Parceria envenenada
Mais de 40 milhões de habitantes sobrevive para lá do limiar da pobreza
Os resultados das eleições legislativas na Rússia não constituíram uma surpresa. A vitória do partido do poder «Rússia Unida», formado em torno da figura do presidente Pútin, já fora anunciada antes da abertura das urnas, no dia 7 de Dezembro. O processo eleitoral decorreu dentro dos padrões do «modelo» perverso que vigora no país há mais de uma década, com muito anti-comunismo e a absoluta instrumentalização dos media e da máquina administrativa do Estado em benefício dos favoritos do Krémlin. No sistema presidencialista russo, a Duma desempenha um papel subalterno, embora atractivo. Um número considerável dos seus lugares é literalmente traficado, dando assento a lobbies económicos e interesses obscuros. O triunfo do «Rússia Unida», que por sinal não possui uma organização de base, é devedor do carisma do presidente russo. Com as presidenciais de Março já no horizonte, Pútin colheu frutos da campanha «anti-oligárquica» lançada com a prisão de Khodorkovsky, magnata da gigante petrolífera russa Iúkos, um produto do saque privatizador da era pós-soviética. Esta campanha foi direccionada contra o PCFR, tirando partido da presença nas suas listas de independentes ligados ao mundo empresarial, nomeadamente à Iúkos. O dado mais relevante, contudo, é a abstenção que subiu, representando em conjunto com os votos nulos e «contra todos» mais de metade do eleitorado, o que denota o estado de apatia social e descrença dominantes num país onde mais de 40 milhões de habitantes sobrevive para lá do limiar da pobreza.
Nos EUA, a evolução da política russa é olhada com frieza. Na véspera das eleições, o «Washington Post» adjectiva o «comportamento» da Rússia de «antidemocrático» e «imperialista», aplaudindo os ataques da sua Administração às posições russas no tocante à Geórgia e Moldova na recente reunião da OSCE. A Casa Branca, reagindo ao fracasso dos partidos abertamente pró-americanos, descobriu «deformações» na democracia russa – será que Washington já esqueceu, por exemplo, o fervor com que apoiou Iéltsin em 1993 quando este bombardeou o Soviete Supremo e fez aprovar a actual Constituição «neo-czarista» num referendo que poucos duvidam ter sido uma verdadeira farsa? A prisão de Khodorkovsky, que impede no imediato o negócio de venda da principal empresa petrolífera russa ao capital norte-americano, serve de pretexto para reacções de histeria russófoba enganadoras da realidade. A posição da administração dos EUA, para além do seu tradicional cinismo, denuncia a indisfarçável essência predadora da parceria celebrada com Moscovo. A verdade porém é que, globalmente, Pútin tem demonstrado subserviência para com o imperialismo, na linha do seu antecessor no Krémlin: prosseguiu com afinco o curso de reformas neoliberais gravosas, fez cedências até limites quase inimagináveis no capítulo das relações militares com a NATO e EUA e bloqueou o avanço da União com a Bielorússia. O que não impede, antes pelo contrário, que os EUA/NATO instalem novas capacidades militares nas fronteiras russas e anunciem novos interesses estratégicos dentro do território da ex-URSS. A «parceria estratégica» com Washington, significa a contínua degradação da segurança nacional da Federação Russa.
Certamente, a direcção russa, com Pútin, introduziu alguma ordem na casa. O estilo «sóbrio» e «íntegro» do presidente contrasta com a decadência traumática que marcou o poder de Iéltsin, o que ajuda à emergência de expectativas sebastianistas de retorno da justiça e dignidade nacionais, associadas à sua figura. No entanto, a natureza do regime impossibilita que o combate contra alguns representantes de peso da oligarquia, questione os fundamentos do poder oligárquico em si. A recomposição de forças no seio das elites, mesmo que importante, deixa incólumes as causas profundas que minam o país.
A situação exige às forças revolucionárias e progressistas russas, a tarefa, dificílima, de mobilizar as massas para a luta, longa e persistente, resgatando, nas condições actuais, os ideais de Outubro e do Socialismo e fazendo valer o muito de positivo que encerra a experiência soviética.
Nos EUA, a evolução da política russa é olhada com frieza. Na véspera das eleições, o «Washington Post» adjectiva o «comportamento» da Rússia de «antidemocrático» e «imperialista», aplaudindo os ataques da sua Administração às posições russas no tocante à Geórgia e Moldova na recente reunião da OSCE. A Casa Branca, reagindo ao fracasso dos partidos abertamente pró-americanos, descobriu «deformações» na democracia russa – será que Washington já esqueceu, por exemplo, o fervor com que apoiou Iéltsin em 1993 quando este bombardeou o Soviete Supremo e fez aprovar a actual Constituição «neo-czarista» num referendo que poucos duvidam ter sido uma verdadeira farsa? A prisão de Khodorkovsky, que impede no imediato o negócio de venda da principal empresa petrolífera russa ao capital norte-americano, serve de pretexto para reacções de histeria russófoba enganadoras da realidade. A posição da administração dos EUA, para além do seu tradicional cinismo, denuncia a indisfarçável essência predadora da parceria celebrada com Moscovo. A verdade porém é que, globalmente, Pútin tem demonstrado subserviência para com o imperialismo, na linha do seu antecessor no Krémlin: prosseguiu com afinco o curso de reformas neoliberais gravosas, fez cedências até limites quase inimagináveis no capítulo das relações militares com a NATO e EUA e bloqueou o avanço da União com a Bielorússia. O que não impede, antes pelo contrário, que os EUA/NATO instalem novas capacidades militares nas fronteiras russas e anunciem novos interesses estratégicos dentro do território da ex-URSS. A «parceria estratégica» com Washington, significa a contínua degradação da segurança nacional da Federação Russa.
Certamente, a direcção russa, com Pútin, introduziu alguma ordem na casa. O estilo «sóbrio» e «íntegro» do presidente contrasta com a decadência traumática que marcou o poder de Iéltsin, o que ajuda à emergência de expectativas sebastianistas de retorno da justiça e dignidade nacionais, associadas à sua figura. No entanto, a natureza do regime impossibilita que o combate contra alguns representantes de peso da oligarquia, questione os fundamentos do poder oligárquico em si. A recomposição de forças no seio das elites, mesmo que importante, deixa incólumes as causas profundas que minam o país.
A situação exige às forças revolucionárias e progressistas russas, a tarefa, dificílima, de mobilizar as massas para a luta, longa e persistente, resgatando, nas condições actuais, os ideais de Outubro e do Socialismo e fazendo valer o muito de positivo que encerra a experiência soviética.