E permitem-se ter um pensamento?
Entre as ideias de Karl Marx que revolucionaram a economia política sobressai o conceito de mais valia, que hoje está em moda aplicar abusivamente a questões que nada têm a ver com a sua origem, podendo qualquer pessoa que não lhe conheça o significado confundi-lo com um «ersatz» – isto é, com um substituto fácil de má qualidade.
A ideia de mais-valia radica na força de trabalho, que nunca é paga segundo o valor que produz mas segundo um «valor patronal», o mais baixo possível, que lhe é atribuído no mercado do trabalho, garantindo ao dono dos meios de produção apropriar-se da diferença – isto é, da mais-valia produzida. A mais-valia é assim – e essa foi a genial descoberta de Marx – o fio de água da nascente que engrossa o caudal dos rios do capital. E dessa apropriação da mais-valia se pode extrair também a razão da luta de classes: o porquê de trabalhar mais e receber menos do que um tempo de trabalho produtivo.
Mas o 1.º Ministro, que dos afãs maoistas da juventude passou directamente ao ardor capitalista mais exuberante, anda agora proclamando, sem uma lágrima de condolências, que a luta de classes morreu: «não é tempo para luta de classes dentro das empresas» – diz ele.
Que diagnóstico poderá explicar as deformações visuais desta retórica gover-namental?
Será que os despedimentos e o desemprego não existem – e se por acaso existissem, o patronato os suavizaria com um carinhoso abraço aos desempregados? Estarão os salários de tal modo folgados que os patrões dependem agora dos donativos dos seus empregados para angariar o pão-nosso de cada dia? Será que o capital deixou de usar a inflação para emagrecer salários e pensões? Os impostos deixaram de recair sobre os que trabalham e passaram a sair dos cofres e bolsos capitalistas?
Por muito que se empertigue o dr. Barroso ao proclamar o fim da luta de classes, essa luta existirá enquanto houver explorados e exploradores. Ela tem sido o motor de desenvolvimento das sociedades, é ela que obriga o capitalista ao progresso técnico e tecnológico, é ela que tem feito avançar, ao longo da História, conceitos e valores mais humanos para a condição humana.
Stendhal, grande retratista da nobreza e alta burguesia do Século XIX, em «Vermelho e Negro» pôs na boca de um nobre, dirigindo-se ao plebeu proleta Julien Sorel, um desdenhoso comentário: «Ora essa! Não tem 20 mil libras de renda e permite-se ter um pensamento?...».
Há muita gente neste planeta, milhões e milhões, que não têm sequer uma libra por mês. Mas que se permitem ter um pensamento. E por isso lutam.
A ideia de mais-valia radica na força de trabalho, que nunca é paga segundo o valor que produz mas segundo um «valor patronal», o mais baixo possível, que lhe é atribuído no mercado do trabalho, garantindo ao dono dos meios de produção apropriar-se da diferença – isto é, da mais-valia produzida. A mais-valia é assim – e essa foi a genial descoberta de Marx – o fio de água da nascente que engrossa o caudal dos rios do capital. E dessa apropriação da mais-valia se pode extrair também a razão da luta de classes: o porquê de trabalhar mais e receber menos do que um tempo de trabalho produtivo.
Mas o 1.º Ministro, que dos afãs maoistas da juventude passou directamente ao ardor capitalista mais exuberante, anda agora proclamando, sem uma lágrima de condolências, que a luta de classes morreu: «não é tempo para luta de classes dentro das empresas» – diz ele.
Que diagnóstico poderá explicar as deformações visuais desta retórica gover-namental?
Será que os despedimentos e o desemprego não existem – e se por acaso existissem, o patronato os suavizaria com um carinhoso abraço aos desempregados? Estarão os salários de tal modo folgados que os patrões dependem agora dos donativos dos seus empregados para angariar o pão-nosso de cada dia? Será que o capital deixou de usar a inflação para emagrecer salários e pensões? Os impostos deixaram de recair sobre os que trabalham e passaram a sair dos cofres e bolsos capitalistas?
Por muito que se empertigue o dr. Barroso ao proclamar o fim da luta de classes, essa luta existirá enquanto houver explorados e exploradores. Ela tem sido o motor de desenvolvimento das sociedades, é ela que obriga o capitalista ao progresso técnico e tecnológico, é ela que tem feito avançar, ao longo da História, conceitos e valores mais humanos para a condição humana.
Stendhal, grande retratista da nobreza e alta burguesia do Século XIX, em «Vermelho e Negro» pôs na boca de um nobre, dirigindo-se ao plebeu proleta Julien Sorel, um desdenhoso comentário: «Ora essa! Não tem 20 mil libras de renda e permite-se ter um pensamento?...».
Há muita gente neste planeta, milhões e milhões, que não têm sequer uma libra por mês. Mas que se permitem ter um pensamento. E por isso lutam.