verdade, se ao nível do secundário se dá uma visão geral da economia dividida entre a que é moderna (modernaça), aberta, actualizada, práfrentex, embora com os problemas naturais do que cresce, e aquela que «já foi», que não passou de uma desgraçada experiência de que hoje resta o que se diz ser a situação em Cuba, e com os efeitos de que nos podemos aperceber através dos imigrantes que vêm até nós à procura de um futuro que nas suas terras teria sido hipotecado por esses anos de «economia central», e se de tal «economia» se não fala no nível superior, nem mesmo nas áreas que de economia e gestão são, tudo isso se compatibiliza (e contabiliza) numa enorme pressão ideológica, de classe, que «faz a cabeça» de todos nós.
Se assim é, o jovem que acaba o ensino secundário, e que nele foi apresentado à economia, mesmo que, depois, siga áreas de economia (e de gestão... como se esta fosse algo independente da economia), ficaria apenas com o conhecimento paupérrimo e falseado do marxismo – e de experiências reais que neste se basearam – que, em muitos casos sem má fé, lhe foi dado nesses verdes anos... Até porque, nessas áreas do ensino superior, em que incluo o politécnico e o universitário, há «tanto para dar» sobre finanças, técnicas, métodos quantitativos, que não sobra tempo para a economia política, e muito menos para a crítica da economia política.
Mais sorte teve – isto é uma maneira de dizer... – quem estudou estas matérias no tempo do fascismo. O comunismo era um papão e um tabú, mas um tabú de que se fazia a aprendizagem na clandestinidade. Mas não só, porque, por outro lado, houve quem tivesse tido a sorte – esta sem ironia... – de ter encontrado, na universidade, professores que, não sendo marxistas, eram sérios. E que, em «teorias e doutrinas económicas», falavam e testavam sobre o conhecimento da evolução do pensamento económico, sem discriminar o contributo absolutamente decisivo de Marx e continuadores, ao menos na análise e crítica do capitalismo.
Ora, na feroz luta de classes que vivemos, a vertente ideológica ganhou grande importância e são impostos, por todos os meios (e sem olhar a meios), alguns aspectos de que me parece poder de salientar dois:
· i) o de que o capitalismo seria o «fim da história», pelo que a sua crítica apenas poderia ser feita por dentro, e no sentido de o melhorar, de o humanizar, ou seja, segundo concepções consideradas definitivamente ultrapassadas, o de humanizar o que, sempre e cada vez mais, é desumano porque se baseia na exploração do homem pelo homem;
· ii) o de que essas concepções ultrapassadas, e que nem valeria a pena perder tempo em tentar conhecer especulativamente, teriam tido oportunidade para mostrar o que valiam, e teriam falhado rotundamente, com consequências tremendamente nefastas para a humanidade, pelo que, ao serviço de tal objectivo (ideológico) se apagam todos os inestimáveis contributos para o conhecimento do processo histórico e para a melhoria da condição humana que, em qualquer perspectiva, são inalienáveis do pensamento e da acção marxista-leninista.
Temos de nos preparar – aprender, aprender sempre, como dizia Lenine – e fazer frente a tão relevante e tão actual faceta da batalha ideológica, que em nada desmerece de outras que se manifestam na luta social quotidiana, até porque dão lastro para que esta seja mais difícil.
· Deixarmos de defender a pertinência da crítica ao capitalismo, que a realidade torna cada vez mais evidente, e de a actualizar,
· não insistirmos na afirmação de um projecto de sociedade verdadeiramente alternativo porque outro,
· resignarmo-nos à ausência de abordagem, ao menos teórica, de um decisivo contributo para a compreensão do caminho feito pela Humanidade,
· calarmos a resposta, por incómoda, aos ataques ao que chamam a «economia central» (ou outros nomes que lhe dão),
· consentirmos, passivos, paralelos com o que não tem comparação possível e interpretações de factos que são falsas e manipuladoras,
· aceitarmos como crimes o que erros foram, como opções o que eram, e são!, imposições violentas da luta de classes, como consequências e efeitos próprios o que é o resultado de destruição selvagem, desumana, e por outros, de conquistas para o futuro,
tudo isto só não seria suicídio porque há um futuro que apenas pode ser adiado pois está na dinâmica da história.