Arte marcial
«A guerra é uma arte inexacta»
(Justificação de um major dos EUA
pelo assassinato de nove crianças no Afeganistão)
Enganados estavam, e desmentidos ficaram, os que malevolamente procuravam fazer passar as tropas ocupantes dos Estados Unidos por gente sem apego cultural, valor pela criação ou amor à arte. Arte é com eles. Não propriamente daqueles ramos ou correntes intelectualmente mais exigentes, a reclamar sensibilidade, percepção sensorial ou esforço interpretativo mas doutro, não menos impressivo e qualificado — o da guerra. Aquele outro ramo, que está em condições de fazer compreender, malgrado incompreensões e má vontades, as profundas razões culturais que justificam a prioridade dada à defesa do ministério do petróleo iraquiano de saques e vandalizações, em detrimento do museu nacional sobre a história mesopotâmica; que, com arte inexcedível no domínio do ficcionado, consegue transformar uma simples soldado em heroína libertada por uma virtuosa operações de resgate perante uma resistência inexistente; enfim, aquele outro ramo, construído de valores bélicos e de arrogância imperial tais, que se revela capaz de, a partir de um simples peru de plástico apresentado ás tropas, alimentar a alma e elevar a moral da horda de invasores desalentados pela luta de resistência de um povo.
Insensíveis ao sofrimento dos povos, os Estados Unidos, e os que os acompanham nesta nova fase de dominação e controlo imperialista, vão justificando como podem o rasto de destruição que à sua passagem vão semeando. Sob a capa de teses impregnadas de hipocrisia se tem escondido a bárbara e desumana destruição que, extensiva e sistematicamente, ceifa milhares de vidas, destrói civilizações e hipoteca a prazo as condições de uma sobrevivência saudável nas áreas bombardeadas. Atente-se, entre elas, às dos danos colaterais, perante os factos que teimavam em negar a exacta ciência das chamadas bombas cirúrgicas descarregadas sobre a Jugoslávia; à da arreliadora inexactidão que a arte de bombardeamentos massivos persiste em patentear no Afeganistão e no Iraque; ou ainda à da miserável responsabilização das vítimas (as referidas crianças), feita por um outro oficial, por «estarem em território usado pelos terroristas» que não era mais que a aldeia onde sempre viveram.
Errado seria pensar que, atolados numa guerra de ocupação dura e difícil que previam curta e triunfal, os Estados Unidos tenderão a uma reconsideração da sua política. A par da procura de saídas que lhes permitam salvar a face e poupar o couro mantendo no essencial o domínio estratégico sobre o país e a região, as últimas semanas revelam uma nova e mais sangrenta escalada de violência para tentar silenciar uma resistência que ameaça transformar-se num perigoso exemplo para a impunidade de que se julgam possuídos.
(Justificação de um major dos EUA
pelo assassinato de nove crianças no Afeganistão)
Enganados estavam, e desmentidos ficaram, os que malevolamente procuravam fazer passar as tropas ocupantes dos Estados Unidos por gente sem apego cultural, valor pela criação ou amor à arte. Arte é com eles. Não propriamente daqueles ramos ou correntes intelectualmente mais exigentes, a reclamar sensibilidade, percepção sensorial ou esforço interpretativo mas doutro, não menos impressivo e qualificado — o da guerra. Aquele outro ramo, que está em condições de fazer compreender, malgrado incompreensões e má vontades, as profundas razões culturais que justificam a prioridade dada à defesa do ministério do petróleo iraquiano de saques e vandalizações, em detrimento do museu nacional sobre a história mesopotâmica; que, com arte inexcedível no domínio do ficcionado, consegue transformar uma simples soldado em heroína libertada por uma virtuosa operações de resgate perante uma resistência inexistente; enfim, aquele outro ramo, construído de valores bélicos e de arrogância imperial tais, que se revela capaz de, a partir de um simples peru de plástico apresentado ás tropas, alimentar a alma e elevar a moral da horda de invasores desalentados pela luta de resistência de um povo.
Insensíveis ao sofrimento dos povos, os Estados Unidos, e os que os acompanham nesta nova fase de dominação e controlo imperialista, vão justificando como podem o rasto de destruição que à sua passagem vão semeando. Sob a capa de teses impregnadas de hipocrisia se tem escondido a bárbara e desumana destruição que, extensiva e sistematicamente, ceifa milhares de vidas, destrói civilizações e hipoteca a prazo as condições de uma sobrevivência saudável nas áreas bombardeadas. Atente-se, entre elas, às dos danos colaterais, perante os factos que teimavam em negar a exacta ciência das chamadas bombas cirúrgicas descarregadas sobre a Jugoslávia; à da arreliadora inexactidão que a arte de bombardeamentos massivos persiste em patentear no Afeganistão e no Iraque; ou ainda à da miserável responsabilização das vítimas (as referidas crianças), feita por um outro oficial, por «estarem em território usado pelos terroristas» que não era mais que a aldeia onde sempre viveram.
Errado seria pensar que, atolados numa guerra de ocupação dura e difícil que previam curta e triunfal, os Estados Unidos tenderão a uma reconsideração da sua política. A par da procura de saídas que lhes permitam salvar a face e poupar o couro mantendo no essencial o domínio estratégico sobre o país e a região, as últimas semanas revelam uma nova e mais sangrenta escalada de violência para tentar silenciar uma resistência que ameaça transformar-se num perigoso exemplo para a impunidade de que se julgam possuídos.