Tão íssima
Assim se informou: discretamente, sem títulos de primeira página, sem destaques, na maioria dos casos sem qualquer referência, num ou dois casos, apenas, com alusões breves, bem escondidinhas, daquelas que só quem muito procure pode encontrar: falo da prisão, pelas tropas dos EUA, de dois jornalistas iranianos no Iraque. Sobre as razões da prisão sabe-se apenas que não se sabe quais são, sabendo-se, no entanto, que os jornalistas serão provavelmente espiões e que, sendo ou não sendo espiões, foram muito bem presos, porque foram presos às ordens do Império e outra coisa não mereciam fazendo o que fizeram que não se sabe o que foi mas foi. Espera-se que não passe pela cabeça de ninguém a peregrina ideia de que há neste caso sombra de violação de quaisquer direitos humanos: nem pensar, o presidente Bush jamais permitiria tal coisa e não há órgão dos media dominantes que não ponha as mãos no lume pelo seu presidente. (Aqui para nós, que ninguém nos ouve - e para maior segredo fecho a confidência entre parêntesis – há quem diga que os dois jornalistas iranianos foram presos para evitar que relatassem atrocidades cometidas por militares norte-americanos, mas está-se mesmo a ver que se trata de propaganda dos antiamericanistas primários que são irmãos dos pacifistas e primos dos comunistas)
Acompanhemos, então, os media dominantes: assobiemos para o ar, cumpramos, utilizando a liberdade de informar de que dispomos, a nobre missão de não-informar ou de desinformar. Democraticamente... E expliquemos como se passam estas coisas, lembrando como a dita liberdade de informar pode assumir diferentes e diversificadas expressões: sendo os prisioneiros quem são e tendo sido presos por quem foram, necessário é que o caso seja tratado de forma discreta. É claro que se se tratasse de dois jornalistas cubanos, presos em Cuba no exercício da profissão na modalidade de activistas terroristas, recorrer-se-ia às grandes manchetes, aos destaques especiais, a tudo o que é necessário para fazer chegar a informação a todos os cantos e recantos do Planeta – e horrorizar toda a gente, especialmente a habitual meia dúzia de intelectuais de esquerda. Assim rezam as regras da comunicação social dominante, a qual, como ela própria não se cansa de nos garantir, é democraticíssima, pluralíssima, isentíssima, independentíssima e imparcialíssima - e nem dorme, a coitada, com a preocupação de bem cumprir os requisitos que lhe permitem ser assim tão íssima.
Acompanhemos, então, os media dominantes: assobiemos para o ar, cumpramos, utilizando a liberdade de informar de que dispomos, a nobre missão de não-informar ou de desinformar. Democraticamente... E expliquemos como se passam estas coisas, lembrando como a dita liberdade de informar pode assumir diferentes e diversificadas expressões: sendo os prisioneiros quem são e tendo sido presos por quem foram, necessário é que o caso seja tratado de forma discreta. É claro que se se tratasse de dois jornalistas cubanos, presos em Cuba no exercício da profissão na modalidade de activistas terroristas, recorrer-se-ia às grandes manchetes, aos destaques especiais, a tudo o que é necessário para fazer chegar a informação a todos os cantos e recantos do Planeta – e horrorizar toda a gente, especialmente a habitual meia dúzia de intelectuais de esquerda. Assim rezam as regras da comunicação social dominante, a qual, como ela própria não se cansa de nos garantir, é democraticíssima, pluralíssima, isentíssima, independentíssima e imparcialíssima - e nem dorme, a coitada, com a preocupação de bem cumprir os requisitos que lhe permitem ser assim tão íssima.