O muro do roteiro
Os planos israelitas apontam para um controlo da Palestina
Os acontecimentos dos últimos dias na Palestina fizeram estalar o verniz em torno do «roteiro» para a paz (o «Road Map»). Dando prova da sua má-fé e falta de seriedade, a direcção israelita não só rejeitou a proposta de tornar a actual «trégua» num cessar-fogo permanente, como encetou novos ataques e incursões nos territórios ocupados, gerando uma nova espiral de violência. A libertação por Israel de alguns prisioneiros palestinianos não passou de uma operação de marketing, visando ofuscar o prosseguimento da sua política de detenções arbitrárias que faz com que milhares de palestinianos permaneçam encarcerados nos calabouços israelitas. Mas o mais grave é a reafirmada construção do muro de betão com oito metros de altura que Israel ergue ao longo de um traçado sinuoso que penetra na Cisjordânia, retalhando este território da Palestina. O primeiro troço deste muro que avança para lá da linha de fronteira para incorporar mais colonatos – que Israel continua ilegalmente a instalar – já está pronto.
Sob o governo de Sharon, Israel intensificou a política de repressão e massacre do povo palestiniano. Tornaram-se rotineiras a ocupação de cidades palestinianas; a imposição do recolher obrigatório, a limitação da mobilidade das populações e o cerceamento dos seus direitos básicos; a destruição de casas e infra-estruturas e a expropriação de terras; os assassinatos selectivos e as chacinas. O rol de crimes praticados é extenso e pesado e obedece a uma estratégia clara: impedir a constituição de um Estado palestiniano verdadeiramente independente. Para isso foi enfraquecida a Autoridade Palestiniana, «decretado» o isolamento de Arafat e promovidos o divisionismo e uma direcção palestiniana «alternativa», enquanto a Intifada era igualada ao terrorismo, «justificando» a utilização do terrorismo de Estado maciço, por Israel, no seu combate. O muro em construção, paredes meias com o «Road Map» patrocinado pelos EUA (com a ONU, UE e Rússia) – que prevê a criação de um Estado palestiniano em 2005, é um instrumento culminar da política de ocupação e anexação territorial israelita. Na lógica dos círculos sionistas de Telavive, a contradição é resolúvel. Defendendo a aprovação do «roteiro» pelo seu governo, Sharon referiu-se ao fardo dos custos económicos da ocupação militar da Palestina. Os planos israelitas apontam para um controlo da Palestina sem necessidade de uma administração militar directa, através de um governo local subordinável, o que seria somente possível numa Palestina subjugada, sem uma autoridade política verdadeiramente representativa, fragmentada em territórios descontínuos, ghettos e cantões, circunscritos ao anel externo económico-militar israelita. Ora, o roteiro exige precisamente esforços e cedências assimétricas da parte palestiniana, sem apresentar garantias reais de resolução de questões chave como o regresso dos refugiados ou o estatuto de Jerusalém Oriental, o que dá alento aos intentos israelitas de minar as bases da independência palestiniana.
A política racista de Israel seria impensável sem o suporte dos Estados Unidos. Mas em Washington existe alguma apreensão com o muro, não vá este colocar em perigo o «roteiro», no qual a Casa Branca depositou tão retumbante empenho. O problema para os Estados Unidos não está, claro, no muro em si, que aceitam, mas no seu traçado, que altera as actuais fronteiras, deixando o primeiro ministro Abu Mazen, nomeado sob pressão de Washington, entre a espada e a parede. Este «Road Map» insere-se, antes de mais, nos esforços da «Pax Americana», que é inseparável da actual conjuntura, marcada pelas crescentes dificuldades dos EUA após a invasão do Iraque, mas também, por outro lado, da agenda global dos EUA para o Médio Oriente, onde as ameaças contra a Síria e o Irão persistem e o papel do principal aliado Israel é essencial. Elementos que é primordial não esquecer.
Sob o governo de Sharon, Israel intensificou a política de repressão e massacre do povo palestiniano. Tornaram-se rotineiras a ocupação de cidades palestinianas; a imposição do recolher obrigatório, a limitação da mobilidade das populações e o cerceamento dos seus direitos básicos; a destruição de casas e infra-estruturas e a expropriação de terras; os assassinatos selectivos e as chacinas. O rol de crimes praticados é extenso e pesado e obedece a uma estratégia clara: impedir a constituição de um Estado palestiniano verdadeiramente independente. Para isso foi enfraquecida a Autoridade Palestiniana, «decretado» o isolamento de Arafat e promovidos o divisionismo e uma direcção palestiniana «alternativa», enquanto a Intifada era igualada ao terrorismo, «justificando» a utilização do terrorismo de Estado maciço, por Israel, no seu combate. O muro em construção, paredes meias com o «Road Map» patrocinado pelos EUA (com a ONU, UE e Rússia) – que prevê a criação de um Estado palestiniano em 2005, é um instrumento culminar da política de ocupação e anexação territorial israelita. Na lógica dos círculos sionistas de Telavive, a contradição é resolúvel. Defendendo a aprovação do «roteiro» pelo seu governo, Sharon referiu-se ao fardo dos custos económicos da ocupação militar da Palestina. Os planos israelitas apontam para um controlo da Palestina sem necessidade de uma administração militar directa, através de um governo local subordinável, o que seria somente possível numa Palestina subjugada, sem uma autoridade política verdadeiramente representativa, fragmentada em territórios descontínuos, ghettos e cantões, circunscritos ao anel externo económico-militar israelita. Ora, o roteiro exige precisamente esforços e cedências assimétricas da parte palestiniana, sem apresentar garantias reais de resolução de questões chave como o regresso dos refugiados ou o estatuto de Jerusalém Oriental, o que dá alento aos intentos israelitas de minar as bases da independência palestiniana.
A política racista de Israel seria impensável sem o suporte dos Estados Unidos. Mas em Washington existe alguma apreensão com o muro, não vá este colocar em perigo o «roteiro», no qual a Casa Branca depositou tão retumbante empenho. O problema para os Estados Unidos não está, claro, no muro em si, que aceitam, mas no seu traçado, que altera as actuais fronteiras, deixando o primeiro ministro Abu Mazen, nomeado sob pressão de Washington, entre a espada e a parede. Este «Road Map» insere-se, antes de mais, nos esforços da «Pax Americana», que é inseparável da actual conjuntura, marcada pelas crescentes dificuldades dos EUA após a invasão do Iraque, mas também, por outro lado, da agenda global dos EUA para o Médio Oriente, onde as ameaças contra a Síria e o Irão persistem e o papel do principal aliado Israel é essencial. Elementos que é primordial não esquecer.