Governo aceita negociar
Após um fim-de-semana sangrento que provocou mais de 20 mortos e 90 feridos, o governo suspendeu a exportação de gás e aceita dialogar com parceiros sociais.
O governo quer reduzir para metade as reformas dos trabalhadores
A vasta operação militar desencadeada contra a população de El Alto, com o objectivo de abrir caminho ao transporte de gasolina e alimentos para abastecer a capital, La Paz, resultou num fim-de-semana sangrento. O massacre fratricida, em que as tropas usaram metralhadoras pesadas contra a população, deixou o país à beira de uma guerra civil e o governo do presidente Sánchez de Lozada ainda mais isolado.
Numa tentativa desesperada de «descomprimir a pressão», o governo anunciou no início da semana que «não se exportará gás natural a novos mercados» enquanto «não se realizem consultas sobre o recurso», pelo que deverá ser iniciado «um processo imediato de diálogo entre os bolivianos e outros debates com organizações da sociedade civil que deverão estar concluídos em Dezembro de 2003».
O recuo do governo não inclui o levantamento da lei marcial entretanto decretada na cidade de El Alto, que o porta-voz do presidente, Mauricio Antezana, afirmou ser necessária, «para assegurar a segurança dos cidadãos e proteger as propriedades públicas e privadas».
A greve geral decretada pela Central Operária Boliviana (COB) e pela Confederação Sindical Camponesa levou já à paralisação de dois terços do país, onde os protestos contra a suspensão da proposta de exportação de gás, através do Chile, para os Estados Unidos e para o México, se transformaram numa espécie de reivindicação de vida ou de morte de uma população que vive na miséria.
Crise generalizada
A «guerra do gás», como alguns lhe chamam, está a revelar-se um catalisador do descontentamento popular generalizado, o que explica a enorme mobilização social e política exigindo a demissão do governo de Lozada.
Eleito por ampla maioria no Congresso contra Evo Morales, o candidato dos movimentos sociais e das comunidades indígenas, o presidente Lozada pauta a sua gestão pelo recurso à força bruta.
Depois da matança do «Fevereiro Negro» de 2003, em que morreram mais de 30 pessoas, os governo acelerou os seus planos repressivos. Instituiu a «instrução militar extraordinária antidistúrbios» e criminalizou os protestos populares com penas de cinco a oito anos de prisão para quem efectuasse bloqueios «de transportes públicos terrestres, aéreos ou marítimos». O bloqueio de estradas é justamente uma das formas de luta mais populares na Bolívia, e foi dessa forma que no passado os bolivianos impediram o governo de Hugo Banzer de privatizar a água.
A par das medidas repressivas, sucedem-se os casos de corrupção no governo e as políticas antisociais, com particular destaque para a anunciada reforma fiscal. Num país onde as empresas petrolíferas não pagam impostos, o governo quer reduzir para metade as reformas dos trabalhadores.
A «guerra do gás» não pode pois ser dissociada da crise geral que o país atravessa, e cujos sintomas se tornaram mais evidentes a partir de Setembro, quando se intensificaram as marchas e manifestações de reformados, professores, polícias, camponeses, trabalhadores sem terra, indígenas. Neste contexto, aparente recuo de Lozada e o desejo de diálogo agora anunciado pelo governo, para além de tardios, parecem manifestamente insuficientes para devolver a paz social à Bolívia.
Numa tentativa desesperada de «descomprimir a pressão», o governo anunciou no início da semana que «não se exportará gás natural a novos mercados» enquanto «não se realizem consultas sobre o recurso», pelo que deverá ser iniciado «um processo imediato de diálogo entre os bolivianos e outros debates com organizações da sociedade civil que deverão estar concluídos em Dezembro de 2003».
O recuo do governo não inclui o levantamento da lei marcial entretanto decretada na cidade de El Alto, que o porta-voz do presidente, Mauricio Antezana, afirmou ser necessária, «para assegurar a segurança dos cidadãos e proteger as propriedades públicas e privadas».
A greve geral decretada pela Central Operária Boliviana (COB) e pela Confederação Sindical Camponesa levou já à paralisação de dois terços do país, onde os protestos contra a suspensão da proposta de exportação de gás, através do Chile, para os Estados Unidos e para o México, se transformaram numa espécie de reivindicação de vida ou de morte de uma população que vive na miséria.
Crise generalizada
A «guerra do gás», como alguns lhe chamam, está a revelar-se um catalisador do descontentamento popular generalizado, o que explica a enorme mobilização social e política exigindo a demissão do governo de Lozada.
Eleito por ampla maioria no Congresso contra Evo Morales, o candidato dos movimentos sociais e das comunidades indígenas, o presidente Lozada pauta a sua gestão pelo recurso à força bruta.
Depois da matança do «Fevereiro Negro» de 2003, em que morreram mais de 30 pessoas, os governo acelerou os seus planos repressivos. Instituiu a «instrução militar extraordinária antidistúrbios» e criminalizou os protestos populares com penas de cinco a oito anos de prisão para quem efectuasse bloqueios «de transportes públicos terrestres, aéreos ou marítimos». O bloqueio de estradas é justamente uma das formas de luta mais populares na Bolívia, e foi dessa forma que no passado os bolivianos impediram o governo de Hugo Banzer de privatizar a água.
A par das medidas repressivas, sucedem-se os casos de corrupção no governo e as políticas antisociais, com particular destaque para a anunciada reforma fiscal. Num país onde as empresas petrolíferas não pagam impostos, o governo quer reduzir para metade as reformas dos trabalhadores.
A «guerra do gás» não pode pois ser dissociada da crise geral que o país atravessa, e cujos sintomas se tornaram mais evidentes a partir de Setembro, quando se intensificaram as marchas e manifestações de reformados, professores, polícias, camponeses, trabalhadores sem terra, indígenas. Neste contexto, aparente recuo de Lozada e o desejo de diálogo agora anunciado pelo governo, para além de tardios, parecem manifestamente insuficientes para devolver a paz social à Bolívia.