Para que conste
No passado dia 9 (se tivesse sido quatro depois, estaria tudo explicado), em documento com assinaláveis pretensões doutrinárias, a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, discreteando sobre os movimentos sociais, entendeu por bem referir «a tradição hegemonista e controleira do PCP» e qualificar o movimento sindical como «o mais burocratizado e profissionalizado e também o mais instrumentalizado políticamente».
A este respeito, diga-se então que não há contexto nem falta dele e que não há parágrafos colocados antes ou depois que possam disfarçar a substantiva gravidade das afirmações feitas e como elas se compaginam com acusações despejadas sobre o PCP e sobre o movimento sindical unitário por quadrantes políticos que, pelo menos, nos fazem o favor de não se dizer de esquerda, antes pelo contrário.
Por ora, queremos propositadamente ficar pelo mero registo, para que conste. Mas, em relação com este assunto, podemos entretanto contar uma breve história impecavelmente baseada em factos reais e que talvez ajude a perceber ainda melhor como as afirmações do Bloco inicialmente citadas se parecem com o caso daquele ladrão que, para melhor escapar, resolveu começar a gritar «agarra que é ladrão!».
De facto, importa então que se saiba que, desde pelo menos há um ano e meio a esta parte, o Bloco de Esquerda e os seus principais responsáveis vêm anunciando, periódica e repetidamente, o lançamento de uma (discutível) iniciativa para recolha de 75.000 assinaturas que apresentam como «necessárias para a realização de um novo referendo» sobre a despenalização do aborto mas que, em rigor, só teriam a consequência de levar a AR, com a maioria que tem, a debater e votar uma proposta de novo referendo.
Acontece que essa iniciativa é sempre apresentada como sendo um projecto magnificamente unitário, mas o que é um facto indesmentível é que são sempre e só os dirigentes do BE, desde há ano e meio, a falar dela, a definir-lhe as características e conteúdo, a publicitar apoios de personalidades e envolvimentos de outras forças políticas e a anunciar as sucessivamente previstas datas de arranque.
Claro que se, por absurdo, fosse o PCP a agir desta maneira, lá estaríamos, no isento julgamento do Bloco, perante mais uma manifestação dos «controleirismos» e «instrumentalizações» que fariam parte da «tradição» do PCP.
Mas como é o Bloco de Esquerda a fazê-lo, já não há nenhum escândalo e os próprios devem mesmo achar que assim se prova o profundo horror do BE às «instrumentalizações políticas», o seu acrisolado espirito unitário e a sua sempre deslumbrante «nova forma de fazer política».
A este respeito, diga-se então que não há contexto nem falta dele e que não há parágrafos colocados antes ou depois que possam disfarçar a substantiva gravidade das afirmações feitas e como elas se compaginam com acusações despejadas sobre o PCP e sobre o movimento sindical unitário por quadrantes políticos que, pelo menos, nos fazem o favor de não se dizer de esquerda, antes pelo contrário.
Por ora, queremos propositadamente ficar pelo mero registo, para que conste. Mas, em relação com este assunto, podemos entretanto contar uma breve história impecavelmente baseada em factos reais e que talvez ajude a perceber ainda melhor como as afirmações do Bloco inicialmente citadas se parecem com o caso daquele ladrão que, para melhor escapar, resolveu começar a gritar «agarra que é ladrão!».
De facto, importa então que se saiba que, desde pelo menos há um ano e meio a esta parte, o Bloco de Esquerda e os seus principais responsáveis vêm anunciando, periódica e repetidamente, o lançamento de uma (discutível) iniciativa para recolha de 75.000 assinaturas que apresentam como «necessárias para a realização de um novo referendo» sobre a despenalização do aborto mas que, em rigor, só teriam a consequência de levar a AR, com a maioria que tem, a debater e votar uma proposta de novo referendo.
Acontece que essa iniciativa é sempre apresentada como sendo um projecto magnificamente unitário, mas o que é um facto indesmentível é que são sempre e só os dirigentes do BE, desde há ano e meio, a falar dela, a definir-lhe as características e conteúdo, a publicitar apoios de personalidades e envolvimentos de outras forças políticas e a anunciar as sucessivamente previstas datas de arranque.
Claro que se, por absurdo, fosse o PCP a agir desta maneira, lá estaríamos, no isento julgamento do Bloco, perante mais uma manifestação dos «controleirismos» e «instrumentalizações» que fariam parte da «tradição» do PCP.
Mas como é o Bloco de Esquerda a fazê-lo, já não há nenhum escândalo e os próprios devem mesmo achar que assim se prova o profundo horror do BE às «instrumentalizações políticas», o seu acrisolado espirito unitário e a sua sempre deslumbrante «nova forma de fazer política».