«Desgastes colaterais» da invasão do Iraque

EUA perdem terreno junto da opinião pública

Sondagem realizada em 20 países por um centro de pesquisas independente revela que a imagem dos EUA se degradou com a guerra contra o Iraque.

Aumenta o número dos que consideram os EUA uma ameaça à paz

Segundo a última sondagem do Pew Research Center, um centro de estudos independente de Washington, envolvendo 160 000 pessoas em 20 países, a maioria da opinião pública mundial tem hoje uma opinião mais desfavorável dos EUA do que antes da invasão do Iraque.
Os resultados do estudo, divulgados na edição do Le Monde do passado dia 5, revelam ainda que aumentou o fosso entre os Estados Unidos e os seus aliados, cresceu o ressentimento no mundo árabe, diminuiu o apoio à luta contra o terrorismo, e fragilizou-se o apoio público à ONU e à NATO, apresentados como os «pilares da ordem internacional» desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Apenas em 7 dos 20 países estudados (mais os territórios palestinianos) os resultados são favoráveis a Washington: Israel (79 por cento), Grã-Bretanha (70 por cento), Koweit (63 por cento), Canadá (63 por cento), Nigéria (61 por cento), Austrália (60 por cento) e Itália (60 por cento).
No extremo oposto situam-se os países muçulmanos, onde é notório o aumento do apoio a Bem Laden: a maioria manifesta-lhe «moderada ou total confiança» para «fazer o que é justo nas questões internacionais». Entre os palestinianos, o principal responsável da Al’Qaeda ocupa mesmo o primeiro lugar entre os dirigentes que inspiram «confiança», enquanto em Marrocos e na Jordânia é colocado em segundo lugar (a seguir a Jacques Chirac), e na Indonésia surge em terceiro lugar.

Um problema com duas faces

Os sentimentos de desconfiança em relação aos EUA continuam em alta na Europa - onde a maioria da opinião pública se opôs à guerra -, apesar de os números desta pesquisa, realizada de 28 de Abril a 15 de Maio, serem agora menos elevados do que em Março, aquando do braço de ferro com a ONU.
Em França, por exemplo, 57 por cento da população tem uma opinião desfavorável dos EUA, valor inferior ao registado em Março (69 por cento), mas bastante superior ao de há um ano (37 por cento). O mesmo se passa na Coreia do Sul, onde 58 por cento se manifesta decepcionado com a fraca resistência iraquiana, tal como na Rússia (45 por cento) e no Brasil, onde a taxa de confiança nos EUA caiu praticamente para metade.
Para a maioria dos inquiridos na generalidade dos países, incluindo os indefectíveis de Washington, o «principal problema é George W. Bush» e não tanto a «América em geral». Apenas a Coreia do Sul contraria esta tendência, com 72 por cento das respostas a considerarem que o problema está no país e apenas 20 por cento a apontarem o respectivo presidente.

Receios acrescidos

Outro dado importante resultante do estudo é o que aponta as Nações Unidas como «uma vítima importante» do conflito. Em França, apenas 37 por cento acreditam que a ONU desempenha um papel importante na preservação da paz (menos 18 pontos do que em Março). Nos EUA esse sentimento é partilhado por 34 por cento da população (menos 20 pontos) e na Alemanha por 46 por cento (menos 27 pontos).
Em contrapartida, aumenta o número dos que consideram os EUA uma ameaça à paz mundial: 72 por cento na Nigéria e no Paquistão, 71 por cento dos russos e dos turcos, e até mesmo 53 por centos dos koweitianos, só para citar alguns exemplos.


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