Ao sétimo dia...
O empresário contemplou a sua obra e viu que era boa para os accionistas...
Com esta frase metafórica, os autores de várias reportagens de canais de rádio e TV do Canadá e Quebeque ligaram-nas entre si para produzir um bom programa de televisão que a RTP-2 apresentou na passada 6ª feira no «Sinais do Tempo».
Com esta frase metafórica, os autores de várias reportagens de canais de rádio e TV do Canadá e Quebeque ligaram-nas entre si para produzir um bom programa de televisão que a RTP-2 apresentou na passada 6ª feira no «Sinais do Tempo».
Várias foram as situações de diferentes pontos do planeta que ilustraram a contradição crescente entre vários processos de privatização e de agressividade das multinacionais e o bem comum e a biodiversidade.
Recorrendo à metáfora, os autores do programa remataram sucessivamente com a frase referida um percurso feito em cinco dias.
E acabaram por nos dizer que no sexto dia os empresários, que tanto tinham afirmado a sua desconfiança em relação aos Estados, usaram deles, para em fóruns internacionais (OMC, NAFTA, etc.) abolirem as normas nacionais que defenderam numerosos países da globalização neo-liberal, e acabarem com tais defesas sob a ameaça e a prática de condicionamentos, ingerências de milícias privadas, sanções e indemnizações dos espoliados às multinacionais. E que ao 7º dia, «naquele dia» a mão invisível do mercado terminou revelando a sua natureza, expressa nas imagens de um forte e moderno aparato repressivo...
Foi uma versão diferente da criação do Mundo não por Deus mas pelas multinacionais.
No primeiro dia o empresário contemplava a abundância de água de boa qualidade de lagos norte-americanos, dizendo que era mais do que a necessária, que o excedente valia dinheiro e era comerciável e seria um «crime» não o fazer, até porque a Arábia Saudita vivia à custa do seu petróleo. Depois, um chefe de família latino-americano mostrou a terra ressequida, que já não tinha a água que outrora fora fonte de diferentes formas de vida, queixando-se do norte-americano que agora lha fazia pagar por bom preço.
No segundo dia um agricultor canadiano denunciou a produção de espécies modificadas geneticamente, as únicas que conseguia encontrar no mercado enquanto lhe era proibida a produção, como outrora, de uma grande diversidade de sementes naturais, e as inspecções humilhantes a que estava obrigado por polícias privadas das empresas que lhe invadiam as instalações para se certificarem que só usava das tais, as legítimas e únicas permitidas pelas autoridades. Disse-nos que, assim, a agricultura deixava de ser sustentável. Mas também nesse dia, agricultores da Índia revelaram como se tinham organizado para produzir as suas próprias sementes de vasta diversidade, resistindo à agressividade no seu país das multinacionais apoiadas pelo governo.
Ao terceiro dia foram técnicos e utentes de serviços de saúde que se revoltaram contra o poder dos empresas privadas e dos processos e técnicas patenteadas que elevavam o seu custo. Foram os exemplos da impossibilidade de pacientes com cancro da mama recorrerem a certos meios que um «industrial» veio defender que deviam ser defendidos porque muito tinha sido o investimento aplicado na sua investigação .
Ao quarto dia continuou-se o processo de tornar os serviços públicos mercadorias e o sofrimento fonte de lucro, com exemplos no Canadá e no Quebeque. Foi a redução das intervenções cirúrgicas, o aumento das filas de espera. Foi a dirigente hospitalar que foi instada pela administração a retardar intervenções que produziu mortes evitáveis, e que foi recompensada pelos administradores quando se sentia na origem de crimes, que recebera uma benesse em vez de ir para a cadeia. Foi o médico que reflectia sobre o corpo humano se ter tornado um valor comercializável. Foi a degradação provocada deliberadamente nos serviços públicos de saúde para «justificar» a abertura de um sector privado bem apoiado pelo Estado e bem pago pelos utentes. Os impostos que baixaram mas com a introdução dos seguros de saúde canalizados para os privados. Foram as situações de assistência e formação de populações para cuidados imediatos por uma escola Montessori, atendendo à escassez de meios financeiros para se recorrer a um hospital.
Ao quinto dia foram os empresários, que sempre desconfiaram do Estado, que no Brasil não aceitaram o não «reconhecimento» de patentes que permitia os medicamentos prescritos a portadores de vírus HIV serem 80% mais baratos se tal reconhecimento existisse. Que queriam que um trabalhador com salário mensal de 1500 dólares o consumisse num medicamento para a sua doença crónica. Foi a introdução dos genéricos desde 1996. Foi a negociação a decorrer com laboratórios que, se não resultasse, levaria ao fim do reconhecimento de outras patentes pelo Estado.
Ao fim deste dia, o empresário começava a irritar-se, e no dia seguinte mandou os governantes do mundo capitalista liberalizar os mercados, acabar com normas restritivas, a decidir sanções e «indemnizações». Um humanista conciliador defendia o necessário equilíbrio entre o lucro e os direitos e bens essenciais e que o comércio não podia ser o único árbitro. Que havia que defender o conceito de bem comum. Que os recursos naturais e a natureza eram valores e que este não residia no dinheiro.
Mas ao 7º dia o empresário não descansou. Avançou com a tropa.
Pedro Oliveira foi, como de costume o apresentador. Falou do capitalismo que está agora sozinho em cena, da degradação dos serviços públicos essenciais para abrir caminho à sua privatização. Disse que este era um contributo para um debate em curso e ressalvou o «carácter ideológico« da reportagem (em jeito de pedido de desculpa para se poderem continuar a ver programas destes na RTP-2?).
Uma noite de 6ª feira que valeu a pena.
Recorrendo à metáfora, os autores do programa remataram sucessivamente com a frase referida um percurso feito em cinco dias.
E acabaram por nos dizer que no sexto dia os empresários, que tanto tinham afirmado a sua desconfiança em relação aos Estados, usaram deles, para em fóruns internacionais (OMC, NAFTA, etc.) abolirem as normas nacionais que defenderam numerosos países da globalização neo-liberal, e acabarem com tais defesas sob a ameaça e a prática de condicionamentos, ingerências de milícias privadas, sanções e indemnizações dos espoliados às multinacionais. E que ao 7º dia, «naquele dia» a mão invisível do mercado terminou revelando a sua natureza, expressa nas imagens de um forte e moderno aparato repressivo...
Foi uma versão diferente da criação do Mundo não por Deus mas pelas multinacionais.
No primeiro dia o empresário contemplava a abundância de água de boa qualidade de lagos norte-americanos, dizendo que era mais do que a necessária, que o excedente valia dinheiro e era comerciável e seria um «crime» não o fazer, até porque a Arábia Saudita vivia à custa do seu petróleo. Depois, um chefe de família latino-americano mostrou a terra ressequida, que já não tinha a água que outrora fora fonte de diferentes formas de vida, queixando-se do norte-americano que agora lha fazia pagar por bom preço.
No segundo dia um agricultor canadiano denunciou a produção de espécies modificadas geneticamente, as únicas que conseguia encontrar no mercado enquanto lhe era proibida a produção, como outrora, de uma grande diversidade de sementes naturais, e as inspecções humilhantes a que estava obrigado por polícias privadas das empresas que lhe invadiam as instalações para se certificarem que só usava das tais, as legítimas e únicas permitidas pelas autoridades. Disse-nos que, assim, a agricultura deixava de ser sustentável. Mas também nesse dia, agricultores da Índia revelaram como se tinham organizado para produzir as suas próprias sementes de vasta diversidade, resistindo à agressividade no seu país das multinacionais apoiadas pelo governo.
Ao terceiro dia foram técnicos e utentes de serviços de saúde que se revoltaram contra o poder dos empresas privadas e dos processos e técnicas patenteadas que elevavam o seu custo. Foram os exemplos da impossibilidade de pacientes com cancro da mama recorrerem a certos meios que um «industrial» veio defender que deviam ser defendidos porque muito tinha sido o investimento aplicado na sua investigação .
Ao quarto dia continuou-se o processo de tornar os serviços públicos mercadorias e o sofrimento fonte de lucro, com exemplos no Canadá e no Quebeque. Foi a redução das intervenções cirúrgicas, o aumento das filas de espera. Foi a dirigente hospitalar que foi instada pela administração a retardar intervenções que produziu mortes evitáveis, e que foi recompensada pelos administradores quando se sentia na origem de crimes, que recebera uma benesse em vez de ir para a cadeia. Foi o médico que reflectia sobre o corpo humano se ter tornado um valor comercializável. Foi a degradação provocada deliberadamente nos serviços públicos de saúde para «justificar» a abertura de um sector privado bem apoiado pelo Estado e bem pago pelos utentes. Os impostos que baixaram mas com a introdução dos seguros de saúde canalizados para os privados. Foram as situações de assistência e formação de populações para cuidados imediatos por uma escola Montessori, atendendo à escassez de meios financeiros para se recorrer a um hospital.
Ao quinto dia foram os empresários, que sempre desconfiaram do Estado, que no Brasil não aceitaram o não «reconhecimento» de patentes que permitia os medicamentos prescritos a portadores de vírus HIV serem 80% mais baratos se tal reconhecimento existisse. Que queriam que um trabalhador com salário mensal de 1500 dólares o consumisse num medicamento para a sua doença crónica. Foi a introdução dos genéricos desde 1996. Foi a negociação a decorrer com laboratórios que, se não resultasse, levaria ao fim do reconhecimento de outras patentes pelo Estado.
Ao fim deste dia, o empresário começava a irritar-se, e no dia seguinte mandou os governantes do mundo capitalista liberalizar os mercados, acabar com normas restritivas, a decidir sanções e «indemnizações». Um humanista conciliador defendia o necessário equilíbrio entre o lucro e os direitos e bens essenciais e que o comércio não podia ser o único árbitro. Que havia que defender o conceito de bem comum. Que os recursos naturais e a natureza eram valores e que este não residia no dinheiro.
Mas ao 7º dia o empresário não descansou. Avançou com a tropa.
Pedro Oliveira foi, como de costume o apresentador. Falou do capitalismo que está agora sozinho em cena, da degradação dos serviços públicos essenciais para abrir caminho à sua privatização. Disse que este era um contributo para um debate em curso e ressalvou o «carácter ideológico« da reportagem (em jeito de pedido de desculpa para se poderem continuar a ver programas destes na RTP-2?).
Uma noite de 6ª feira que valeu a pena.