Cerco à capital

Libéria a ferro e fogo

ONU apela aos fim dos confrontos na Libéria, que nos últimos dias provocaram já centenas de mortos entre a população. Os EUA estão prontos a intervir.

Nos anos 90, mais de 200 mil pes­soas mor­reram na guerra civil

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pediu na segunda-feira que as forças internacionais se disponibilizem para enviar um «destacamento urgente» de tropas para a Libéria, onde nos últimos dias morreram mais de 600 civis, segundo o ministro da Defesa liberiano, Daniel Chea.
Os EUA anunciaram de imediato a mobilização de 4500 soldados, estacionados no Senegal e na Serra Leoa, e exigiram que o presidente Charles Taylor abandone o país. Segundo a CNN, a saída de Taylor é uma condição essencial para a entrada das tropas norte-americanas na Libéria.
Em declarações à agência noticiosa Associated Press, o presidente liberiano disse aguardar um contacto directo com a Casa Branca, lamentando que as exigências dos EUA lhe tenham chegado pela CNN.
Apesar de já ter aceite a proposta de exílio que lhe foi feita pela Nigéria, Taylor quer uma resposta à carta que enviou a Bush dando «conta de algumas condições» para se afastar e para sair do país.

Washington adverte rebeldes

O dirigente dos rebeldes liberianos, Sékou Damate Conneh, afirmou por seu turno à agência France Press, no início da semana, que o objectivo do movimento Liberianos Unidos para a Reconciliação e Democracia (LURD) é tomar o «controlo total» de Monróvia, último reduto das forças do presidente. «Isto não deve demorar muito tempo porque há muitas pessoas a sofrerem», declarou Conneh, garantindo que desta vez as suas forças não vão retirar.
Washington exigiu, entretanto, que os rebeldes acabem com os bombardeamentos «irresponsáveis e indiscriminados» na capital liberiana, que atingiram a embaixada norte-americana.
«Se desejam que tenhamos confiança para participarem num futuro governo democrático na Libéria, devem mostrar o seu empenho agora», declarou Philip Reeker, porta-voz-adjunto do ministério norte-americano dos Negócios Estrangeiros, deixando implícito que os EUA se consideram no direito de intervir na formação do novo governo.
As preocupações dos EUA com a «democracia» na Libéria são recentes. Não consta que se tenham empenhado muito nesse sentido nos anos 90, quando mais de 200 mil pessoas morreram na guerra civil que devastou o país.

His­tória san­grenta

O presidente da Libéria, Charles Taylor, que durante 10 anos apoiou os grupos rebeldes que se opõem ao governo da Serra Leoa, foi indiciado em Junho último por um tribunal patrocinado pela ONU por alegados crimes contra a humanidade no país vizinho. Taylor é acusado de fornecer armas e de manter laços com a Frente Unida Revolucionária de Serra Leoa, acusada por assassinatos, estupros e mutilações de dezenas de milhares de civis nos anos 1990, enquanto lutava pelo controle das minas de diamante do país.
Eleito na sequência de uma rebelião que ele próprio liderou, Charles Taylor enfrenta desde 1999 a oposição armada do grupo LURD (Liberianos Unidos pela Reconciliação e pela Democracia), no Norte do país, e desde Março deste ano a acção do MODEL (Movimento pela Democracia na Libéria), no sudeste.
Em 27 de Junho, o principal grupo de revoltosos da Libéria, o LURD, decretou um cessar-fogo para evitar uma «catástrofe humanitária» na capital, Monróvia, mas o acordo foi quebrado e os combates intensificaram-se.
Os rebeldes, que afirmam controlar dois terços do país, exigem que Taylor abandone o poder antes de Janeiro de 2004, quando termina o seu mandato.


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