A burla da salvação
Os problemas das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico começaram com um Governo do PSD, em 1994, recordam Celeste Soeiro e Helder Vieira, contrariando veementemente a ideia de que as medidas financeiras agora anunciadas pelo ministro da Defesa tenham por objectivo salvar a empresa. Depois de assumidos pelo Estado 135 milhões de euros do passivo, a perspectiva é entregá-la ao capital privado.
Os problemas surgiram depois da passagem a SA para privatizar
As notícias sobre a reestruturação financeira, que Paulo Portas anunciou no dia 4, vieram logo acompanhadas de sinais do interesse de grandes grupos em arrecadar o tesouro. A par da assumpção de cerca de 90 por cento da dívida pelo Estado, o Diário Económico adiantava que «privatização das OGMA pode passar pelo Brasil». N’ A Capital, o «parceiro favorito» era o consórcio franco-alemão EADS. A Lusa, por seu turno, notava que numa visita recente às instalações de Alverca, o primeiro-ministro afirmou que «é graças à boa cooperação entre a OGMA, a Força Aérea e a empresa norte-americana Lockheed Martin que se conseguem obter vantagens competitivas».
Na generalidade das notícias refere-se que o ministro da Defesa se mostrou confiante em que «haverá muitos interessados» numa privatização que, pelo que publicou o Diário de Notícias, poderá ir «até 70 por cento».
«Parecem uns caixeiros viajantes, a vender o País», protesta Celeste Soeiro. A dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Civis das Forças Armadas e Indústrias de Defesa critica a postura de Portas e do Governo, recordando que «os problemas da OGMA começaram em 1994, quando o PSD decidiu a passagem a Sociedade Anónima». Helder Vieira, igualmente dirigente do Steffas/CGTP e trabalhador da OGMA, sublinha que «foi depois de 1994 que a empresa começou a ter prejuízos».
O ano da passagem a SA como fronteira para os resultados negativos é igualmente referido, embora sem ter merecido particular destaque, num relatório da Inspecção Geral de Finanças, feito a pedido do Ministério da Defesa e que incidiu sobre os anos de 1999 e 2002. Aí se lê – por exemplo e segundo as informações vindas a lume – que desde 1995 deixaram de ser feitos relatórios trimestrais de gestão e que a fraca fiabilidade dos dados contabilísticos indicia a existência de transacções que não foram contabilizadas pelo valor correcto e no período adequado.
Em 1994, sublinham os sindicalistas comunistas ouvidos pelo Avante!, saíram «mais de mil trabalhadores, incluindo mão-de-obra altamente especializada e o gestor que negociava os contratos tendo apenas em conta o interesse da OGMA».
E a polícia?
«O actual secretário de Estado, Henrique de Freitas, disse que a OGMA era um caso de polícia, mas depois não se soube de mais nada», «ninguém foi chamado à responsabilidade», protesta Helder Vieira, afirmando que «continua a haver situações esquisitas».
Ainda muito recentemente, conta, ficou um avião por acabar, à espera de oito anilhas que tiveram de vir dos EUA. Também não há muito tempo, o ministro Paulo Portas foi assinalar a entrega de dois caças F16, mas só um voou, porque o outro ainda está à espera de ser acabado.
Quando se fala na necessidade de um parceiro estratégico, Helder Vieira contrapõe que já hoje a OGMA tem uma parceria forte com a Lokheed. «Os aviões ficam à espera da logística dos americanos, que não cumpre a sua parte, mas quem é penalizada é a OGMA, quando os prazos não são respeitados», critica o dirigente do Steffas.
Com a mudança de governos não se alteraram os traços da política que coloca interesses privados à frente dos interesses da empresa e do País. Celeste Soeiro recorda as críticas ao número de chefias, mas não se registaram mudanças significativas: «Saíram uns, entraram outros para os substituir, por causa da confiança política, e até duplicaram lugares, quando não conseguiram substituir os antigos.»
Também continua a ser entregue trabalho a empresas externas. «Os deputados do PSD, quando estavam na oposição, mostraram-se surpreendidos com a criação da Listral, mas foram para o Governo e não acabaram com esse negócio, até apareceu mais uma empresa subcontratada na Margem Sul», refere Helder Vieira.
«Tivéssemos nós no Governo gente que zelasse pelos interesses do País e dos trabalhadores, não precisariam andar a vender empresas a retalho», diz Celeste Soeiro, a propósito do entusiasmo com que Paulo Portas abre as portas ao capital estrangeiro. Para a dirigente sindical, «se os governantes estivessem de facto interessados em manter a OGMA como empresa pública e portuguesa, se tivessem colocado à frente da OGMA verdadeiros patriotas, não precisavam de andar agora com esta azáfama toda». Só que «não há interesse em manter a OGMA, mas sim em privilegiar grupos com interesses na OGMA».
Uma jóia da coroa
Celeste Soeiro e Helder Vieira não se cansam de salientar o grande valor da OGMA, uma marca nacional de muito grande prestígio. «Trabalhamos para todo o mundo, temos mão-de-obra especializada e barata, fazemos serviços que mais ninguém faz», diz o dirigente sindical, apontando como exemplos o alongamento do C130 e reparações que exigem cuidados de verdadeiro artesanato.
Nas notícias sobre a reestruturação surgiram vários números ilustrativos de como a OGMA é uma «jóia da coroa»: facturou 75 milhões de euros em 2002 e deverá ultrapassar os cem milhões no ano corrente; o seu parque tecnológico, em Alverca, ocupa cerca de 140 mil metros quadrados de área coberta; 75 por cento da sua actividade é para clientes estrangeiros, firmando recentemente um acordo por 20 anos com a Força Aérea belga; é a única empresa na Europa certificada para reparar aeronaves da brasileira Embraer; é igualmente centro de reparação da Turbomeca (França), da Lockeed Martin e da Rolls-Royce (EUA).
Na generalidade das notícias refere-se que o ministro da Defesa se mostrou confiante em que «haverá muitos interessados» numa privatização que, pelo que publicou o Diário de Notícias, poderá ir «até 70 por cento».
«Parecem uns caixeiros viajantes, a vender o País», protesta Celeste Soeiro. A dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Civis das Forças Armadas e Indústrias de Defesa critica a postura de Portas e do Governo, recordando que «os problemas da OGMA começaram em 1994, quando o PSD decidiu a passagem a Sociedade Anónima». Helder Vieira, igualmente dirigente do Steffas/CGTP e trabalhador da OGMA, sublinha que «foi depois de 1994 que a empresa começou a ter prejuízos».
O ano da passagem a SA como fronteira para os resultados negativos é igualmente referido, embora sem ter merecido particular destaque, num relatório da Inspecção Geral de Finanças, feito a pedido do Ministério da Defesa e que incidiu sobre os anos de 1999 e 2002. Aí se lê – por exemplo e segundo as informações vindas a lume – que desde 1995 deixaram de ser feitos relatórios trimestrais de gestão e que a fraca fiabilidade dos dados contabilísticos indicia a existência de transacções que não foram contabilizadas pelo valor correcto e no período adequado.
Em 1994, sublinham os sindicalistas comunistas ouvidos pelo Avante!, saíram «mais de mil trabalhadores, incluindo mão-de-obra altamente especializada e o gestor que negociava os contratos tendo apenas em conta o interesse da OGMA».
E a polícia?
«O actual secretário de Estado, Henrique de Freitas, disse que a OGMA era um caso de polícia, mas depois não se soube de mais nada», «ninguém foi chamado à responsabilidade», protesta Helder Vieira, afirmando que «continua a haver situações esquisitas».
Ainda muito recentemente, conta, ficou um avião por acabar, à espera de oito anilhas que tiveram de vir dos EUA. Também não há muito tempo, o ministro Paulo Portas foi assinalar a entrega de dois caças F16, mas só um voou, porque o outro ainda está à espera de ser acabado.
Quando se fala na necessidade de um parceiro estratégico, Helder Vieira contrapõe que já hoje a OGMA tem uma parceria forte com a Lokheed. «Os aviões ficam à espera da logística dos americanos, que não cumpre a sua parte, mas quem é penalizada é a OGMA, quando os prazos não são respeitados», critica o dirigente do Steffas.
Com a mudança de governos não se alteraram os traços da política que coloca interesses privados à frente dos interesses da empresa e do País. Celeste Soeiro recorda as críticas ao número de chefias, mas não se registaram mudanças significativas: «Saíram uns, entraram outros para os substituir, por causa da confiança política, e até duplicaram lugares, quando não conseguiram substituir os antigos.»
Também continua a ser entregue trabalho a empresas externas. «Os deputados do PSD, quando estavam na oposição, mostraram-se surpreendidos com a criação da Listral, mas foram para o Governo e não acabaram com esse negócio, até apareceu mais uma empresa subcontratada na Margem Sul», refere Helder Vieira.
«Tivéssemos nós no Governo gente que zelasse pelos interesses do País e dos trabalhadores, não precisariam andar a vender empresas a retalho», diz Celeste Soeiro, a propósito do entusiasmo com que Paulo Portas abre as portas ao capital estrangeiro. Para a dirigente sindical, «se os governantes estivessem de facto interessados em manter a OGMA como empresa pública e portuguesa, se tivessem colocado à frente da OGMA verdadeiros patriotas, não precisavam de andar agora com esta azáfama toda». Só que «não há interesse em manter a OGMA, mas sim em privilegiar grupos com interesses na OGMA».
Uma jóia da coroa
Celeste Soeiro e Helder Vieira não se cansam de salientar o grande valor da OGMA, uma marca nacional de muito grande prestígio. «Trabalhamos para todo o mundo, temos mão-de-obra especializada e barata, fazemos serviços que mais ninguém faz», diz o dirigente sindical, apontando como exemplos o alongamento do C130 e reparações que exigem cuidados de verdadeiro artesanato.
Nas notícias sobre a reestruturação surgiram vários números ilustrativos de como a OGMA é uma «jóia da coroa»: facturou 75 milhões de euros em 2002 e deverá ultrapassar os cem milhões no ano corrente; o seu parque tecnológico, em Alverca, ocupa cerca de 140 mil metros quadrados de área coberta; 75 por cento da sua actividade é para clientes estrangeiros, firmando recentemente um acordo por 20 anos com a Força Aérea belga; é a única empresa na Europa certificada para reparar aeronaves da brasileira Embraer; é igualmente centro de reparação da Turbomeca (França), da Lockeed Martin e da Rolls-Royce (EUA).