Terminator

Leandro Martins
A gente ri-se, mas a coisa é muito séria. Há graças, mesmo as mais chochas, que devem fazer o cidadão reflectir. Aliás, o próprio professor Marcelo - versão portuguesa de um «professor Pardal» da política doméstica, a quem só falta um «Lampadinha» para brilhar cada vez que ele acerta com uma ideia - já avisou o «Zé povinho», como ele gosta de dizer, que se deve levar a sério algumas palhaçadas com que, regularmente, a opinião pública é brindada pelo rubicundo Alberto João das Ilhas.
Explicava Marcelo, lembrando que o seu correligionário é uma verdadeira «força da natureza» só porque nem sentiu um braço partido após uma ronda pelas capelinhas madeirenses em que terá emborcado umas boas litradas, que João Jardim só dizia o que queria dizer. Acreditamos que sim, aliás habituados que estamos aos políticos de topo de gama cá da praça - e doutras praças - cujas palavras, mesmo as asneiras, não são mais nem menos do que pretendem ser. É assim que o apelo de Jardim deve ser ouvido, já que o homem, tecnologicamente na vanguarda da comunicação, de micro pendurado na orelha, não perorava para os milhares de adeptos que o aplaudiam pouco antes de Marcelo «explicar». Muitos adeptos nem sequer terão percebido o que Alberto João queria dizer, bastava-lhes o fulgor do gesto e o estentor da voz. O homem exigia que «os comunistas» fossem corridos do... aparelho de Estado!
Nem mais. Mas alguém há-de ter percebido a mensagem daquela «força da natureza». Que, mesmo sem «lampadinha» nos atrevemos a descodificar: o que ele pretende é um assalto final - não aos «comunistas no aparelho de Estado», que lá não estão - mas ao que sobra de democrático e de progressista na Constituição de Abril.
É, porém, com estas e outras palhaçadas, que a direita faz caminho. Que o diga o palhaço Reagan, que acabou em Presidente dos EUA. A brincar, a brincar, ainda teremos o «Terminator» na Casa Branca, depois de ter passado, como pretende, pelo cargo de governador da Califórnia.
Safou-se Bob Hope, actor centenário de piada frouxa e de palhaçada muita, sempre querido da mais reaccionária plateia nos EUA. Basta ver-lhe as duas mil e tal condecorações que lhe acompanham o funeral e que jornalistas sem memória ou apenas habituados a apreciarem «Os Malucos do Riso» lhe gabam, afirmando que se tratou de um grande artista.
A gente ri-se, mas a coisa é triste. Também por cá o Terminator espreita.


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