Fantasias descritivas
No domingo, 19 de Outubro, Mário Mesquita escreveu no Jornal «Público» o segundo de uma série de artigos sobre Itália, onde reproduz algumas afirmações do actual dirigente do partido dos Democratas de Esquerda italianos, Piero Fassino, a propósito da sua participação, em 1983, no X Congresso do PCP, chefiando a delegação do então Partido Comunista Italiano. Segundo o relato de M. Mesquita, Fassino afirma no seu livro «Per Passione» que teria estado inicialmente previsto que a delegação do PCI falasse em terceiro lugar no Congresso, após as delegações do PCUS e do PC Francês, tendo mais tarde sido informado de que o seu discurso se realizaria posteriormente. Fassino afirma que percebeu que «estavam preocupados com o que iria dizer sobre os mísseis», estando-se em plena fase de tensão mundial perante a anunciada instalação de mísseis norte-americanos na Europa, alegadamente em resposta a mísseis soviéticos. Segundo a descrição, Fassino teria mesmo feito um ultimatum de que não aceitaria ulteriores adiamentos, sob pena de abandonar o Congresso, convocando uma conferência de imprensa. Tudo teria terminado com uma «conversa privada entre Álvaro Cunhal e Piero Fassino, ou melhor uma violenta discussão em que o então secretário-geral do PCP acusou os comunistas italianos de revisionistas».
Se a descrição que faz M. Mesquita do conteúdo do livro de Fassino corresponde efectivamente ao texto (e não existem razões para duvidar que assim seja), deve dizer-se que estamos perante uma «fantasia descritiva» de Fassino.
Pontos nos is
Quem se der ao trabalho de consultar a ordem de intervenções das delegações estrangeiras nos Congressos do PCP (que constam da série de livros das Edições Avante! sobre todos os Congressos realizados após o 25 de Abril) facilmente poderá confirmar que seria estranhíssimo que alguma vez tivesse estado previsto que a delegação do PCI fosse a terceira a usar da palavra, logo após outras duas intervenções europeias. Sendo a ordem de intervenções estabelecida em função de critérios de ordem política e geográfica, nunca uma delegação do PCI falou antes da nona posição, e sempre após intervenções de Partidos Comunistas no poder em países europeus, Partidos de países africanos, asiáticos e latino-americanos. Quanto à «conversa privada» com Álvaro Cunhal, tratou-se do tradicional encontro bilateral que o PCP faz questão de realizar com todas as delegações estrangeiras que vêm até Portugal participar nos seus Congressos. Realizou-se no Centro de Trabalho da Boavista, no Porto, e contou também com a presença do outro membro da delegação italiana, a camarada Lina Fibbi, e do intérprete do PCP. A presença do secretário-geral do PCP nesse encontro testemunhava o respeito que, independentemente de diferenças de opinião, o PCP tinha por um dos grandes Partidos Comunistas europeus da altura. Nunca houve qualquer acusação de revisionistas, nem esse é o estilo do PCP nos seus contactos internacionais. Não houve violenta discussão, mas uma troca aberta de pontos de vista, em que cada lado expôs as suas opiniões. A não ser que Fassino considere que esse é um direito que apenas assiste a um dos lados, sendo as suas intervenções legítimas e as dos outros violentas discussões.
Quanto ao cerne das discordâncias, a História encarregou-se de as esclarecer. Em 1999, o PCI já não existia, liquidado pelo grupo dirigente de que Fassino fazia parte. O novo partido, os DS, chegou à chefia do governo de Itália, tendo transformado o país no «porta-aviões» de onde a NATO lançou a sua guerra ilegal, criminosa e mentirosa contra a Jugoslávia. Já não havia mísseis soviéticos, nem Pacto de Varsóvia. A alegada «equidistância» deu lugar ao alinhamento com o imperialismo e o militarismo. As críticas à «nomenklatura do Leste» eram, afinal, apenas um bilhete de entrada na «nomenkatura» do Ocidente.
Se a descrição que faz M. Mesquita do conteúdo do livro de Fassino corresponde efectivamente ao texto (e não existem razões para duvidar que assim seja), deve dizer-se que estamos perante uma «fantasia descritiva» de Fassino.
Pontos nos is
Quem se der ao trabalho de consultar a ordem de intervenções das delegações estrangeiras nos Congressos do PCP (que constam da série de livros das Edições Avante! sobre todos os Congressos realizados após o 25 de Abril) facilmente poderá confirmar que seria estranhíssimo que alguma vez tivesse estado previsto que a delegação do PCI fosse a terceira a usar da palavra, logo após outras duas intervenções europeias. Sendo a ordem de intervenções estabelecida em função de critérios de ordem política e geográfica, nunca uma delegação do PCI falou antes da nona posição, e sempre após intervenções de Partidos Comunistas no poder em países europeus, Partidos de países africanos, asiáticos e latino-americanos. Quanto à «conversa privada» com Álvaro Cunhal, tratou-se do tradicional encontro bilateral que o PCP faz questão de realizar com todas as delegações estrangeiras que vêm até Portugal participar nos seus Congressos. Realizou-se no Centro de Trabalho da Boavista, no Porto, e contou também com a presença do outro membro da delegação italiana, a camarada Lina Fibbi, e do intérprete do PCP. A presença do secretário-geral do PCP nesse encontro testemunhava o respeito que, independentemente de diferenças de opinião, o PCP tinha por um dos grandes Partidos Comunistas europeus da altura. Nunca houve qualquer acusação de revisionistas, nem esse é o estilo do PCP nos seus contactos internacionais. Não houve violenta discussão, mas uma troca aberta de pontos de vista, em que cada lado expôs as suas opiniões. A não ser que Fassino considere que esse é um direito que apenas assiste a um dos lados, sendo as suas intervenções legítimas e as dos outros violentas discussões.
Quanto ao cerne das discordâncias, a História encarregou-se de as esclarecer. Em 1999, o PCI já não existia, liquidado pelo grupo dirigente de que Fassino fazia parte. O novo partido, os DS, chegou à chefia do governo de Itália, tendo transformado o país no «porta-aviões» de onde a NATO lançou a sua guerra ilegal, criminosa e mentirosa contra a Jugoslávia. Já não havia mísseis soviéticos, nem Pacto de Varsóvia. A alegada «equidistância» deu lugar ao alinhamento com o imperialismo e o militarismo. As críticas à «nomenklatura do Leste» eram, afinal, apenas um bilhete de entrada na «nomenkatura» do Ocidente.