«Chaga moral» do nosso tempo
A OIT denunciou segunda-feira em Genebra que «nunca como agora se viu tanta riqueza enquanto tantas pessoas vivem na mais abjecta pobreza».
O número de pobres continua a aumentar nos 20 países mais desenvolvidos, como a Grã-Bretanha, atingindo já 10 por cento da população
O director-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o chileno Juan Somavía, traça no seu relatório à 91.ª Conferência da organização, a decorrer em Genebra, um panorama verdadeiramente aterrador da actual situação.
Segundo o documento, intitulado «Superar a pobreza pelo trabalho», cerca de 3000 milhões de pessoas vivem com menos de dois euros por dia, e destas cerca de 1000 milhões não dispõe sequer de um euro por dia.
O relatório, citado pela agência EFE, revela ainda que o desemprego oficial afecta 180 milhões de pessoas no mundo, o que apesar de ficar aquém da realidade representa o mais elevado nível da história, com a agravante de continuar a aumentar. Àquele número há ainda que juntar cerca de 1000 milhões de pessoas subempregadas.
Esta situação tende a agravar-se com a falta de políticas capazes de dar respostas às novas realidades sociais: entram anualmente no mercado de trabalho 50 milhões de pessoas, número superior ao dos que deixam de trabalhar, sendo que 97 por cento dessa força de trabalho se regista nos chamados países em desenvolvimento. Nestes países, de acordo com o relatório de Somavía, as mulheres e as jovens são ainda mais vulneráveis à pobreza do que os homens, pois dois terços das que trabalham fazem-no na economia paralela, e a maioria nos trabalhos pior remunerados.
Segundo Somavía, o potencial de «coragem, engenho, perseverança e solidariedade» que permite a sobrevivência nestas degradantes condições deveria ser aproveitado na luta contra a pobreza, em alternativa a outras estratégias repetidamente implementadas de cima para baixo. «Os trabalhadores são os verdadeiros empreendedores», defende o director da OIT.
Futuro sombrio
As perspectivas de futuro não são no entanto animadores. Segundo o responsável da OIT, nos próximos dez anos, cerca de 1000 milhões dos jovens que hoje têm entre 5 e 15 anos chegarão ao mercado de trabalho, mas são escassas as possibilidades de virem a conseguir uma ocupação condigna.
O flagelo é generalizado, não poupando sequer os 20 países mais industrializados do mundo, onde cerca de 10 por cento da população vive na pobreza ou mesmo abaixo do limiar da pobreza.
Na América Latina, o número de pobres aumentou em 20 milhões na década de 90, e um quarto da população desses países não dispõe de mais de dois euros por dia. No Médio Oriente e no Norte de África, o número de pobres aumentou entre 50 a 70 milhões, e nos países da Europa de Leste e da Ásia Central esse número triplicou. Na África subsahariana, na mesma década, o aumento do número de pobres foi de 25 por cento, ascendendo aos 500 milhões.
Apenas na China e noutros países da Ásia Oriental se registou uma evolução positiva, embora modesta, tendo o número de pessoas com rendimentos ínfimos baixado de 1100 milhões para 900 milhões, enquanto no Sul da Ásia a situação permanece estável (1100 milhões de pobres).
Enquanto isso, o fosso entre ricos e pobres não pára de crescer. Em 1960 a proporção era de 30 para 1, mas em 1999 ascendia já a 74 para 1.
Para Samovía, num mundo cada vez mais rico, a persistência da pobreza é uma «chaga moral» do nosso tempo.
Segundo o documento, intitulado «Superar a pobreza pelo trabalho», cerca de 3000 milhões de pessoas vivem com menos de dois euros por dia, e destas cerca de 1000 milhões não dispõe sequer de um euro por dia.
O relatório, citado pela agência EFE, revela ainda que o desemprego oficial afecta 180 milhões de pessoas no mundo, o que apesar de ficar aquém da realidade representa o mais elevado nível da história, com a agravante de continuar a aumentar. Àquele número há ainda que juntar cerca de 1000 milhões de pessoas subempregadas.
Esta situação tende a agravar-se com a falta de políticas capazes de dar respostas às novas realidades sociais: entram anualmente no mercado de trabalho 50 milhões de pessoas, número superior ao dos que deixam de trabalhar, sendo que 97 por cento dessa força de trabalho se regista nos chamados países em desenvolvimento. Nestes países, de acordo com o relatório de Somavía, as mulheres e as jovens são ainda mais vulneráveis à pobreza do que os homens, pois dois terços das que trabalham fazem-no na economia paralela, e a maioria nos trabalhos pior remunerados.
Segundo Somavía, o potencial de «coragem, engenho, perseverança e solidariedade» que permite a sobrevivência nestas degradantes condições deveria ser aproveitado na luta contra a pobreza, em alternativa a outras estratégias repetidamente implementadas de cima para baixo. «Os trabalhadores são os verdadeiros empreendedores», defende o director da OIT.
Futuro sombrio
As perspectivas de futuro não são no entanto animadores. Segundo o responsável da OIT, nos próximos dez anos, cerca de 1000 milhões dos jovens que hoje têm entre 5 e 15 anos chegarão ao mercado de trabalho, mas são escassas as possibilidades de virem a conseguir uma ocupação condigna.
O flagelo é generalizado, não poupando sequer os 20 países mais industrializados do mundo, onde cerca de 10 por cento da população vive na pobreza ou mesmo abaixo do limiar da pobreza.
Na América Latina, o número de pobres aumentou em 20 milhões na década de 90, e um quarto da população desses países não dispõe de mais de dois euros por dia. No Médio Oriente e no Norte de África, o número de pobres aumentou entre 50 a 70 milhões, e nos países da Europa de Leste e da Ásia Central esse número triplicou. Na África subsahariana, na mesma década, o aumento do número de pobres foi de 25 por cento, ascendendo aos 500 milhões.
Apenas na China e noutros países da Ásia Oriental se registou uma evolução positiva, embora modesta, tendo o número de pessoas com rendimentos ínfimos baixado de 1100 milhões para 900 milhões, enquanto no Sul da Ásia a situação permanece estável (1100 milhões de pobres).
Enquanto isso, o fosso entre ricos e pobres não pára de crescer. Em 1960 a proporção era de 30 para 1, mas em 1999 ascendia já a 74 para 1.
Para Samovía, num mundo cada vez mais rico, a persistência da pobreza é uma «chaga moral» do nosso tempo.